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quinta-feira, 28 de março de 2024

Na capital mundial da celulose, a pesca ainda sobrevive e gera renda a três-lagoenses

29/06/2015 18h04 – Atualizado em 29/06/2015 18h04

Com 45 anos de profissão, casal de pescadores que moram no Jupiá, falam das dificuldades de perpetuarem uma atividade nos dias atuais e são homenageados nesta segunda-feira (29), no dia do Pescador

Patrícia Miranda

O desenvolvimento de Três Lagoas teve vários ciclos, começando pela pecuária, construção da estrada de ferro Noroeste do Brasil, construção Hidrelétrica de Jupiá, chegando à industrialização, através da produção de celulose. A sociedade local teve que conviver e adaptar-se aos costumes da época na busca de uma colocação no mercado de trabalho.

Porém, uma das muitas profissões que não se rendeu à modernidade e ainda mantém a atividade em alta é a de pescador. No bairro Jupiá, localizado na barranca do rio Paraná, é onde se encontra a maior concentração de pescadores, que faz da pesca seu meio de sobrevivência.

Segundo pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), do Censo Demográfico em 2010, havia em Três Lagoas, cerca de 4.207 homens e mulheres, que sobreviviam da pesca. Na pesquisa são contabilizadas também outras ocupações como a agropecuária, florestais e caça.

Para homenagear uma profissão que tem relatos da pré-história e que sobrevive ainda nos dias atuais, no século XXI, o Perfil News visitou um casal profissional da pesca, que ganhou seu sustento singrando as águas do “Paranazão” durante anos e conseguiu sustentar os cinco filhos através da atividade.

A reportagem encontrou o casal de pescadores Mauro Mendonça e Maria Izabel de Melo para contar um pouco da história de vida, que está aliada à pesca familiar. Ele vindo de Penápolis-SP e ela de Presidente Venceslau-SP, ambos escolheram Três Lagoas para trabalhar e criar os filhos.

O casal contou que mora há quase 30 anos no Jupiá e que vieram para Três Lagoas cheios de esperança. “Maurão” como prefere ser chamado, apostou na região porque considerava a pesca atrativa. “A variedade de peixe de água doce era grande na época, tinha pacu, dourado, jaú, piapara e curimba, cascudo, mas hoje tem diminuído”, recordou. Segundo ele, a “garotada” não tem mais pensado em perpetuar uma profissão tão antiga.

O casal teve cinco filhos e todos foram sustentados através dessa atividade, mas apenas um sobrevive exclusivamente da pesca. “De todos os meus filhos, somente o mais velho ainda é pescador. Há dias que ele consegue tirar uma boa quantidade, mas ultimamente está complicado”, lamentou Maurão.

No ano passado, Maurão se aposentou, mas mesmo assim não abandonou o amor pelo que sempre fez. “Aposentei-me, mas não consigo abandonar, de vez em quando vou para o rio pescar porque me sinto muito bem. Isso me relaxa”, afirmou.

Maria Izabel comentou que atualmente está aposentada e lembrou que acordava cedo para pescar. “Despertava cinco horas da manhã e às vezes não tinha hora para chegar. Havia dias de fartura e outros nem tanto. Precisava sobreviver e sustentar minha família. Hoje tenho orgulho em dizer que foi através da pesca que meus filhos foram criados”, disse Maria Izabel.

DIFICULDADES

Segundo Mauro, a falta de peixe é recorrente principalmente em época de seca, quando o cardume desce, período que vai de junho a setembro. “Até tínhamos que sair daqui para pescar em outro lugar, como em Corumbá, Miranda e Coxim. A maioria dos pescadores ia para essas localidades e retornava quando fechava a pesca”. Ele acredita que apenas 45% estejam vivendo exclusivamente da pesca no Jupiá. Segundo ele, os principais motivos seriam a escassez de peixe e material de pesca muito caro.

Para auxiliar a colônia de pescadores do Jupiá, uma cooperativa está em construção. Maurão acredita que em até dois meses haverá a inauguração. “Serão em média 420 profissionais da pesca que estarão filiados. Serão criadas tilápias, pois o seu tempo de abatimento é de quatro meses, o que para nós é bastante viável. Estamos aguardando a finalização do projeto”, disse Maurão.

“Escolhi essa profissão e me orgulho muito, então tenho muito a comemorar nesta data, pois foi dessa atividade que criamos nossos filhos e até nossos netos. Quero comemorar muitos anos ainda”, exaltou Maurão.

Dentro do barco, o casal

Pescadores há 45 anos, o casal Maurão e Maria Izabel, se orgulham de serem pescadores. (Foto: Patrícia Miranda)

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