10/02/2004 16h43 – Atualizado em 10/02/2004 16h43
O que é trip hop? É uma espécie de junção da música progressiva dos anos 70 com a ambientação eletrônica contemporânea, sob um clima de relaxamento e hipnose.
Se lá fora os grandes expoentes do gênero são grupos como Massive Attack e Portishead, por aqui já se faz brazilian trip hop, ou trip bossa. Pelo menos esse é o tipo de som do segundo disco da carioca Katia B, Só Deixo meu Coração na Mão de quem Pode (MCD), cujo repertório será apresentado hoje e amanhã, no Planetário da Gávea.
“Gosto da música eletrônica mais lenta, mântrica, como a do Air, Portishead, Morcheeba e Massive Attack. Mas muita coisa desse disco foi gravada ao vivo, de uma forma melódica e orgânica. Portanto, não é um disco de música eletrônica. Mas se tivesse que botar algum rótulo no meu trabalho teria que ser um trip hop brasileiro”, aponta a cantora.
Em cada uma das dez faixas do CD, Katia, mulher de João Barone, baterista do Paralamas do Sucesso, repousa sua voz delicada em letras que tratam principalmente do amor. Durante as gravações, ela descobriu que estava grávida. Sua voz ganhou novos contornos logo antes de Vicente nascer, primeiro filho dos dois. A atmosfera positiva, rodeada de amigos, e as gravações muitas vezes feitas no próprio estúdio que o casal mantém em casa fazem com que ela defina o dico como um trabalho coletivo.
“Neste trabalho, foquei melhor os temas que queria abordar: amor e ciúme. Queria falar sobre a mulher que está pronta para a vida, sem ser masculina, que só deixa o coração na mão de quem pode. E a eletrônica pode ajudar na busca por texturas e timbres que traduzam essa feminilidade sinuosa, com peso e rompantes, mas também doce e envolvente”, define Katia.
O disco começa a decolar em direção à Europa. A gravadora MCD está distribuindo o CD na Holanda e um crítico da revista especializada Oor Magazine comparou a atmosfera do álbum à música de Brian Wilson e ao melhor do Massive Attack.
“Estamos começando a trabalhar lá fora”, diz a cantora, feliz com a repercussão.
Há um certo parentesco entre o som de Katia e o de Adriana Calcanhotto, que também recorreu à tecnologia em seu último trabalho. Sobretudo no cantar suave, que une bossa nova a efeitos eletrônicos. Mas o acento eletrônico de Katia não é molho, mas o prato principal. Com arranjos simples, ela consegue misturar elementos diversos sem que eles briguem entre si, como costuma acontecer em trabalhos do gênero. Na faixa-título, o cavaquinho e violão de sete cordas de Rodrigo Campello se encaixam perfeitamente às programações do bamba Plínio Profeta. Da mesma maneira, o órgão épico de Sacha Amback combina com a guitarra sutil de Jr. Tostoi, na faixa Descontrole.
Entre as diversas contribuições de amigos, há parcerias com Fausto Fawcett, Lucas Santtana, Pedro Luís, Suely Mesquita e o produtor iuguslavo Suba, morto em São Paulo em 1999. Há ainda participações de músicos como Egberto Gismonti (de cujo coral a mãe de Katia foi integrante), Supla, Marcos Suzano e do marido Barone. Os dois últimos darão uma canja no Planetário, onde Katia quer recriar a atmosfera do disco.
Fonte:Terra





