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sábado, 3 de maio de 2025

Morte de repórter gera protesto entre jornalistas de SP

25/09/2004 11h28 – Atualizado em 25/09/2004 11h28

O repórter Bruno Kauffmann, 31, que trabalhava na EPTV de Ribeirão Preto, emissora afiliada da Rede Globo, faleceu ontem à noite vitimado por um acidente de carro na rodovia Alexandre Balbo, conhecida como Anel Viário Norte, no município de Ribeirão. O jornalista retornava de uma matéria sobre uma seletiva para os Jogos Pan-americanos de Ginástica Artística Juvenil, que havia acabado de gravar, em Barretos, dirigindo o veículo da emissora.

Segundo testemunhas, quando o carro do repórter passava por um trecho em obras na rodovia, outro veículo vinha na contramão. Forçado a sair para o acostamento, Bruno perdeu o controle do carro da EPTV e capotou, ficando preso às ferragens. Infelizmente, não resistiu aos ferimentos.

Bruno Kauffmann estava acompanhado pelo cinegrafista Sebastião Elias de Souza, 48, que sofreu fratura na clavícula, mas já está fora de perigo, repousando em casa. Um inquérito policial foi aberto para investigar o caso. A regional de Ribeirão Preto do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo decretou três dias de luto oficial. O corpo do repórter foi enterrado no Cemitério do Paquetá, em Santos, sua cidade natal. Bruno Kauffmann veio da afiliada da Rede Globo de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, e desde março trabalhava na EPTV de Ribeirão Preto, na editoria de esportes. Irreverência e bom humor eram os pontos fortes de suas reportagens.

Nota oficial – Acúmulo que mata

Os jornalistas de São Paulo estão de luto! O luto é pela morte prematura de um colega de 31 anos de idade, quando dirigia a viatura da EPTV de Ribeirão Preto, depois de um dia de trabalho. O Sindicato e a Federação Nacional dos Jornalistas estiveram presentes no enterro do colega. Solidarizam-se com os familiares e amigos neste momento de dor. Mas, o luto é também devido à irresponsabilidade dos empresários brasileiros de mídia que, para economizar o dinheiro das empresas, obrigam o repórter cinematográfico e muitas vezes o próprio repórter a acumular funções, transformando-os em jornalistas-motoristas.

Até onde vai a irresponsabilidade dos proprietários e dirigentes dessas emissoras, que está provocando a morte de seus trabalhadores? Nós, dirigentes sindicais, perguntamos diretamente aos diretores da EPTV: os senhores estão satisfeitos?

Desde quando se teve essa idéia, de obrigar jornalistas de algumas emissoras afiliadas da Rede Globo a acumular funções, as críticas vieram não só do meio sindical. Dentro do Sistema Globo, elas foram explícitas aos que adotaram tal decisão. Dizia-se – e disso tivemos notícia desde sempre – que alguma desgraça haveria de acontecer. O problema, é bom que se diga, não se restringe às afiliadas da Rede Globo. Hoje, exige-se que o jornalista seja motorista em várias emissoras, quando não que participe de verdadeiros rallies. São conhecidos os casos dos chamados ‘motolinks’ em São Paulo (Rede TV!, Record, Bandeirantes e SBT) que se envolveram em acidentes, alguns deles fatais.

Perguntamos novamente: até onde vai a irresponsabilidade dos executivos da televisão brasileira, que já provoca mortes? Não seria este um momento mais do que oportuno para repensar essas práticas de precarização da mão-de-obra do jornalista? Que tal voltar a contratar motoristas para dirigir os veículos das empresas, e deixar que os jornalistas cumpram suas funções profissionais sem essa sobrecarga temerária?

Deixamos essas perguntas no ar, por enquanto. Certamente o Sindicato e a FENAJ tomarão outras medidas, aquelas que forem possíveis, seja no sentido de buscar as conversações que levem a uma reversão dessas situações, seja no sentido de, por vias legais, atingir essa finalidade. E dirigem-se aos colegas para que estes se solidarizem com essas iniciativas e as apoiem. Se lá em cima não há responsabilidade com a preservação da vida, não vamos, nós, profissionais, ficar omissos nessa questão.

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