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quinta-feira, 29 de maio de 2025

Drama no futebol: Serginho desmaia em campo e morre

28/10/2004 07h05 – Atualizado em 28/10/2004 07h05

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Os médicos tanto do São Caetano quanto do São Paulo tentaram, por meio de massagem cardíaca, reanimar o jogador, sem sucesso, após ser constatada uma parada cardio-respiratória.

A “maca-móvel” entrou urgentemente em campo e retirou o jogador, que foi atendido dentro de uma unidade médica dentro do próprio estádio do Morumbi e foi, posteriormente, transferido para o Hospital São Luiz, nas proximidades do local de jogo.

A esposa do jogador, Liliane, chegou ao hospital, acompanhada do presidente do clube do ABC, Nairo Ferreira. Bastante transtornada e chorando bastante, ela não quis (obviamente) conversar com a imprensa, assim como o dirigente. Minutos depois, porém, ela deixou, aos prantos, o local, ao ser informada do falecimento do marido.

Serginho entrou na ambulância que o levaria ao hospital totalmente coberto. Ninguém sabe dizer ainda se o jogador conseguiu, ou não, ser reanimado, dado o seu quadro de parada cardio-respiratória. Confira a íntegra do boletim médico divulgado pela assessoria de imprensa do hospital.

Informamos que o jogador de futebol, Paulo Sérgio de Oliveira da Silva, vivo há 30 anos, teve o primeiro atendimento médico ainda no gramado do estádio do Morumbi, pelas equipes médicas do São Caetano e do São Paulo, sendo transferido imediatamente para o centro médico do estádio, onde foram iniciadas as manobras do protocolo de ressuscitação cardio-pulmonar, que tiveram continuidade durante a remoção por ambulância UTI até o Hospital São Luiz – traço unidade Morumbi.

O jogador deu entrada no hospital às 22h05 e, apesar de todos os esforços da equipe médica que o assistiu, o mesmo veio a falecer às 22h45.

Assinado: diretoria clínica

“Foi uma fatalidade. Fui solicitado para dar uma ajuda, mas nada pude fazer. Poucas vezes vi isso no futebol”, disse o médico Joaquim Grava, ex-Corinthians, que ressaltou ainda ser impossível dizer a causa mortis do atleta. “Isso só com uma autópsia, que deverá ser feita”.

O corpo do jogador já foi transferido ainda nesta madrugada para o Instituto Médico Legal, local onde será realizada a necrópsia para diagnosticar a sua causa mortis. Futura Press

Euller é consolado pelos companheiros: morte súbita que choca o futebol brasileiro

“O Serginho teve um atendimento rápido, todas as técnicas possíveis de reanimação foram usadas. Só que, infelizmente, não se pode ter solução para todos os casos”, confessou, no hospital, o diretor de futebol do São Paulo e médico, Marco Aurélio Cunha.

“O jogador teve provavelmente a parada cardíaca no momento em que caiu em campo e as técnicas utilizadadas podem ter dado apenas uma ‘sobrevida’ ao Serginho. Existem casos que a instabilidade cardíaca torna-se irreversível”, completou.

O médico oficial do São Paulo, José Sanchez, que ajudou no pronto atendimento ao jogador, deu mais detalhes do fatídico caso. “Ele sofreu a parada cardio respiratória e primeiro foi feita a massagem cardíaca, antes de ser usado o desfibrilador (equipamento eletrônico usado para a reanimação) ainda no ambulatório. O Serginho saiu do Morumbi em estado muito grave”, explicou Sanchez, sem cravar o fato de o jogador ter saído do estádio já sem vida.

Quem também apareceu no hospital São Luiz foi o presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo del Nero, que ficou sabendo do acontecimento “pelas rádios”. O dirigente não soube dizer se houve ou não falha médica no atendimento ao jogador. “Eu não sou médico e não sei dizer, mas creio que não deve ter havido falha, já que haviam muitos profissionais envolvidos no atendimento. Eles sabiam o que fazer”, disse.

Jogadores como o meia Paulo Miranda e os volantes Magrão e Claudecir, do Palmeiras, jogadores que já atuaram com Serginho, também compareceram ao hospital. Gustavo, que estava suspenso para enfrentar o Tricolor, estava juntos. Pedrinho, Corrêa, Mineiro, muitos vieram prestar sua solidariedade. Todos choravam muito, comovidos com a perda do companheiro.

Ainda não se sabe o local nem a hora do sepultamento do jogador, que deve ser realizado nesta quinta-feira.

Já sabiam do problema?

“Ele tinha feito um exame e havia sido detectado um probleminha, não sei dizer ao certo. Mas parece que a chance de isso acontecer era de 1%”, afirmou Silvio Luiz, goleiro do Azulão, ao falar sobre os exames médicos que são feitos nos jogadores na pré-temporada.

Serginho teria, inclusive, assinado um termo de responsabilidade para continuar atuando pelo Azulão e confessado a amigos próximos que já pensava em abandonar o futebol um pouco precocemente em função do seu problema.

Para o atual treinador do Atlético-MG, Mário Sérgio, que já treinou o clube do ABC, o São Caetano foi negligente. Muito emocionado, ele afirmou ter sido procurado recentemente por seu filho Bruno, que era procurador do zagueiro, que teria lhe pedido a indicação de seu cardiologista particular. “Na pré-temporada, foi detectado que o jogador tinha arritmia”, afirmou, em entrevista à rádio “Jovem Pan”.

Segundo Mário Sérgio, seu filho ficou arrasado com a morte de Serginho. “Eles eram muito amigos”, lembrou o técnico, revoltado com o fato de o São Caetano não ter orientado o jogador a encerrar a carreira. “Pela sobrevivência de sua família, ele assinaria qualquer coisa”, disse o treinador, alegando que o jogador teria assinado um termo de responsabilidade para continuar no time.

A partida entre São Paulo e São Caetano, decisiva na briga por uma vaga na Libertadores e até pela liderança do Brasileirão, foi adiada pelo árbitro Cléber Welington Abade, em virtude do acontecimento. A súmula será recebida pela CBF, que decidiu que os 31 minutos restantes do confronto serão disputador numa data ainda a ser definida.

O que já se sabe com precisão é que o próximo confronto do São Caetano, que seria realizado no próximo sábado, diante do Paraná, já está cancelado. O que se discute, no momento, é o cancelamento de toda a rodada. A CBF decretou também luto oficial de três dias.

Desmaio e desespero

O desmaio e parada cardio respiratória de Serginho em muito lembrou o lance do húngaro Miklos Feher, do Benfica, que morreu numa partida pelo clube português, e do camaronês Marc Vivien Foe, que faleceu também em jogo, pela seleção de Camarões, na Copa das Confederações.

O zagueiro do Azulão caminhava na pequena área, enquanto a bola se preparava para ser reposta em jogo pelo goleiro Silvio Luiz. Serginho agachou-se, como se sentisse uma tontura, e desmaiou aos pés do atacante Grafite.

Imediatamente veio o desespero. Os médicos do São Caetano fizeram massagem cardíaca no atleta, seguida de respiração “boca-a-boca” – procedimento de praxe nestes casos. Os jogadores dos dois clubes, perplexos, choravam copiosamente.

Após Serginho ser retirado de campo pela ambulância, todos os jogadores se reuniram no gramado para rezar. “É uma situação que a gente nunca pensa que vai passar, viver. Estamos todos rezando muito por ele”, disse o técnico Leão.

A torcida também fez a sua parte cantando em coro o nome do jogador. No painel eletrônico do Morumbi, tinha a mensagem: “Serginho, oramos por você”. Em outras partidas do Brasileirão, seguiram as homenagens. No Maracanã, onde jogavam Flamengo e Santos, foi feito um minuto de silêncio.

No Heriberto Hülse, em Criciúma, o drama atingiu em cheio os jogadores do Corinthians, que enfrentavam a equipe local. O volante Fabinho, ex-companheiro de Serginho no próprio São Caetano, chorou muito, assim como o técnico Tite, ex-treinador do zagueiro do Azulão.

“A gente esteve junto ainda na semana passada. Poxa, não dá para acreditar numa coisa dessas”, disse Fabinho, às lágrimas, caminhando para o vestiário após o empate por 1 a 1 entre as duas equipes.

Carreira

Natural de Vitória, capital do Espírito Santo, Paulo Sérgio de Oliveira Silva,
o Serginho, tinha 30 anos recém-completados no última dia 19. Começou a carreira em Minas Gerais, onde atuou pelo Patrocinense, de Minas Gerais, em 1995.

Depois passou por Social-MG (95-96 e 97-98), Democrata-MG (96), Mogi Mirim (96), Ipatinga (98) e Araçatuba (99). Serginho chegou ao São Caetano em 99 e participou de todo a ascensão do clube do ABC no cenário do futebol brasileiro.

Foi vice-campeão da Copa João Havelange, quando o Azulão começava a mostrar a sua força sob o comando de Jair Picerni, naquela tumultuada final diante do Vasco. Também foi vice-campeão Brasileiro em 2001 e vice da Libertadores do ano seguinte. Seu primeiro título com equipe foi a conquista do Campeonato Paulista deste ano em cima do Paulista de Jundiaí.

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