03/05/2003 08h44 – Atualizado em 03/05/2003 08h44
A ameaça a duas famílias que corriam o risco de ter de morar na rua impediu o tratorista Hamilton dos Santos de derrubar duas casas para cumprir uma ordem de reintegração de posse ontem, no bairro da Palestina, na periferia de Salvador. O operador do trator teve a prisão decretada por não estar cumprindo uma ordem judicial.
O terreno em questão, que fazia parte da Fazenda São Paulo, é ocupado por duas casas, onde moram 15 pessoas e é requisitado pelo engenheiro Adolfo Stelmach desde 1993, quando as casas começaram a serem construídas. Hamilton, 53 anos, tratorista contratado para a execução da ação, já é tido como herói pelos moradores, que não se cansam de elogiar sua atitude de não derrubar as casas.
Ele se recusou por duas vezes a derrubar as casas com o trator, mesmo com a ameaça do oficial de Justiça Carlos Cerqueira de lhe dar voz de prisão. Após as ameaças, ele chegou a subir no trator mais uma vez e investir contra as residências. A pouco metros do imóvel, entretanto, recuou novamente e apresentou um quadro de crise nervosa e hipertensão, sendo conduzido ao pronto-socorro da Palestina pelos policiais militares, que acompanhavam a operação.
Outro tratorista foi chamado para realizar o serviço, mas também se negou. Os donos da empresa que alugou o equipamento, por sua vez, disseram não ter conhecimento de que o trator seria usado para esta finalidade, garantindo que não vão mais liberar a máquina.
De acordo com os moradores, para evitar a demolição das casas, o dono do terreno pede uma indenização de cerca de R$25 mil, valores que eles não podem pagar. “Estamos aqui lutando pelo que é nosso por usucapião. Embora as casas só tenham sido construídas em 93, o terreno já estava cercado há muito mais tempo. Estamos tendo que pagar, sem poder, por um coisa que já é nossa”, declara Edmilson Neves, 30 anos, morador de uma das casas. Ele mora no local com sua mulher, sua filha, sua mãe e seu irmão, enquanto a outra casa é ocupada por sua cunhada Telma Sueli dos Santos Sena, seu marido Dilton, mais sete crianças e um adulto.
O oficial de Justiça informou que precisou suspender a execução da diligência por falta de equipamentos e que vai entregar um relatório ao juiz Cláudio Fernandes de Oliveira, titular da 12ª Vara Civil, na segunda-feira, para a partir daí, aguardar nova ordem. Por enquanto, a demolição e a reintegração de posse ficam suspensas.
As famílias envolvidas esperam ainda que o advogado contratado consiga uma liminar ou um outro acerto como Adolfo sobre o terreno. Em último caso, eles tentarão juntos arrecadar a quantia com a comunidade. “Tomara que hoje (ontem) a noite, com a cabeça fria, Adolfo possa pensar um pouco e olhar pela nossa situação”, fala Edmilson.




