21/08/2004 11h21 – Atualizado em 21/08/2004 11h21
Nesta sexta-feira (20), estréia o primeiro longa de Jayme Monjardim, Olga. Baseado no livro homônimo de Fernando Morais, conta a vida, paixões e morte de Olga Benário Prestes, comunista alemã que depois de uma ascensão rápida dentro do movimento comunista do entre guerras no século passado, foi entregue grávida a Hitler pelo governo de Getúlio Vargas.
Olga (Camila Morgado) foi filha de Leo Benário (Luiz Melo), advogado social-democrata de carteirinha da Alemanha dos anos 20. Sentiu junto com o povo alemão os castigos que o pós-guerra impôs, a inflação astronômica, a ascensão do nazismo. Seu pai sempre lhe incentivou leituras progressistas e os laudos de processos que advogava a favor de camponeses e trabalhadores que não tinham condições de pagar sua própria defesa. Quando começou a conhecer a literatura marxista, as discussões com seu pai se aprofundaram e ajudaram a formar uma militante de visão teórica, que buscava explicação para as injustiças do capitalismo em sua fase, até então, mais perversa.
Sua ação na Juventude Comunista é retratada no filme, com uma manifestação de rua em que ela e seus companheiros entram em choque com os nazistas. As atividades partidárias estão implícitas, mas não são negadas. Até porque Olga Benário era militante do Partido Comunista Alemão, nunca deixou de o ser, nem mesmo em seu último suspiro. Referência da KIM (Kommunisti Internationali Molodoi – Internacional Comunista Juvenil) depois de um assalto para libertar seu companheiro, Otto Braun, de um julgamento, Olga foi para Moscou ser preparada como quadro preferencial do movimento comunista mundial. Mulher de grande coragem, que Camila Morgado representa além da força dos olhos, se dispôs, após o convite do próprio Dimitri Manuilski, a fazer a segurança do revolucionário brasileiro Luis Carlos Prestes em sua volta para construir a revolução no Brasil.
Em coletiva de imprensa sobre o lançamento do filme, Fernando Morais disse se sentir “bastante satisfeito” com a adaptação que a produtora Rita Buzzar buscou para inserir Prestes na história. “Numa fala ela sintetizou dois capítulos sem perder o conteúdo”, disse o autor do livro. “Ela ouve outros comunistas, provavelmente argentinos ou bolivianos, comentarem sobre a coluna invicta na América do Sul, e pronto”. A cena acontece ainda em Moscou.
O que era ficção se torna realidade na vinda para o Brasil, Olga e Prestes se apaixonam ao atracar em Nova Iorque. O longo percurso, num zigue zague pelo mundo para despistar os espiões do ocidente e as mordomias da fachada de casal, juntaram os dois comunistas de histórias muito fortes. A cena comove ao mostrar que até então Prestes não conhecia os prazeres do amor.
Num deslize já cometido pelo livro, “Miranda”, o secretário-geral do Partido Comunista do Brasil, se refere ao PC como Brasileiro, antecipando em 25 anos a existência de tal organização partidária. Passa-se rápido pelo levante de 1935, mostrando alguns motivos do fracasso e a prisão que tem a famosa cena de Olga se atirando entre Prestes e as carabinas da polícia, dizendo: “Não atirem, ele está desarmado”. E logo depois, não menos comovente, o momento em que Prestes ainda se lembraria emocionado mais de cinqüenta anos depois, quando os dois são separados à força e se olham pela última vez pelas grades de um elevador onde ele é levado por soldados.
A partir daí, Olga é pressionada a sair do Brasil a ir para a Alemanha, apesar de estar grávida. As campanhas dos presos políticos não foram suficientes para abafar a sede de sangue do fascista brasileiro Filinto Muller (Floriano Peixoto). Assim, Olga partiu para as mãos de Adolf Hitler e lá foi encarcerada. Dona Leocádia (Fernanda Montenegro), mãe de Prestes, junto com sua filha Ligia, fez uma campanha pela Europa para a libertação de seu filho e sua nora. Mulher de fibra, saiu dos afazeres de dona de casa para viajar por uma luta que tinha poucas chances. Mas a neta foi resgatada e Olga se tornou uma prisioneira com um rumo a seguir: a morte. Na troca de cartas com Prestes, d. Leocádia e a própria filha, Olga se prepara para o inevitável.
Jayme Monjardim com todo o seu currículo de televisão acertou no tema e no enfoque. Olga ser resgatada quase vinte anos depois do lançamento do livro, significa apresentar uma mulher de coragem, de sentimentos nobres, uma comunista de grande valor moral, a uma nova geração que carece de referências. Ver o filme é atualizar a certeza que mesmo no período de guerra, onde a frieza pode dominar muitos corações sempre haverá homens e mulheres que lutarão com paixão pelo “justo, pelo bom e pelo melhor do mundo”.
Fonte:POP




