18/12/2003 08h04 – Atualizado em 18/12/2003 08h04
Se você acha que doença do coração é uma coisa com a qual só devemos nos preocupar depois dos 40, e que até lá podemos nos entupir de bobagens gordurosas e viver naquele preguiçoso sedentarismo sem correr grandes riscos, está redonda – e fulminantemente – enganada. Pessoas que acumulam, desde jovens, altas taxas de colesterol no organismo têm maiores chances de sofrer doenças vasculares no futuro. Portanto, nunca é cedo para começar a se cuidar.
Os médicos confirmam que a imensa maioria de casos de colesterol alto entre jovens tem origem hereditária. “Mas também é verdade que a difusão dos padrões de alimentação norte-americanos no Brasil aumentou, sobretudo entre os jovens, o consumo de fast-food, rico em carboidratos e gorduras, ou seja, colesterol”, diz o cardiologista e nutrólogo do Hospital do Coração, Daniel Magnoni. O colesterol é uma gordura encontrada nas células que, em quantidades normais, contribui para o perfeito funcionamento dos órgãos do corpo. Nosso organismo se utiliza dele para produzir hormônios e outras substâncias que ajudam na queima e na digestão de gorduras. Cerca de 30% das fontes de colesterol provêm dos alimentos que ingerimos. Os outros 70% são produzidos pelo nosso organismo. O problema é quando ele aparece em excesso.
“Existe o bom e o mau colesterol. Enquanto um protege as nossas artérias contra o entupimento, o outro é o grande causador do problema e de suas conseqüências como o infarto e a angina”, explica o Dr. Iran, cardiologista e diretor da clínica Cardiobarra, no Rio de Janeiro. “Quando não conseguimos aproveitar o excesso de gordura ingerido através da alimentação, começamos a armazenar o colesterol em vários tecidos e células, inclusive – e principalmente – na parede dos vasos. Este acúmulo de gordura pode provocar o endurecimento das artérias e resultar numa artereosclerose e, se isso acontece no coração, por exemplo, provoca o infarto. O aumento dessas placas de gordura pode ocorrer ainda na adolescência, de acordo com o estilo de vida da pessoa”, explica o Dr. Iran.
O nível ideal de colesterol de uma pessoa depende da predisposição que ela apresenta para doenças cardíacas. “Entretanto, o ideal é que se mantenha o nível de colesterol total abaixo de 200 mg/dl. Quanto ao HDL, que é o bom colesterol, acima de 45 mg/dl”, recomenda a cardiologista Roberta Oliveira. Segundo ela, a alimentação e a prática de exercícios são essenciais para a manutenção dos níveis de LDL, o mau colesterol, e para o aumento dos níveis de HDL. “Uma dieta rica em fibra solúvel, encontrada em grãos de cereais, ervilhas, frutas, verduras e legumes, associada a exercícios aeróbicos, como uma boa caminhada, é o ideal”, diz. Além disso, alguns peixes, como o bacalhau, o atum e o cação, por exemplo, são ricos em ácido ômega 3, uma substância que eleva o bom colesterol no sangue e funciona como um antiagregante plaquetário. “Ela diminui a possibilidade de entupimento nas artérias do nosso organismo”, diz a Dra. Roberta.
A berinjela é outra grande aliada. Rica em vitaminas A, B1, B2, B5 e C, o suco do legume age como antioxidante, o que ajuda a corrigir defeitos na parede das artérias provocados pelo colesterol alto, além de reduzir a absorção do colesterol no intestino. “Já gema de ovo e miúdos devem ir para a lista negra”, diz o endocrinologista Gustavo Hauer. Ele ressalta que todos os alimentos de origem animal têm colesterol e, por isso, devem ser consumidos moderadamente. “Cerca de 180 gramas de carne por dia é o máximo. Além disso, colesterol não significa exatamente gordura. Alimentos como o fígado, por exemplo, têm pouca gordura, mas alto nível de colesterol”, diz. Outros alimentos que devem ser evitados são camarão, lagosta, quejio amarelo, manteiga, patê, creme de leite, pele de aves, abacate, carne do coco e os sorvetes cremosos, que levam gordura hidrogenada.
Entretanto, nem sempre esses cuidados podem ser suficientes para controlar o colesterol. Existem outros fatores que contribuem para o aumento das taxas, como problemas congênitos, por exemplo. “Pessoas que têm histórico de doenças cardíacas na família devem manter um controle desde cedo, já que qualquer sinal de colesterol alto geralmente fica imperceptível até que algum problema maior apareça”, diz a Dra. Roberta. Beatriz Cavalcanti começou a ter problemas com o colesterol aos 15 anos. Fez dieta, praticou exercícios, emagreceu cerca de 10 quilos, mas suas taxas permaneceram inalteradas. Agora, aos 18 anos, Beatriz faz uso de medicamentos para controlar o colesterol, assim como sua mãe. “Descobri que tinha colesterol elevado aos 27 anos. Sempre tive uma vida saudável, mas a herança genética foi mais forte. Meus pais têm o colesterol alto e, agora, minhas filhas também”, conta Marise Cavalcanti, 40 anos, mãe de Beatriz. Há poucos meses, a filha mais nova de Marise, Ana Paula, 15 anos, também teve o diagnóstico. “Ela fazia o exame periodicamente e, agora, como era de se esperar, o problema apareceu”, conta.
Outras doenças como hipotireoidismo, aumento na produção de hormônios da glândula pituitária, insuficiência renal, cirrose do fígado e diabetes mal controlada também elevam os índices de colesterol no organismo. “Nesses casos, além da dieta e dos exercícios, é necessário o tratamento com medicamentos”, comenta a médica. Além disso, nem sempre colesterol alto significa obesidade. “É bem verdade que os obesos têm mais tendência, já que o problema é essencialmente alimentar. Mas existem muitas pessoas que, em função do biotipo, são magras e têm taxas mais altas de colesterol do que muitos obesos”, diz a Dra Roberta.
Mas hábitos saudáveis não ajudam apenas a controlar o colesterol. Dietas e exercícios adequados também se refletem em pele e cabelos mais bonitos e em bem-estar físico e mental. O negócio é se cuidar para estar sempre com tudo em cima. Menos o colesterol.
Fonte:Ibest