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Pintor registrado com nome de mulher consegue mudar documentos após 40 anos

12/08/2017 09h24

Marcos Naves deixou de estudar e trabalhar em empresas privadas devido aos constrangimentos que passou. Para casar, teve que mentir para o sogro dizendo que tinha perdido documentos.

Redação

Um morador de Palmas nasceu, cresceu e por 40 anos viveu constrangimentos devido ao nome que recebeu e um erro do cartório. É que ele foi registrado como Cleidilane Naves, em 1977, no município de Buriti Alegre (GO). Além disso, no registro de nascimento consta que o pintor Marcos Naves é do sexo feminino.

Todo o problema começou quando o pai dele foi até o cartório e informou o nome do filho, mas o escrivão não perguntou o sexo e devido ao nome pensou que fosse uma menina. A vida do pintor só mudou após uma sentença do juiz Ronicley Naves de Morais, da 4ª Vara da Fazenda Pública, determinando que o nome seja alterado para Marcos Naves, como ele sempre foi chamado.

Naves entrou com o processo para mudar de nome em 2012 e a decisão foi tomada quase cinco anos depois, no final de julho deste ano. O constrangimento durante a vida foi tanto que o pintor deixou de estudar e trabalhar em empresas privadas.

“Parei de trabalhar em empresas pelo constrangimento e passei a trabalhar por conta própria. Teve uma vez que olharam o nome e correram pensando que era uma mulher que estava trabalhando em cima dos andaimes. Imagina esse constrangimento no meio de um monte de peão.”

Na escola, a vida dele também foi prejudicada, pois só estudou até a quinta série. “Hoje a gente dá risada da história, mas para você carregar um peso desses não é fácil não. Eu quase não estudei por causa disso. Na época, na roça, apesar da professora não deixar fazerem brincadeira na sala de aula, mas na hora do recreio sempre tinha uma gracinha”, disse.

Com três filhos adolescentes, Marcos Naves vive com a companheira Reneides Silva há mais de 20 anos. Ele nunca pôde se casar no civil e lembra que precisou mentir para o sogro para poder se unir a mulher.

“Para ela [esposa] foi fácil explicar, mas para o sogro não. A gente ia casar no padre e no civil aí eu tive que dizer para ele que tinha perdido o documento e estava esperando a 2ª via vir de Goiás, mas quando chegasse a gente casaria no civil. Hoje, tenho 22 anos de casado com uma pessoa maravilhosa que sempre me apoiou”, disse Naves.

Depois de tanto tempo, Marcos e Reneides Silva, de 41 anos, vão se casar no dia 20 deste mês. Ele lembra também dos problemas que passou para registrar os filhos. “Até nisso nós passamos por muitos vexames porque eu era apontado como a mãe e ela como o pai, porquê o nome dela é mais masculino que o meu”, comentou.

A história do pintor começou a mudar graças ao juiz Gilson Valadares. O magistrado conta que conhece a família de Marcos há muitos anos e decidiu ajudá-lo. “Conversei com ele e disse que tínhamos que definir isso. Falei: ‘Você não pode passar por isso'”. Inclusive, o juiz será o responsável pela cerimônia de casamento. “Fiquei feliz porque faço parte dessa história”.

O processo para mudar o nome foi demorado e acabou provocando mais constrangimentos para o pintor.

“Mesmo com três filhos e uma esposa tive que passar por uma junta médica para provar que era homem. Tive que tirar a roupa para eles saberem que eu era homem. Foi muito doído.”

Marcos Naves conseguiu refazer todos os documentos com seu verdadeiro nome. Agora, os planos são para recuperar o tempo perdido. “Com fé em Deus consigo ir bem adiante. Vou estudar e ir mais longe. Com tudo que aconteceu de mudança estou prevendo só melhoria para minha vida”, afirmou.

(*) G1

Marcos Naves conseguiu refazer todos os documentos (Foto: Lia Mara/Jornal do Tocantins)

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