06/05/2004 07h16 – Atualizado em 06/05/2004 07h16
Adolf Hitler pode ter passado seus últimos dias no Paraguai sob proteção do regime de Alfredo Stroessner (1954-1989), reconhecido por ter dado refúgio a vários ex-criminosos de guerra nazistas, afirma um historiador paraguaio.
Hitler, que segundo a história conhecida se suicidou junto com sua mulher, Eva Braun, no dia 30 de abril de 1945 em um bunker de Berlim, “esteve na Argentina e depois passou para o Paraguai em setembro de 1955”, segundo o historiador e investigador paraguaio Mariano Llano.
Os resultados de sua investigação estão no livro “Hitler e os nazistas no Paraguai”, lançado hoje, em que afirma que embora o “führer” tivesse um “temor atroz de cair nas mãos dos russos” não era a favor do suicídio.
“Hitler entrou por Encarnación (sul do país) e teria morrido em 1974, mais ou menos. Viveu todo esse tempo no Paraguai”, disse à EFE Llano, que afirma que, assim como Stroessner “fez desaparecer tanta gente”, tinha um “domínio absoluto” para mantê-lo incógnito.
A obra de Llano corrobora a teoria do jornalista argentino Abel Basti, quem em seu livro “Bariloche nazista-guia turístico”, publicado no começo deste ano, afirma que Hitler viveu na Patagônia argentina depois de fugir da Alemanha, da mesma forma que fizeram vários de seus ex-colaboradores.
“Embora lamentavelmente não tenho lido seu livro, concordamos com Basti em um dos lugares em que Hitler esteve hospedado, a estância San Ramón, à qual dedico um capítulo”, disse o autor paraguaio, que disse que seu livro será lançado dentro de um mês em Buenos Aires, e terá uma versão em alemão, entre outros idiomas.
Segundo Llano, autor de várias obras sobre políticos paraguaios do começo do século passado, a chegada dos ex-dirigentes nazistas coincide com o mandato de Juan Domingo Perón na Argentina e a simpatia que Hitler gozava no Paraguai.
Stroessner deu refúgio a Perón depois de ser derrubado em setembro de 1955 e atrás Hitler chegou ao Paraguai, “onde havia um governo mais nazista que o da Argentina e havia um serviço de inteligência de primeira linha para manter incógnito uma pessoa”, segundo Llano, de 72 anos.
As conclusões se baseiam em documentos e entrevistas com civis e militares paraguaios que integravam uma loja maçônica simpatizante do nazismo na década de 50 e ocupavam postos-chave nos círculos do poder, assim como no testemunho da enfermeira de um hospital de imigrantes alemães situado na região do Chaco, oeste do país.
O historiador descarta que Hitler tenha cometido suicídio, já que era conhecido por sua enérgica postura contra os que adotavam essa decisão, ainda nos momentos mais extremos.
Nesse sentido, lembrou que o führer criticou a atitude de quatro altos oficiais nazistas envolvidos em um atentado cometido contra ele no dia 20 de julho de 1944 que optaram por suicidar-se antes de ser fuzilados, em uma conversa com Martin Bormann, seu secretário e confidente.
“Estes que se suicidam, dizia Hitler, têm uma morte menos digna que aqueles que são fuzilados”, assinalou Llano, assegurando que tanto na Argentina como no Paraguai foi construída uma complexa organização para proteger e dar amparo aos criminosos de guerra nazistas.
Stroessner, asilado em Brasília desde sua deposição, em 1989, “é de origem alemã e está provado que em seus 34 anos (de mandato) nunca deu atenção a nenhum pedido dos governos dos Estados Unidos, França, Alemanha e Israel” em relação aos nazistas procurados pela Justiça desses países.
“Logicamente Hitler não ficaria à vista como ficou (Joseph) Menguele, que por conta própria se apresentou (em 1958) ào Corte para pedir sua carta de naturalização”, disse Llano, citando um dos tantos ex-dirigentes nazistas que passaram pelo Paraguai.
Além de Menguele, que morreu em Bertigoa, no estado de São Paulo, em 1979, durante o governo “stronista” encontraram refúgio Martin Bormann e Eduard Roschmann, de quem Llano também se ocupa em sua obra.
Roschmann, o “carniceiro de Riga”, morreu em Assunção em 1977.