30/04/2003 10h45 – Atualizado em 30/04/2003 10h45
No meio da conversa, um dos entrevistados arremessa um pão de queijo na testa do colega. Todos riem e acham muito maneiro. E isto é absolutamente normal. Afinal, este é o comportamento esperado quando seis integrantes de uma banda de rock pesado são confinados na sala de uma gravadora para uma rodada de entrevistas. Ou seja: Rodolfo, ex-Raimundos, já está completamente à vontade com sua nova turma, o Rodox. A banda está lançando seu segundo disco, homônimo. Na real, é o primeiro, já que “Estreito” foi uma obra de Rodolfo e Bob e a banda só entrou no jogo para executar e ir para a estrada. Os Raimundos – a ex-banda de Rodolfo – não são um assunto tabu. Mas o vocalista diz que isso são águas-passadas.
- É assunto encerrado desde o dia seguinte que eu saí. Muita gente ficou falando disso na época. Depois falaram disso quando eu lancei o outro disco. Cada um seguiu o seu caminho e pronto – diz ele, colocando logo pontos-finais.
Ele lembra que o seu lance é mesmo ter uma banda, e não uma carreira solo:
- O “Estreito” não foi um CD solo e sim um projeto meu e do Bob, que era para se transformar numa banda – explica.
E se transformou. Uma banda de sonoridade pesada. O disco tem várias faixas que resvalam para o new-metal. Surgiu da mistura de estilos de seus integrantes, Rodolfo (vocal), Pedro Nogueira e Marcus Ardanuy (guitarras), Patrick Laplan (baixista que era integrante do Los Hermanos), Fernando Schaefer (bateria) e Bob (efeitos e programações).
- Cada um tem uma influência. Uns são mais melódicos, outros não. Mas o resultado final é sempre pesadaço, e disso todos gostam – diz Rodolfo.
O disco – assim como a banda – nasceu na estrada. E mistura faixas de new-metal, com levadas eletrônicas – como “Segue a linha” e “Incinerador” – com outras de hardcore como “Inflexível” e punk-rock. Tudo foi composto na turnê.
- Eu moro no Sul, os outros moram em São Paulo e no Rio. Nas viagens, cada um levava as músicas que tinha feito e dava opinião. Fomos gravando (fitas) demos e amadurecendo, No fim do ano, entramos em estúdio.
E tudo foi muito rápido. O disco inteiro foi gravado em apenas 12 dias. Assim como no anterior, a música eletrônica está presente, se mixando com levadas cruas.
- Exploramos mais este lado, com uma levada de hip hop e música eletrônica. A formação do Rodox é bem única. No Brasil, a maioria dos DJs que tocam em banda são mais do rap, com scratchs e menos música eletrônica – diz.
As letras foram finalizadas no estúdio e são um retrato da nova onda de Rodolfo. Como em “1000 Megatons” (“Honra, Jeová, Jireh / Força Jeová, Jireh / Cortar no fio da espada / até o joelho dobrar”) ou em “Iluminado” (“Fui marcado com sangue/ no vale aprovado / no estreito aperfeiçoado / Eu vou na certa porque sei quem está do meu lado”).
Entre as curiosidades do disco, uma versão para “Exodus”, de Bob Marley, que ficou irreconhecível.
- A gente toca desde o primeiro show. Como tínhamos poucas músicas, resolvemos colocar uma cover. E foi super bem recebida. Quando a gente fala que é do Bob Marley, a galera mais hardcore não acredita. Mas quando ouve, gosta. Porque ficou totalmente Rodox.
O novo show já está na estrada. Aliás, não haverá uma pausa para a estréia de uma nova turnê. As músicas novas foram sendo incluídas no set aos poucos.
- É um show com vários tipos de agitação: gente pulando, se batendo, cantando. É bem legal de ver. Eu gostaria de ver um show do Rodox – brinca Rodolfo.
Marcão se anima:
- Com dois CDs o novo show vai ser bem mais maneiro – completa ele, antes de ser alvo de uma nova leva de piadinhas. – É que meu time perdeu de cinco a dois para o Paissandu – explica o são-paulino.
E é sacaneado por todos. Desta vez, sem arremesso de alimentos.