20/10/2003 08h49 – Atualizado em 20/10/2003 08h49
Campo Grande tem a terceira maior tarifa de transporte coletivo urbano do País, ficando atrás apenas de Brasília (R$ 2,20) e Curitiba (R$ 1,75), duas cidades que, além de maiores que a capital sul-mato-grossense, oferecem sistemas mais modernos, como é o caso da capital paranaense que já foi citada, inclusive, como referência no assunto. Além de figurar entre os mais dispendiosos do Brasil, segundo levantamento realizado pela reportagem, o custo da passagem aqui na Capital igualá-se, por exemplo, a de São Paulo (R$ 1,70), onde os trajetos muitas vezes incluem viagens de até três horas.
O principal argumento das empresas para ratificar o alto custo, quando apresentaram este ano a planilha de gastos à Prefeitura, foi que a carga tributária sobre os combustíveis onera o serviço. A justificativa é questionável já que em Cuiabá (MT), por exemplo, onde a distância é até 700 quilômetros mais longa a passagem não ultrapassa os R$ 1,60.
Além disso, nas regiões Norte e Nordeste nenhuma capital alcança o valor da tarifa sul-mato-grossense, oscilando entre R$ 1,00 e R$ 1,50. Mas se usar o transporte coletivo urbano em Campo Grande é caro, em outras capitais do País a realidade é outra.
As cidades onde a tarifa é mais barata ficam em extremos, seja em Belém ou em Florianópolis, trafegar nos coletivos não sai por mais de R$ 1,00, mostrando que de um ponto a outro do Brasil é difícil encontrar justificativa para o alto custo da passagem por aqui. Quanto às gratuidades, também apontadas pelos empresários como causadoras do alto custo da tarifa, Haroldo Borralho, do Fórum dos Usuários do Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande, defende que o município seja mais seletivo no oferecimento do benefício.
“Os Correios já disseram que podem pagar a passagem dos carteiros, a Polícia também poderia arcar com esse custo. Além disso, uma solução seria oferecer o transporte gratuito levando em conta o poder aquisitivo do beneficiado e não apenas a sua categoria. Dessa forma gostaríamos de saber das empresas, de fato, quando poderíamos economizar por dia no transporte da Capital”, comparou Borralho.
Exclusão
O preço da tarifa, aliás, tem excluído boa parte dos antigos usuários que, embora dependam do transporte, não têm condições de arcar com as despesas. Reportagem recente publicada pelo MidiamaxNews mostrou que pegar um ônibus para ir ao trabalho está se transformando em um luxo para as classes D e E. Essas pessoas têm trocado o ônibus pela bicicleta para economizar na renda familiar e arcar com despesas básicas, como saúde e alimentação.
No último levantamento do Fórum dos Usuários do Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande, a cada ano diminui o número de usuário de ônibus urbano na Capital – em 2001 eram 228 mil usuários dia, hoje esse número não alcança 210 mil. Segundo último Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em Campo Grande 71.197 pessoas vivem com até um salário mínimo por mês, ou seja, quase 10% dos moradores da Capital não podem arcar com os custos do transporte público, sendo que o preço alto da tarifa contribui para aumentar a exclusão social.
“Não tem justificativa para uma tarifa tão alta. Campo Grande não é uma cidade tão grande e pagamos por viagens bem maiores, como em São Paulo, por exemplo, onde o custo de vida é bem diferente daqui”, comenta Borralho. Segundo ele, uma boa saída para diminuir o custo com a passagem de ônibus na cidade seria aumentar a concorrência. “A Prefeitura podia abrir a concessão para mais empresas”, comenta.
No mês passado o vereador Alex do PT protocolou o Projeto de Lei que prevê a liberação de vans. A regulamentação das peruas ajudaria a proporcionar uma competitividade maior entre os diversos meios de transportes (moto-táxi, táxi, transporte escolar e o transporte coletivo) e, dessa forma, oferecer um serviço mais barato.
Segundo a planilha de custos levantada pelo Sintrapt/MS (Sindicato do Transporte Alternativo de Mato Grosso do Sul), o preço da tarifa alcançaria R$ 1,20 contra R$ 1,70 cobrado pelos ônibus, ou seja, até 30% mais em conta. “Essa seria uma saída, mas precisamos estudar com cautela todo o processo”, comenta.
Fonte:Midiamax News