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“Se pudesse faria tudo de novo”, diz juiz Odilon de Oliveira

25/04/2017 15h02

Ameaçado de morte por causa das centenas de condenações a traficantes, o juiz federal, Odilon de Oliveira paga um preço muito alto para dureza da sua caneta; a sua liberdade

Ricardo Ojeda e Guta Rufino

O juiz federal Odilon de Oliveira é um homem predestinado para servir à sociedade. A história do magistrado mostra inúmeros desafios que começaram desde a sua infância. Seus pais, de origem humilde, foram rigorosos na educação dos filhos (oito no total). Aos quatro anos, sua família, para fugir da seca, veio para o sul, deixando para traz a cidade de Exu, no sertão pernambucano.

E foi de uma propriedade rural, comprada aqui no estado que seus pais tiraram a renda para sustentar a família e educar os filhos. Odilon dividia seu tempo trabalhando na roça e a noite estudava, às vezes iluminado pela luz de uma lamparina.

MUDANÇA

O tempo passou e aquele rapaz que trabalhava na roça mudou-se para a cidade, onde começou estudar direito, formando-se com louvor, e após dois anos advogando, prestou concurso para procurador federal, classificando-se em 2º lugar. Não satisfeito, tentou mais um concurso para promotor de justiça, passando em excelente posição. Não contente prestou a prova para juiz estadual; conquistou a segunda posição. Mas resolveu tentar mais um concurso, para a magistratura federal, onde está até hoje.

Atualmente, com 68 anos e com mais de 30 atuando na magistratura, Odilon de Oliveira notabilizou-se nos meios jurídicos como um juiz linha dura, responsável pela condenação de muitos traficantes, como destaque, o Fernandinho Beira Mar, entre outras centenas de traficantes, que perderam mais de 280 imóveis, 761 veículos e 27 aeronaves.

LIBERDADE CERCEADA

Essa linha dura do juiz lhe custou muito, principalmente à sua liberdade. Jurado de morte pelos traficantes, para preservar sua vida, teve que por anos dormir sobre um colchonete na sala de audiência do Fórum em Ponta Porã. Anda constantemente escoltado por agentes da Polícia Federal. Esse é o preço que ele paga por ter pulso firme e caneta dura na aplicação da pena. Mesmo com tudo isso, ele diz que não se arrepende e que faria tudo de novo.

A história da vida de Odilon de Oliveira é tão rica em fatos que rendeu até um filme, “Em nome da Lei”, que faz um breve resumo do histórico do magistrado.

O Juiz Federal mais ameaçado do Brasil está em Três Lagoas para cumprir uma agenda de palestras motivacionais que fará aos alunos de uma escola pública e a noite desta terça-feira em uma faculdade. Cercado de policiais federais, para sua segurança, ele conversou com exclusividade na manhã desta terça-feira (25), com o Perfil News.

SUPEROU AS EXPECTATIVAS

Durante a conversa, o juiz relembrou sua infância e toda a maré que nadou contra para chegar hoje a posição que está. “O que eu esperava era o mesmo que minha família – fugitiva da seca. Esperava sobrevivência. E sobrevivi; superei minhas expectativas, não esperava nem ser alfabetizado, não almejava o cargo que tenho hoje. Mas sou grato. Tudo que fiz, vivi; até o que sofri; valeu à pena”.

O JUIZ DO POVO

Ele também falou sobre como as pessoas o veem e como ele realmente é. “Não sou uma estrela. Toda vez que ouço isso de alguém, me lembro do seguinte pensamento: ‘O sol não brilha para si próprio, ele brilha para as pessoas’. O juiz é um servidor público, e seu brilho tem que ser em favor da sociedade”, frisou.

Sobre os jovens que hoje estudam para seguirem uma carreira jurídica, Odilon comenta: “O sucesso depende de cada um. Cada pessoa é responsável, seja pelo seu sucesso ou seu insucesso. O importante é o trajeto. É o trajeto entre o começo e o fim que vai marcar quem você quer ser. O estudante de hoje – seja de qual área for -, pode ser quem ele quiser no futuro”.

LAVA JATO

“O bom trabalho de qualquer profissional inspira à sociedade”. Odilon frisou a frase numa referência direta ao colega Sergio Moro, ele disse que ele vem fazendo um bom trabalho, inspirando o Brasil inteiro, principalmente a juventude. “Cada assinatura que o Moro faz em sua sentença, significa uma renovação de esperança, de fé para o povo brasileiro. Ele já deve ser responsável por centenas de condenações de ladrões, da saúde, da educação, da segurança da população”.

APOSENTADORIA

Uma das perguntas mais recorrentes a Odilon é sobre sua aposentadoria ser um possível recomeço de sua vida em uma carreira política. A resposta continua a mesma: “Sou um servidor público. Estou à disposição da sociedade, mesmo depois que me aposentar. Ela quem vai escolher o caminho que devo seguir”, anunciou mais uma vez, já adiantando que na política, sua preferência está de acordo com seu perfil: o legislativo. Ele só não sabe ainda se deve seguir para a câmara dos deputados ou o senado federal.

O juiz ainda falou sobre a possibilidade de atuar em uma entidade de recuperação de dependentes químicos. “O que eu não posso é ficar parado, sentado, sem fazer nada a favor da sociedade”, disse.

AGENDA

O Juiz Odilon, junto de seu filho Odilon Junior, vai realizar palestras motivacionais no período da tarde, para alunos de escolas do município. Juntos, eles possuem um projeto de conscientização que tem como tripé: o fortalecimento da família, combate às drogas e a valorização da escola. “É o único caminho para se obter o sucesso”, pontuou.

Já nas universidades UFMS e AEMS, eles vão falar sobre a carreira jurídica. Entre os temas estará a valorização do advogado para a desburocratização da justiça. Eles também vão abordar o tema do momento, ainda mais com essa fase da Operação Lava Jato, a corrupção, onde será feita a apresentação de dados numéricos sobre os efeitos na educação, habitação e saúde, além das penas cabíveis aos servidores.

Junto com seu filho, Odilon Junior, o magistrado recebeu com exclusividade a reportagem do Perfil News na área de lazer do hotel onde está hospedado (Foto: Guta Rufino)

O juiz federal, Odilon de Oliveira disse que a legislação deve sofrer alterações:

"Se pudesse faria tudo de novo", diz juiz Odilon de Oliveira

O juiz Odilon é um homem jurado de morte pelos traficantes e por isso anda com escolta da Polícia Federal 24 horas por sia (Foto: Ricardo Ojeda)

"Se pudesse faria tudo de novo", diz juiz Odilon de Oliveira

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