29/11/2002 09h30 – Atualizado em 29/11/2002 09h30
WASHINGTON – Para o leigo, a “receita” pode não parecer saudável, mas os especialistas garantem que o novo tipo de arroz criado por biólogos da Universidade de Cornell só tem qualidades.
Os biólogos aumentaram a resistência da planta do arroz à seca, ao frio e à água salgada adicionando a ela genes de uma bactéria comum. Eles acreditam que o novo arroz possa crescer em campos e climas onde o grão comum não conseguiria.
A experiência foi feita com a fusão de dois genes da bactéria E. coli. Os cientistas inseriram o resultado da fusão numa variedade comum de arroz e produziram o novo tipo.
Os genes acrescentaram um açúcar, chamado trealose, à planta do arroz, tornando-a mais resistente, segundo Ajay K. Garg, pesquisador da Universidade de Cornell e principal autor do estudo, publicado na nova edição da Proceedings of the National Academy of Sciences.
Para os mais preocupados, os cientistas garantem que os genes da bactéria permanecem ativos apenas no tronco e nas folhas da planta e não estão presentes no grão.
Vários anos de experiências, incluindo o crescimento de colheitas em campos de teste de larga escala, devem ser realizados antes que o novo arroz possa receber um certificado para uso geral em agricultura, segundo Garg.
O especialista afirmou que a trealose é encontrada em pequenas quantidades em vários tipos de plantas, insetos, fungos e bactérias, mas é o principal componente no crescimento de plantas que sobrevivem a longos períodos de seca – basta um pouco de água para retomarem vigorosamente seu crescimento.
A adição de trealose teve o mesmo efeito na planta do arroz, segundo Garg.
“Podemos retirar a água por 10 dias e a planta parece que vai morrer. Mas quando se joga água, ela se renova”, afirmou.
As plantas de arroz normal estariam distantes da recuperação depois de 10 dias sem água, de acordo com o pesquisador.
Garg disse que as experiências também mostraram que a planta do arroz transgênico é cerca de duas vezes mais resistente à água salgada e suporta temperaturas em média 10 graus mais baixas do que as demais.
Crescendo em novos lugares
Isso significa que os produtores de arroz poderão plantar em campos em que antes isso era impossível devido à salinidade ou à secura do solo, ou devido a climas muito frios, segundo Garg.
Estudos em laboratório também mostraram que o novo tipo de arroz é até 15 por cento mais eficiente em sua fotossíntese – o processo de usar a luz do Sol e os nutrientes em benefício do crescimento da planta.
Garg disse que isso sugere que o novo tipo terá uma safra de grãos maiores do que os comuns.
Os pesquisadores já criaram cinco gerações do novo tipo de arroz e os genes que causam a resistência foram mantidos e permanecem ativos em todas elas.
O grupo está agora patenteando o novo arroz, mas Garg disse que o produto será liberado para uso geral.
“Queremos colocar isso em domínio público para que as pessoas em todos os lugares possam usá-lo”, disse.
Garg afirmou que sua equipe está agora voltando suas atenções para o milho, o trigo, a soja e o painço.
Os pesquisadores estão fazendo experiências para ver se, acrescentando os genes da trealose àqueles grãos, será possível também obter safras mais resistentes à seca e a outros problemas ambientais.
Fonte: Associated Press