03/05/2004 16h54 – Atualizado em 03/05/2004 16h54
Para conseguir um lote para morar no Jardim Noroeste, na saída para Três Lagoas, em Campo Grande, a diarista Cloair Andrade teve de pagar R$ 350,00. Apesar de “comprar” o lote, não tem nenhum documento que comprove a transação porque quem vendeu não é o verdadeiro dono da área, admite a diarista. “Ele disse que isso aqui é uma invasão, confirmou que não era o dono, mas falou que para a gente morar precisava pagar”.
O loteamento é da década de 70, quando muita gente comprou áreas no local esperando a valorização. Como não houve o desenvolvimento da região, os lotes ficaram abandonados e acabaram invadidos por famílias de baixa renda. Como o valor do terreno é baixo, os reais proprietários, na maioria dos casos, não procuram reaver o imóvel na Justiça. Sem qualquer providência judicial ou governamental, a área permanece nas mãos de pessoas que exploram o loteamento se aproveitando da desinformação dos sem-teto.
A diarista Cloair conta que negociou o lote com outro morador da região, que teria cobrado os R$ 350,00 em dinheiro, mas acabou aceitando um aparelho de som em troca do terreno. Em um barraco apontando como sendo um dos que o “vendedor”, identificado como “Moreno”, tem no bairro, a reportagem constatou a existência de uma placa oferecendo o terreno para a compra, indício de que ele comercializa as áreas no local. Ao ser questionado, o suposto vendedor de lotes se negou a falar, dizendo sequer conhecer a diarista. “É mentira porque até comprei mais um lote na semana passado e paguei com uma televisão”, contestou Cloair.
Na mesma rua, a catadora de lixo Gedalva Barbosa é mais uma personagem no comércio ilegal no loteamento. Há um mês, ela e o marido decidiram sair do Jardim Columbia, onde pagavam R$ 100,00 de aluguel. Ao chegar no Noroeste a surpresa: “pensei que fosse só chegar e ocupar o terreno. Não é tudo invasão? Mas meu marido teve de fazer negócio com o vizinho ali de baixo para que a gente vivesse aqui”, conta a moradora. Ela não sabe informar quanto custou o lote, porque a transação foi feita pelo marido, mas diz que ouviu muita propaganda positiva antes de fechar o negócio. “O homem disse que isso aqui iria ser regularizado em 8 anos e que a gente não teria que pagar nada até lá, nem água, nem luz”.
Fonte:Campo Grande News