24/09/2002 16h11 – Atualizado em 24/09/2002 16h11
Ana Lúcia Azevedo
Há alguns meses, falei aqui do surgimento do vírus africano Usutu na Europa. Ele ataca principalmente aves, mas pode afetar seres humanos. A febre do Usutu é mais uma das chamadas doenças emergentes: males misteriosos, saídos em geral de florestas de países pobres, que acompanharam a globalização e se espalharam pelo planeta.
Pois bem, o que era uma ameaça se tornou realidade. Para preocupação de especialistas europeus, o Usutu parece ter se adaptado ao frio do continente e lá fixado residência. Por enquanto, não há casos em seres humanos, mas as aves estão morrendo na Europa Central, mais especificamente na Áustria.
O Usutu não conhece fronteiras. Virologistas da Universidade de Viena temem que ele se espalhe ainda mais. O vírus é da família dos flavivírus, parente dos causadores da dengue e da febre do Oeste do Nilo – que, nos últimos tempos, viraram pesadelo no Brasil e nos Estados Unidos, respectivamente. Como seus parentes, também é transmitido pela picada de mosquito.
Os cientistas lembram que a febre do Oeste do Nilo começou a se alastrar pelos Estados Unidos da mesma forma que o Usutu está chegando à Europa: por intermédio das aves.
O medo é que mosquitos que picaram aves doentes ataquem seres humanos, transmitindo o vírus. Por ser mais fria, a Europa Central tem a seu favor o fato de que os mosquitos não se reproduzem com facilidade. O risco de transmissão, bastante reduzido, fica restrito ao pico do verão.
Mas a maior preocupação dos especialistas é que eles pouco sabem sobre o Usutu. Acredita-se que não mate seres humanos, mas, como só pouquíssimos casos foram registrados na África, a doença é um completo mistério.
A invasão da Europa pelo Usutu evidencia a necessidade de se montar redes eficientes de detecção de doenças emergentes. E deixa claro que nenhum lugar habitado pelo homem – salvo talvez as regiões árticas – está livre de epidemias.