01/10/2002 13h14 – Atualizado em 01/10/2002 13h14
O governo está recomprando títulos da dívida brasileira no exterior para segurar o risco-país brasileiro, que na sexta-feira atingiu a pontuação histórica de 2.449 pontos, e melhorar a cotação dos títulos da dívida do Brasil no exterior.
A operação foi detectada por operadores do mercado de dívida e estaria ocorrendo desde ontem. O Banco Central não confirmou nem desmentiu a atuação.
Hoje, o risco-país brasileiro opera em queda de 2,96%, a 2.326 pontos, enquanto o C-Bond, principal título da dívida brasileira negociado no exterior, sobe 2,03% para 50,25% do valor de face. O risco-país mede os juros pagos pelos títulos brasileiros em relação aos norte-americanos e, quanto maiores esses juros, pior é a cotação do papel.
Na sexta-feira, o C-Bond chegou a ser vendido por 48,375% de seu valor de face, o pior nível desde a crise mexicana, em 1995. Naquele dia, segundo analistas do setor, o título estava absorvendo a crise de liquidez nos mercados globais, cujo efeito se manifesta em primeiro lugar nos títulos de países emergentes, e também já embutia em seu preço a possibilidade de o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, vencer as eleições no primeiro turno.
Para melhorar a cotação do papel, o Banco Central teria, ontem e hoje, comprando títulos no exterior por meio de bancos com autorização para negociar em seu nome (dealers). Não há projeção do montante, entretanto.
Essa operação tem duplo efeito: primeiro, o BC consegue resgatar dívida a preços mais baixos, quando esses papéis estão desvalorizados, e diminuir sua exposição ao mercado. Segundo, com menos papéis no mercado, as instituições que estão “vendidas” (se comprometeram com outras instituições a vender o título em um determinado prazo) mas “descobertas” (não têm esses títulos em mãos por os terem vendido antes para terceiros) se vêem obrigadas a correr atrás dos papéis e aceitarem pagar preços mais altos para cumprirem seus compromissos.
Fonte: Folha Online