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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Estiagem prejudica saúde de animais e pessoas e traz desafios para alimentação e hidratação

20/07/2018 16h41

Seres humanos e animais sofrem os efeitos da seca, que deve ser maior do que a registrada no ano passado; capivaras da Lagoa Maior sentem a redução do alimento e passam a transitar pela cidade em busca de comida, correndo o risco de atropelamento; prefeitura estuda plano de emergência para irrigação

Gisele Berto

Não precisa ser meteorologista para saber que o tempo está seco. Muito seco. Nas calçadas e áreas públicas a grama seca dos jardins denuncia que não chove há tempos. Para ser mais exato: há 65 dias Três Lagoas não vê a cara da chuva.

A última vez que choveu na cidade foi em 16 de maio, de acordo com dados do meteorologista Natálio Filho. Ainda assim, foi uma chuvinha fraca: 3mm de acumulação.

De acordo com o meteorologista, é normal passar períodos de mais de 30 dias de seca entre o outono e o inverno. No entanto, este ano devemos passar mais dias sem chuvas do que no ano passado: em 2017 foram 68 dias sem chuvas. Em 2018 já chegamos a 65 dias de seca – e a má notícia é que não há previsão de que chova tão logo.

O INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – emitiu hoje, 20, alerta laranja sobre a região do Mato Grosso do Sul, considerando que os índices de umidade relativa do ar estejam abaixo dos 20% o que, na prática, já significa a adoção de algumas medidas de controle, como reduzir as atividades físicas e trabalhos ao ar livre entre 10 e 16h.

A seca ocasiona uma série de problemas e é preciso lidar com eles. A saúde dos seres humanos fica prejudicada, especialmente o sistema respiratório. A estiagem é propícia para o aparecimento de conjuntivites e crises de sinusite.

Ainda há o aparecimento das queimadas, que tornam a coisa ainda mais difícil e retira a pouca umidade que existe no ar.

Bicho que sofre

Quem tem animais tem que ficar ainda mais alerta, tantos os domésticos quanto os de grande porte. Como eles não podem simplesmente se servir de água dependem de nós para mantê-los hidratados e saudáveis.

A veterinária Ana Carolina Alves Correa, da DrogaVET, em Campo Grande, falou ao Perfil News sobre a importância de trocar a água e trocar alguns hábitos, especialmente os passeios. “Os donos de animais precisam tomar o cuidado de manter sempre água disponível e fresca, porque a água esquenta com o tempo. Não pode deixar aquela água quente para eles”. Além disso é preciso evitar sair com o animal para passear em horários mais críticos de sol. “O ideal é passear só antes das 8h da manhã e depois das 16h”, afirma a veterinária. De preferência, levar uma garrafinha de água para oferecer durante o passeio ou, após o passeio, sempre oferecer água.

Além disso, a veterinária afirma que o tempo seco tende a piorar, de maneira geral, a saúde dos animais, porque favorece a queda da imunidade, e os donos precisam ficar quanto ao aparecimento de doenças como gripes e complicações respiratórias e do trato intestinal.

Para os animais de grande porte, como cavalos, a dica é semelhante: manter água limpa disponível. Além disso, cuidar se o pasto é suficiente porque, justamente pela falta de irrigação, já uma queda de produção de pasto. “É muito difícil e caro fazer irrigação para manter o pasto em tempos de seca. Então, o que se recomenda é a suplementação, disponibilizando sal mineral ou com fardos de feno enquanto o pasto não se recupera.

O caso das capivaras

Quem passeia pela Lagoa Maior percebeu que a seca atingiu em cheio o gramado do entorno, reduzindo muito a alimentação das capivaras que moram lá. Em decorrência disso, muitos animais saem da Lagoa e são vistos andando pela cidade em busca de alimento. Alguns acabam atropelados.

Nesta sexta-feira o Perfil News recebeu fotos de montes de folhas de palmeiras que foram colocados para as capivaras se alimentarem, enquanto o gramado está seco. A atitude, simples e prática, é correta de acordo com a veterinária que foi fonte nesta matéria.

A Secretaria de Meio Ambiente afirma que o ato não foi iniciativa da administração pública e adverte do perigo da população alimentar os animais silvestres. Em nota, a Prefeitura afirmou que “geralmente, as palmeiras soltam as folhas secas, que não são apreciadas pelas capivaras. Assim, logo são recolhidas pela equipe de limpeza. As gramas mais próximas a lagoa tendem a permanecer vivas, bem como existem as plantas aquáticas que também servem de alimento para as capivaras”.

A SEMEA ainda afirma que, “apesar do aspecto visual das áreas gramadas estar bastante seco, não está muito diferente do que já ocorreu em outros anos na lagoa”. Até agora, “a Secretaria não fez nenhuma intervenção no sentido de fornecer alimentos para as capivaras e tem acompanhado a situação, assim como já é de rotina da pasta monitorar as áreas verdes”.

A Secretaria pede, ainda, que a população não forneça alimentos aos animais da lagoa, pois são animais silvestres nativos, adaptados as variações ambientais da região, pois pode ocorrer o risco do fornecimento de algum alimento não recomendado, ocasionando, até mesmo, a morte do animal.

E a SEMEA completa: “mediante a extensão do período de estiagem, a Secretaria de Meio Ambiente estuda uma ação de irrigação em alguns pontos na orla. Assim, será feito um teste durante período diariamente para avaliar a efetividade da ação, pois como o clima está muito seco e quente, há propensão de que a irrigação não apresente resultados eficazes quanto à umidade local necessária”.

As plantas da Lagoa

O problema do entorno da Lagoa, no entanto, é justamente com o gramado, que é o pasto das capivaras. Segundo a SEMEA o plantio das demais espécies de árvores e mudas foi feito nas épocas chuvosas do ano, principalmente no início da estação, início de outubro, de modo que as mudas puderam se estabelecer e enfrentar a estação seca sem maiores cuidados. Outro fato que colabora para adaptação das plantas é a utilização de espécies nativas, geneticamente adaptadas às condições climáticas da região.

No entanto, algumas árvores ainda não estão em estágio de desenvolvimento que permita suportar a seca. Por isso, a prefeitura possui cronograma de irrigação mantendo a frequência uma vez por semana para mudas mais desenvolvidas e diariamente para as mudas plantadas no início do ano na Lagoa Maior.

Animais sofrem com a falta de comida na Lagoa Maior. Período de estiagem já promete ser maior que o do ano passado. Foto: Ricardo Ojeda

Veterinária Ana Carolina Alves Correa deu conselhos importantes para manter os animais domésticos e de grande porta saudáveis durante o período seco. Foto: Divulgação.

Folhas de palmeiras foram colocadas em trechos da lagoa para que servissem de alimentação às capivaras. Foto enviada à redação por leitor.

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