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Três Lagoas
sexta-feira, 29 de março de 2024

Três Lagoas surgiu da Fazenda das Alagoas

08/06/2012 15h57 – Atualizado em 08/06/2012 15h57

Primeiro nome de Três Lagoas já remetia para potencial hídrico da região

Antonio Trajano dos Santos era dono da Fazenda das Alagoas, antes do surgimento do povoado em volta das três lagoas

Guta Rufino

Fazenda das Alagoas foi o primeiro nome dado à porção de terras onde está encravada a próspera Três Lagoas. O nome já remetia para a localização da área, de recursos hídricos abundantes. A fazenda, que mais tarde mudou para Vila de Três Lagoas até a denominação definitiva, era de propriedade do pecuarista Antonio Trajano dos Santos, cujo nome foi dado à principal avenida da cidade.

De acordo com Rodrigo Pedroso Fernandes, coordenador de Patrimônio Histórico em Três Lagoas, antes de se tornar município, os nomes dados ao povoado já remetiam para a existência de lagoas. Antonio Trajano dos Santos é lembrado, além da avenida principal, por um busto na Praça Santo Antônio, no centro da cidade.

A história não atribui apenas a Trajano o papel de fundador. De qualquer forma, foi o coronel Antonio Trajano dos Santos, nascido em 1854, que se credita o desbravamento da região.

Trajano chegou ao “Sertão dos Garcias”, em Paranaiba, com 16 anos. No início da década de 1890, segue o exemplo de outros pioneiros, como Luís Correia Neves Filho e Protásio Garcia Leal, e se estabelece onde hoje está localizada a cidade.Instala-se no Campo Triste, no “Retiro das Telhas”, com a esposa, Maria Lucinda Garcia de Freitas (neta de Januário Garcia Leal Sobrinho). Anos depois, transfere-se para o Córrego do Palmito, onde vive até 1893.

Nesse ano, adquire a “Fazenda das Alagoas”, de propriedade de Cândido Roldão e João Elias. Ergue ali sua primeira residência, chamada de “Laranjal”, às margens da maior das três lagoas do local.

A expansão da bem-sucedida criação de gado – o primeiro ciclo econômico local -, o início do comércio e a vinda de colonizadores garantiram o surgimento de um povoado ao redor de sua propriedade. Já então, cedia pequenas faixas de terra aos imigrantes recém-chegados. Entre 1902 e 1905, cerca de 700 pessoas se estabeleceram ao redor da Lagoa Maior.

Devoto de Santo Antônio, a crença de Antônio Trajano dos Santos fez que doasse parte de suas terras para a criação do Patrimônio de Santo Antônio das Alagoas, primeiro nome de Três Lagoas. Em 1914, onde antes havia erguido uma capela em dedicação a Santo Antônio, foi criada a Igreja de Santo Antônio.

BATIZADO

Com o início das obras da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, o governo do estado desapropria 3.600 hectares de terra da Fazenda das Alagoas, devido ao aumento do número de moradores. É então que o patrimônio recebe o nome de “Três Lagoas”, contando, a esta altura, aproximadamente, 1.200 moradores. Em junho de 1914, o povoado é elevado a distrito.

Com a desapropriação de suas terras, Antônio Trajano Pereira dos Santos então abandona a a região e se estabelece nas proximidades de Pouso Alto, no atual município de Água Clara, no alto rio Sucuriú, na Fazenda Córrego Fundo de sua posse, com mais de 30 mil hectare. No local, falece em 1935, aos 81 anos de idade, e lá é sepultado.

FUTURO

A julgar pela história do fundador, hoje pode-se dizer que o crescimento e as posições de vanguarda, sempre acompanharam a história do município. Hoje Três Lagoas não é apenas a quarta cidade do Estado, mas o 25º município mais dinâmico do Brasil. A colonização, partir de 1915, ocorreu sob a liderança de três personagens – Luís Correia Neves Filho, Antônio Trajano dos Santos e Protásio Garcia Leal.

Três Lagoas é considerada uma cidade moderna, não possui bolsões de pobreza e tem os melhores indicadores sociais e econômicos comparado aos demais municípios de Mato Grosso do Sul e desde o início foi um ponto de arrecadação fiscal.

No início do século XX, por exemplo, a propriedade de Antônio Trajano dos Santos, denominada Fazenda das Alagoas, à margem esquerda do Ribeirão Palmito, tinha o apelido de Coletoria, devido ao posto fiscal estadual ali implantado para a taxação da pecuária.

FERROVIA

Trajano dos Santos também cedeu áreas para a ferrovia. Suas terras foram cortadas em diagonal e o primeiro acampamento de engenheiros às margens da Lagoa Maior surgiu em 1909.

A região iniciou nesse período a fase de colonização; Ao norte do Rio Sucuriú, chegava Jovino José Fernandes, que se tornou dono de uma grande plantação de cana-de-açúcar e destilaria, um dos homens mais ricos do local. Ao sul do mesmo rio, no distrito de Garcias, o mineiro de Uberaba, José Silvério Borges, estabelecia-se com sua esposa, Inocência Maria da Abadia, natural de Jataí, Goiás.

Em 1910 foi desencadeada, pelo acampamento de engenheiros, a edificação de várias moradias, desenvolvendo um novo povoado. Havendo sua propriedade sido dividida em duas metades triangulares, a parte entre a ferrovia e o Rio Sucuriú, Antônio Trajano dos Santos doa o povoado. Foram cerca de quarenta alqueires, instalando-se aí uma praça, onde foi construída uma igreja em homenagem a Santo Antônio, proclamado padroeiro do local. Oscar Guimarães desenha urbanisticamente a infante Três Lagoas. Justino Rangel de França, funcionário da Construtora Machado de Melo & Cia, demarcou o sítio urbano.

Três Lagoas recebe o fluxo de muitos migrantes, como os mineiros Coronel Antônio de Sousa Queirós, Bernardino Caldeiras e o Dr. Sebastião Fenelon Costa. Estes três últimos abrem o armazém Bernadino & Cia. João Carrato constrói o Hotel dos Viajantes, primeiro hotel da cidade. Em meados da mesma década de 1910, chega o sírio Martins Rocha. Ao norte do Rio Sucuriú, havia o Capitão Benevenuto e seus filhos, Misael Garcia Moreira e João Moreira; e Francisco Salles da Rocha, criador de um estabelecimento para pernoite para tropeiros.

O distrito foi criado pela lei nº 656 de 12 de junho de 1914, pertencente a Sant’Anna do Paranaíba. A Vila de Três Lagoas cria-se pela lei estadual nº 706, de 15 de junho de 1915, ainda parte da Comarca de Paranaíba, mas, emancipada politicamente. É nomeado o intendente-geral interino, Sebastião Fenelon Costa, assim como os primeiros vereadores. Torna-se município em 8 de agosto do mesmo ano de 1915, quando são realizadas eleições para a presidência da Câmara Municipal, tendo sido eleito para dirigir o Legislativo o coronel Antônio de Sousa Queirós e para vice-presidente o advogado Generoso Alves Siqueira. O desmembramento da comarca de Paranaíba acontece em 27 de dezembro de 1916, através do Decreto de Lei nº. 768, tomando posse do município as autoridades nomeadas pelo governador.

Em 10 de outubro de 1920, Elmano Soares lança, com Bernardo de Oliveira Bicca, o primeiro número da Gazeta do Comércio, o primeiro jornal semanal do então estado de Mato Grosso. Através de sua maneira polêmica e politizada de escrever, Elmano Soares sofre perseguição política por seus artigos, tendo de se afastar de seu jornal e de Três Lagoas algumas vezes para preservar sua vida. O jornal, no entanto, torna-se um dos mais respeitados na região.

ÁREA DE SEGURANÇA

A vila de Três Lagoas recebe foros de cidade pela Resolução nº. 820, de 19 de outubro de 1920, durante o governo de Dom Francisco de Aquino Corrêa. Comemora-se, no entanto, em 15 de junho, a emancipação política de Três Lagoas. Ainda no início da década de 1920, a área restante do município, cerca de três mil e seiscentos hectares, é doada pelo governador do então estado de Mato Grosso, Celestino da Costa. O terreno é demarcado em 1921 pelo engenheiro Sampaio Jorge e loteada como área suburbana.

Na década de 1960, inicia-se a construção, pela CESP, da Usina hidrelétrica Engenheiro Sousa Dias (Jupiá). Localizada no Salto de Urubupungá, quando de sua finalização, no ano de 1974, era a maior usina hidrelétrica do Brasil. Em 1978, foi ultrapassada por Ilha Solteira e, em 19
82, também por Itaipu. Hoje, continua figurando entre as maiores (oitava e nona poições), sendo considerada muito eficiente, uma vez que sua área alagada é pequena em relação à energia por ela produzida.

Sua posição estratégica e sua proximidade a uma fonte de energia elétrica tão importante para o país foram motivos para que o município de Três Lagoas, durante a ditadura militar, fosse considerada “Área de Segurança Nacional” pelo Decreto-Lei n° 1105, de 20 de maio de 1970. Os prefeitos passaram a ser nomeados pelo governador do estado, mediante aprovação do presidente da República.

Não havia a figura do vice-prefeito e, caso ocorresse a vacância da Prefeitura, assumia interinamente de acordo com a Lei Orgânica dos Municípios o presidente da Câmara Municipal, até que o novo prefeito fosse nomeado e empossado. Os três-lagoenses somente voltaram a eleger seus prefeitos em 1985.

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Busto de Antonio Trajano dos Santos na praça da Igrejinha Santo Antonio. (Foto: Edmir Conceição)

Avenida Antonio Trajano dos Santos no fim da década de 1915. (Foto: Fares Zaguir)

Centro de Três Lagoas

Estação ferroviária de Arapuá.

Ponte ferroviária sobre o rio Paraná, uma das obras de arte da engenharia mais antigas de Três Lagoas.

Essa era a paisagem rural de Três Lagoas há quase 100 anos.

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