15/10/2003 10h36 – Atualizado em 15/10/2003 10h36
Na cadeia produtiva da pecuária de corte, ainda há muito o que fazer para melhorar a qualidade do couro nacional. Os produtores querem agregar mais valor à atividade em Mato Grosso do Sul. Mas existe um impasse. A classe produtora quer receber mais pelo produto.
Cento e oitenta milhões de cabeças de gado. O maior rebanho comercial do mundo. A carne brasileira já tem espaço garantido na Europa, África e Ásia.
Com as epidemias de febre aftosa e vaca louca que dizimaram rebanhos europeus, a procura pela carne e sub produtos de bovinos aumentou. As exportações de couro se abriram para os países com rebanhos livres dessas doenças. O Brasil é um deles. A diferença é que o couro daqui perde em qualidade para os concorrentes.
Um dos maiores obstáculos para a melhoria da qualidade está nas fazendas. Hoje 60% dos defeitos no couro têm origem no manejo do gado. É que muitos pecuaristas ainda acham que não ganham dinheiro com o couro. Melhorar a qualidade e ter um produto de maior valor no mercado externo depende de uma mudança de mentalidade.
Ainda é comum ver cenas assim: marcação a ferro no lombo do animal, rebanhos infestados. Depois das porteiras os problemas continuam. O transporte do gado no Brasil é precário. Caminhões com grades de madeira e ferrão para levantar o animal. Tudo isso danifica o couro. Investir em melhorias não interessa ao pecuarista.
De acordo com o presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Laucídio Coelho Neto, mudar o manejo custa tempo e dinheiro. O investimento não vale a pena porque os produtores não recebem pelo couro.
Muitos frigoríficos não querem pagar mais porque no preço que já pagam pela arroba está embutido o valor do couro.
A classificação de qualidade de couro segue o padrão internacional. Uma tabela que vai de um a sete e o refugo.
Há 3 anos um frigorífico de Nova Andradina, em Mato Grosso do Sul lançou uma cartilha ensinando o pecuarista a cuidar melhor do rebanho. Como prêmio, quem tem couro de qualidade ganha mais por ele. O frigorífico dá prêmio de acordo com a classificação do couro seguindo o padrão internacional de qualidade.
Para isso foi criada uma tabela: couros classificados nas categorias 1 e 2 são os sem defeitos e o pecuarista ganha mais R$ 22,50 por animal. A categoria 3 é quando 70% do couro não tem defeito e o incentivo é de R$ 15,75, quando a metade da pele está perfeita a classificação é de número 4 e o prêmio por animal é de R$ 11,25. Quando a pele tem apenas 15% de rentabilidade é a classificação 5 com incentivo de R$3,38 por animal. Quando essa rentabilidade é de apenas 5% é a sexta classificação e o menor prêmio: R$ 1,13. A pele totalmente danificada é o refugo. O pecuarista não ganha incentivo.
Mais de um milhão e 200 mil peles foram classificadas, o que resultou no pagamento de R$ 1 milhão e 300 mil em incentivos aos pecuaristas.
De cada 10 animais, oito tem o couro qualificado e o frigorífico paga o incentivo. Pode ser de R$ 1 a R$ 22 a mais no preço do animal.
Essa queda de braço reflete na balança comercial. O país exporta matéria prima para ser processada lá fora. A quantidade de couro exportada pelo Brasil aumentou 19% esse ano. Até agosto o saldo ultrapassava os US$ 500 milhões. 63% das peles exportadas são do couro wet blue, que é a primeira fase do processamento e um dos mais baratos no mercado externo.
“Se considerar que temos 34 milhões e meio de couro e perdemos US$ 30 por couro só vamos chegar a mais US$ 1 bilhão que poderíamos faturar”, conclui o vice-presidente do Centro das Indústrias de Curtume do Brasil, Leogênio Luiz Alban,
Mesmo com a baixa qualidade do couro, o Brasil é um dos maiores exportadores de sapatos do mundo.
Fonte:RMT online