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quinta-feira, 28 de março de 2024

Com “nervos à flor da pele”, demitidos não recebem e prometem fazer quebra-quebra em Três Lagoas

04/12/2014 15h58 – Atualizado em 04/12/2014 15h58

O sindicato da categoria confirma que centenas de trabalhadores ainda não receberam e estão nervosos; hoje, o Consórcio (comandado pela Galvão Engenharia) teria prometido resolver a situação

Léo Lima e Ricardo Ojeda

“Os funcionários que estão demitidos e estão sem rescisão [contratual ainda não paga] e não foram enviados para as suas cidades (a maioria dos demitidos são oriundos do nordeste brasileiro) estão em estado de nervos, ameaçando as pessoas da cidade [Três Lagoas] e os poucos funcionários que ainda restam, acredito que entre esta sexta-feira e segunda eles vão botar fogo em tudo e fazer a maior bagunça na cidade (…)”. O alerta é de um operário que ainda está no canteiro de obras da Fábrica de Fertilizantes (Fafen) da Petrobrás, que está sendo construída em Três Lagoas, preocupado com a situação contumaz de descumprimento de acordo por parte das empresas que fazem parte do Consórcio UFN3 na questão de pagamento dos salários e principalmente da rescisão contratual, entre outras obrigações trabalhistas.

Pedindo para não ser identificado para não sofrer possíveis retaliações, o reclamante afirma, em mensagem enviada à redação do Perfil News na manhã desta quinta-feira (04), que o Consórcio vem informando que o descumprimento com as obrigações financeiras com fornecedores e em especial com os trabalhadores se deve ao posicionamento da Petrobrás que, por conta da Operação Lava Jato desencadeada pela Justiça e Polícia Federal, cancelou todos os pagamentos às empresas que estão envolvidas na investigação. A Galvão Engenharia é uma das empresas citadas na operação referida. Ela, junto com a empresa Chinesa Synopec, também apontada pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa como outra envolvida, são responsáveis pelo Consórcio UFN3; a primeira comanda o grupo.

A afirmação do reclamante foi confirmada no final da manhã de hoje (04) pelo Sintiespav (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil Pesada do Bolsão Sul-mato-grossense). De posse da mensagem do trabalhador, a reportagem do Perfil News procurou o presidente Nivaldo da Silva Moreira, que prontamente atendeu a equipe, esclarecendo questionamentos e até adiantando o que a entidade já realizou para amenizar a situação crítica, em termos financeiros, dos demitidos. “Não temos a certeza e nem queremos saber de quem é a culpa [Consórcio ou Petrobrás] do não cumprimento das obrigações trabalhistas, mas vamos até o fim para brigar pelos direitos dos trabalhadores”, garantiu Nivaldo.

Segundo o presidente, o que o reclamante diz sobre o descontentamento dos demitidos e que não receberam os pagamentos não está longe da realidade. ‘Não acredito que seja mentira [a afirmação do comunicante]. Estamos acompanhando o que está acontecendo com relação à Operação Lava Jato, mas nossa preocupação são os trabalhadores que não recebem os pagamentos, seja por conta do bloqueio das empresas envolvidas ou por qualquer outro motivo; eles [trabalhadores] não podem ficar sem receber pelos serviços que já prestaram”, avaliou.

Nivaldo também colocou que o sindicato está buscando uma solução para a questão de descumprimento das obrigações do Consórcio com os trabalhadores. “Em 15, 20 dias esperamos uma solução; os nervos [dos demitidos] estão à flor da pele. O Consórcio nos falou que tem [dinheiro] para receber da Petrobrás; a Petrobrás, por sua vez, diz que já pagou tudo. A solução que buscamos, que é o cumprimento com o acordado com os trabalhadores demitidos, só deverá realmente acontecer em uma reunião entre o Consórcio, representantes da Petrobrás e nós do sindicato. Esse evento está sendo negociado pelo promotor Paulo Roberto Aseredo, do Ministério Público do Trabalho”, revela o presidente do Sinttgiespav.

AÇÃO IMEDIATA

Enquanto os trabalhadores não recebem as rescisões contratuais, o Sindicato agilizou, como opção de recebimento de algum recurso financeiro, a homologação das rescisões trabalhistas dos demitidos que procuram a entidade. “Com isso, eles podem receber a multa do FGTS e dar entrada no Seguro Desemprego”, enfatizou Nivaldo.

O trabalhador comunicante ao Perfil News disse ainda que outros benefícios, como o Vale Refeição e o Vale Alimentação, também não estão sendo cumpridos, assim como Auxílio Moradia. “O vale ‘refeição’ varia de acordo com o mês, mas é na faixa de R$ 850. O vale ‘alimentação’ é por volta de R$ 350. Não sei precisar o número de pessoas que recebem o ‘moradia’, mas acredito que 50% dos funcionários são de fora de Três Lagoas, e o acordo coletivo prevê esse benefício. Com certeza, todos estão devendo aluguéis na região”, colocou a fonte.

QUEBRA-QUEBRA

De acordo com o Sindicato, mais de 200 trabalhadores demitidos estão em situação crítica. “Um grande volume de trabalhadores demitidos assinaram rescisão contratual no dia 3 de novembro e até agora estão sem receber”, denuncia Nivaldo Moreira. Conforme ele, no site (canteiro de obras da Fafen), a informação é de que perto de 1.200 trabalhadores estão no local, mais outros 400 alojados na cidade.

Fonte do canteiro de obras informa que no site, nesta tarde (04), estão 800 trabalhadores e no comodato (alojamento da UFN3 em uma fazenda próxima ao canteiro de obras) outros 500, que foram demitidos e logo deverão “descer” para a cidade, sendo acomodados em hotéis e alojamentos.

“Podemos ter um Natal de preocupações, pois os demitidos, sem dinheiro e sem condições de voltarem para suas terras [estados de origem], podem se revoltar e colocar a cidade em polvorosa”, adiantou Nivaldo Moreira, preconizando situações de confronto. O quebra-quebra anunciado pelo trabalhador que enviou mensagem ao Perfil News, com provocações de incêndios no alojamento e até em pontos da cidade, pode transformar o fim de ano tumultuado em Três Lagoas.

O sindicalista, Nivaldo da Silva Moreira, Presidente do Sintiespav disse ao Perfil  News que a situação é preocupante (Foto: Léo Lima)

Enquanto os trabalhadores não recebem as rescisões contratuais, o Sindicato agilizou, como opção de recebimento de algum recurso financeiro, a homologação das rescisões trabalhistas dos demitidos que procuram a entidade (Foto: Reprodução)

No auge da obra, o Consórcio chegou a empregar mais de 8 mol colaboradores (Foto: Ricardo Ojeda/Arquivo)

Alojamento Comodato já foi incendiado em junho do ano passado devido a greve por melhores salários e novamente trabalhadores que ainda não receberam as rescisões ameaçam novo atentado (Foto: Ricardo Ojeda/Arquivo)

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