19/12/2002 16h56 – Atualizado em 19/12/2002 16h56
” Querido Jesus.
Soube que o senhor é quem distribui presentes para todos no Natal.
Muita gente não acredita em Papai Noel, mas tia Belinda me disse que Papai Noel
é o senhor mesmo. Vou colocar esta carta na Caixa-do-Correio, pedindo uma coisa.
Vou explicar. Não queria que o senhor me desse brinquedos,
nem mesmo o automóvel que vi na loja.
Queria que o senhor me trouxesse minha mãe.
O senhor sabe que ela nos deixou porque sofria demais.
De noite, quando meu pai chegava da rua, fechava a porta com força
e xingava muito, pois havia tomado bebidas fortes.
Dava pontapés nas cadeiras e depois avançava para ela querendo bater
e, às vezes, até batia mesmo. Mamãe chorava, abraçada comigo, até que,
uma noite, ela saiu e não voltou mais. Fiquei muito triste e papai também.
Ele é bom para mim, mas quando bebe diz que eu não presto,
que vai me levar para um asilo ou um orfanato. Estou doente, querido Jesus,
mas permaneço na escola. Quando é de noite, sinto frio e tenho muita tosse.
Tia Belinda e dona Silvana cuidam de mim, mas não é a mesma coisa
que minha mãe. O Senhor poderá encontrar mamãe e trazê-la.
Se o senhor disser a ela que estou doente,
sem dormir de noite e tomando remédio,
sei que ela virá. Querido Jesus, não precisa mandar brinquedos,
nem bombons como no ano passado. Traga mamãe para mim.”
Rebeca leu a assinatura engasgada de emoção.
Funcionária dos Correios de uma grande metrópole,
atendia à seleção da correspondência recolhida pela manhã.
Em dado momento, um papel dobrado, sem envelope, lhe caiu aos pés.
Apanhou-o. Uma folha simples, trazia um endereço em letras desajeitadas:
“Para Jesus, no Céu”. A funcionária examinou o pequeno e estranho
documento e, porque estivesse evidentemente aberto,
mergulhou-se em sua leitura, de modo a inteirar-se de seu conteúdo.
E devorou o bilhete palavra por palavra. Chegara-lhe às mãos a
missiva do filhinho de oito anos.
Desfez seus compromissos e demandou ao antigo lar.
Recebida alegremente pelas duas senhoras que lhe chefiavam agora a casa,
rapidamente alcançou o quarto do filhinho, com a ansiedade de quem
reencontra um tesouro perdido, e o pequeno, ao vê-la,
ergue-se do leito, exclamando, feliz:
- Ah, mamãe ! Mamãe ! …
Então Jesus recebeu minha carta e trouxe a senhora de volta !
Que lindo Natal vai ser este !… Que lindo !…




