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domingo, 21 de dezembro de 2025

Alfabetização recupera auto-estima de pessoas carentes

29/07/2004 17h01 – Atualizado em 29/07/2004 17h01

Mesmo sem entender a composição das letras, ela escreve o nome com orgulho: Josefa Santana. A bela grafia disfarça a limitação, mas não o aborrecimento: “Para mim, as palavras não dizem nada. Eu tenho muita vergonha de não saber ler”. Trabalhando como faxineira da rodoviária há oito anos, a futura aluna do Mova-MS Alfabetizado de 2004 não pôde estudar, quando criança, porque já trabalhava na lavoura e o pai tinha receio de que o conhecimento levasse as duas filhas a escreverem cartas para namorados. “Ele foi um excelente pai, mas essa coisa de escrita ele não aceitava, isso não entrava em casa.”

Casou-se com seu primeiro namorado, teve quatro filhos e nunca mais teve oportunidade de estudar. Devido a problemas de memória, que adquiriu depois de um derrame, Josefa esquece o aprendizado, tendo que voltar sempre ao início. Porém, nem mais essa barreira a desanima. “Eu gostaria muito de aprender. Ainda quero poder ler os livrinhos e os folhetos da missa”, diz.

Já o vendedor de doces na rodoviária Luís Barros da Silva, mesmo com pouco tempo, aprendeu todo o alfabeto e lê algumas palavras. Como bom comerciante, faz conta de cabeça. Com satisfação, ele lembra que, quando o assunto era cálculo, saía na frente dos colegas da turma, na sala da rodoviária onde assistiu a algumas aulas do Mova-MS, em 2003. “Eu ainda não consigo escrever, mas número é comigo mesmo. Adoro matemática”, diz com entusiasmo, enquanto recebe R$ 0,80 de um menino que comprou um saco de pipoca.

A vontade de aprender a ler e a escrever tem um motivo especial – e comovente – para Luís: escrever uma carta. O destinatário pode ser tanto o filho que mora no Ceará, quanto os amigos que ficaram no Pernambuco. “Eu poderia pedir para alguém escrever para mim, mas não seria a mesma coisa. Primeiro eu teria que falar dos meus sentimentos para outra pessoa e segundo eu não saberia o que está escrito”, explica.

“Criado na rua”, como ele próprio diz, Luís não conheceu os pais, nem os irmãos. Emocionado, o vendedor, que hoje tem 51 anos, conta sua saga de Triunfo, no Pernambuco, até Mato Grosso do Sul, em busca de melhores oportunidades de emprego. Chegou em Campo Grande em 1996 e, segundo ele, deve à cidade tudo o que conseguiu. “Eu amo as pessoas daqui, são as pessoas que me acolheram. Essa cidade me deu tudo o que tenho hoje”, afirma. Suas barracas de doces no terminal rodoviário garantiram-lhe o sustento e o estudo de seus dois filhos, uma casa própria e um carro novo. “Agora, só me falta aprender a ler e a escrever”. Ansioso, ele aguarda o reinício das aulas do Mova-MS e incentiva a esposa, também analfabeta, a entrar no programa.

Fonte:Reporter MS

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