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quarta-feira, 18 de junho de 2025

Trama macabra resulta no assassinato de fazendeiro

20/01/2003 09h06 – Atualizado em 20/01/2003 09h06

O secretário da Segurança, Defesa e Cidadania, deputado Paulo Moraes informou ainda a pouco que a Polícia Civil conseguiu esclarecer o brutal assassinato do fazendeiro Roberto Carlos de Oliveira, 37 anos, ocorrido na noite da última sexta-feira, e cujo corpo foi encontrado por volta das 9h da manhã de ontem, ao lado de seu caminhão, na rua União, bairro Ronaldo Aragão, zona Leste, próximo do Linhão. Segundo o secretário, foram presos acusados do crime a mulher do fazendeiro, Luzia da Silva Ozório de Oliveira, 25 anos, apontada como mandante, e o ex-presidiário Mauro Freitas Santana, 31 anos, que confessou ser o matador. A mulher de Mauro, Maria Sebastiana Souza Lima, que teria participado da trama, fugiu. A Polícia Civil concluiu a lavratura do flagrante às 2h da madrugada deste domingo.

FALSO SEQUESTRO

Segundo a polícia, autora intelectual do crime, a mulher do fazendeiro criou a estória de que quatro elementos haviam invadido sua casa, na rua Brasília, nº 1.344, bairro Tucumanzal, e armados de revólver anunciaram o assalto, por volta das 22h da sexta-feira. Contou ainda que ela e Roberto foram forçados a entrar na cabine do caminhão do marido, sendo levados como reféns para a periferia, com um dos bandidos. Os outros três ficaram em casa, com seus dois filhos. No local, Luzia disse que pediu para urinar, e se aproveitou de um descuido do suposto assaltante seqüestrador para fugir. O curioso é que somente por volta das 4h20min da madrugada – seis horas depois – ela procurou a Polícia para denunciar suposto roubo seguido de seqüestro do marido, dono de duas fazendas, uma no distrito de Extrema e a outra em Humaitá (AM). Como é de praxe, a polícia registrou a queixa de Luzia – ocorrência 185/3º DP – e passou a investigar o episódio. Levada à Central de Polícia, a mulher foi solicitada a examinar todos os álbuns de fotografias de bandidos para tentar identificar os supostos ladrões, demorando-se algumas horas. Ela ainda foi solicitada a contar, por várias vezes, como o assalto fora praticado.

SUSPEITAS

Com base no depoimento de Luzia, os delegados Cézzar Pizzano, Renato Eduardo de Souza, Eduardo Batistella, Alessandra Paraguassu e Paulo Casara, começaram a buscar indícios que pudessem comprovar a veracidade do que ela estava falando. Mobilizando os agentes policiais Dilma, Caetano e Marcelo, os delegados conseguiram pegar a mulher em algumas contradições, conseguindo, com isso, montar o quebra-cabeça. Outro fato curioso, é que Luzia, apesar de ter fugido do local, alegava sempre que o marido estava morto. “Só uma pessoa que tivesse presenciado a execução poderia ter certeza de que a vítima estava realmente morta”, opinou Pizzano. A comprovação da morte chegou por volta das 9h da manhã de ontem, quando populares, passando pela rua União, que liga o bairro Ronaldo Aragão à estrada do Linhão, encontraram o corpo de Roberto Carlos em um matagal a cinco metros de seu caminhão, com um tiro na cabeça e outro na mão direita. Como dificilmente em assalto, a vítima é levada para ser morta em outro local, aumentaram as suspeitas dos delegados e agentes policiais sob a participação de Luzia.

COFISSÃO

Por volta das 13h de ontem, solicitada a fazer com os policiais o trajeto que ela, o marido e bandido teriam percorrido, Luzia, nem conseguiu chegar ao local em que o marido havia sido executado, e acabou confessando que havia mandado matá-lo. Como já se encontrava no bairro Ronaldo Aragão, ela indiciou a casa do executor do crime, no bairro Marcos Freire, mesmo setor. O delegado Cézzar Pizzano, que coordena o Comando de Operações da Polícia Civil, junto com os demais delegados e agentes, cercaram o local e prenderam o acusado de matar o fazendeiro. Mauro, que já esteve recolhido no Presídio Ênio Pinheiro por ter matado o padrasto em 1993, foi preso na mercearia do Rodrigo, na esquina da rua Olinda com a Cachoeira do Itapemirim. Cercado, o acusado não teve como fugir e confessou a autoria do homicídio. Ele entregou ainda aos delegados e agentes a arma do crime, um revólver que ele havia escondido no interior de uma almofada em formato de estrela. Também entregou parte do dinheiro roubado do fazendeiro, antes de matá-lo.

PLANO

Segundo o que confessou aos delegados, Luzia planejou a morte do marido ainda em dezembro. Ela tem um irmão que mora no bairro Marcos Freire e a pretexto de visitá-lo, pediu para ser levada a um bar, onde contatou Mauro. Inicialmente ela disse que estava interessada em comprar um revólver. Depois perguntou se ele conhecia alguém que pudesse dar fim em uma pessoa. “Eu conheço, mas depende do dinheiro”, disse Mauro ontem, recordando o diálogo. Depois de ser informado de que a pessoa que Luzia pretendia matar era o marido, Mauro pediu o dinheiro para comprar a arma e as munições, tendo recebido inicialmente R$ 700,00. Com o dinheiro, segundo ele, comprou o revólver por R$ 350,00. Ainda durante a conversa, Mauro interessou-se em saber o motivo de Luzia querer matar o marido. Ela respondeu que era muito maltratada por Roberto e que já havia até passado fome. Pediu ainda pressa na execução, prometendo R$ 3 mil como recompensa. Antes de sair do local, exigiu que Roberto fosse morto antes do Ano Novo. Alegando que precisava de tempo, Mauro pediu calma à Luzia. Somente na última na sexta-feira, de dia, ele foi a casa dela, na rua Brasília, nº 1.344, bairro Tucumanzal, e acertou todos os detalhes da execução. “Eu preciso do dinheiro e a senhora precisa se livrar do marido. É só uma questão de entendimento”, disse Mauro, para pressionar a mulher a fazer o pagamento antecipado. Como estava sem os R$ 3 mil, Luzia pediu para Mauro levar seu cartão magnético, fornecendo inclusive a senha, prometendo fazer o depósito em cinco dias. Ela só pediu que Mauro, antes de matar Roberto fizesse ele assinar todos os cheques para que ela pudesse sacar os R$ 100 mil que ele mantinha depositado em dois bancos, Brasil e Basa.

COMBINADO

Conforme o combinado, Mauro chegou à casa de Luzia, de táxi, acompanhado da mulher. Maria Sebastiana ficou no portão. Ele adentrou a casa, aproveitando que a porta estava aberta. Dominando Roberto, anunciou o assalto. Luzia que sabia de tudo, passou a pedir ao marido que ele fizesse tudo o que o comparsa queria. Em seguida, Mauro informou que havia sido contratado para matá-lo e que queria apenas que ele assinasse os cheques. A mulher até ajudou a encontrar os talões, pois Roberto ficou muito nervoso, recordou o acusado do crime. Apesar de estar amedrontado, Roberto ainda perguntou quem estaria interessado em matá-lo e alegou não ter inimigos. “Não vou falar, mas se você assinar os cheques e ficar bonzinho, eu poderei até mudar de idéia e deixá-lo vivo”, disse Mauro. Depois de alguns minutos, Mauro disse que obrigou Roberto a entrar no caminhão, levando Luzia também. O fazendeiro foi dirigindo o veículo enquanto a mulher ficou entre ele e o bandido. Eles fizeram o trajeto até o local da execução passando por dentro da zona Leste. Chegando na estrada que liga o bairro Ulisses Guimarães a BR-364, entraram à esquerda da estrada de chão do linhão, na direção de Candeias. Percorreram cerca de um quilômetro e entraram na rua União, um local deserto, que passa por trás do bairro Ronaldo Aragão. Ali, segundo Mauro e Luzia, Roberto foi forçado a entregar tudo o que tinha de valor no caminhão, como Luzia já havia indicado. Ele entregou cerca de R$ 2 mil que havia guardado sob o tapete da cabine do veículo. Depois Roberto foi obrigado a descer da cabine e morto a cinco metros do caminhão. “Eu sai antes de ele matar Roberto. Eu não quis ver ele ser morto. Fui embora primeiro”, recordou Luzia explicando que fez todo o trajeto de volta a pé. Mas, o curioso, segundo o delegado Pizzano é que apesar de o local ser de chão e cheio de espinhos e cascalhos, ela não tinha nenhum arranhão, o que seria caracte
rística de quem estivesse fugindo a pé. De volta à cidade, somente às 4h20min da madrugada, Luzia procurou a delegacia do 3º DP e registrou queixa.

FLAGRANTE

Com o crime esclarecido, delegado Cézzar Pizzano passou os acusados para a delegada Alessandra Paraguassu fazer o flagrante. Foram ouvidos os policiais, testemunhas, a mulher do fazendeiro e o acusado da execução. Por volta das 2h da manhã deste domingo, quando conseguiu encerrar os interrogatórios, a delegada mandou recolher Mauro à carceragem da Central de Polícia e a mulher ao Presídio Feminino, onde aguardam o pronunciamento da Justiça. Faltou ser autuada apenas a mulher de Mauro. Maria Sebastiana não foi localizada. “Eu mandei ela passar uns dias na linha Triunfo”, informou Mauro, acrescentando que ela deveria voltar somente ao completar cinco dias combinados para o saque do dinheiro prometido pela mandante do crime.

TRAIÇÃO

Foi apurado durante o flagrante que Roberto estava casado com Luzia há cinco anos e que dessa convivência nasceram dois filhos. Como sempre vivia na fazenda, na zona rural de Extrema, Luzia ficava na cidade. No ano passado, ele soube que durante sua ausência, a mulher se encontrava com outros homens. Desconfiado passou a gravar os telefonemas de casa. Conseguiu gravar pelo menos dois CDs, com conversas delas com outros homens, um deles representante de vendas de Rio Branco (AC). Com a certeza de que estava sendo traído, Roberto colocou a fazenda a venda e avisou que não queria mais viver com ela. Feito o negócio, mudou-se para Porto Velho deixando a mulher com os filhos na casa de Extrema. Semanas depois, Luzia chegou na Capital com os filhos, pedindo reconciliação. Foram morar em um apartamento alugado, no bairro Tucumanzal. Com isso ela ganhou tempo para planejar e executar o companheiro, de olho no dinheiro da venda da fazenda.

ANTECEDENTES

Sobre os acusados, a delegada Alessandra apurou que Mauro já possui antecedentes. Em 1993 ele matou o padrasto, João Pantaleão, à facada.

Ainda segundo informou, Mauro está com julgamento marcado para o mês de fevereiro vindouro. A mãe dele, Maria Cristina Alves Santiago também teve problemas com a Justiça e está presa no Presídio Feminino.

NOVO MODELO

Conforme o secretário da Segurança, as polícias de Rondônia estão passando por transformações. Nesse caso, por exemplo, Paulo Moraes disse que já foi mobilizando o Comando de Operações Especiais, em que delegados e policiais começam a trabalhar imediatamente à comunicação do crime, sem deixar as provas esfriarem ou se perderem. “Desde as 4h20min, quando a mulher comunicou o suposto roubo seguido de seqüestro, nossos delegados e agentes foram acionados e passaram a investigar. Com paciência e inteligência, conseguiram esclarecer tudo e prender a mandante e o executor do assassinato”, explicou o secretário, elogiando os delegados Cézzar Pizzano, Renato Eduardo de Souza, Alessandra Paraguassu e Paulo Casara, além dos agentes Dilma, Caetano e Pedro Marcelo.

Fonte: RONDONIAGORA.COM

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