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terça-feira, 9 de setembro de 2025

Yasser Arafat é enterrado diante de multidão em Ramallah

12/11/2004 13h50 – Atualizado em 12/11/2004 13h50

BBC Brasil

Uma multidão formada por milhares de palestinos acompanhou nesta sexta-feira o enterro de Yasser Arafat, no quartel-general do presidente da Autoridade Palestina em Ramallah, na Cisjordânia. Guardas das forças de segurança palestinas dispararam tiros para o ar enquanto a multidão tentava se aproximar do helicóptero que transportava o corpo de Arafat.

Após um atraso de cerca de 20 minutos e em meio a cenas de caos, o caixão com o corpo do líder palestino foi transferido do helicóptero para um jipe. O veículo levou o caixão de Arafat pelo meio da multidão, que acenava com os punhos cerrados, gritava e subia em muros e postes de eletricidade para dar adeus ao líder palestino.

O corpo de Arafat foi sepultado em Ramallah com a terra do local onde fica a mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, onde Arafat queria ser enterrado. A Mukata, como é conhecido o complexo de prédios onde fica o quartel palestino, é cercada por um muro de cerca de 3 metros de altura, protegido também por arames farpados.

Antes mesmo da chegada do corpo, a multidão já havia tomado o muro e se apoiava no arame farpado para poder ver a chegada do líder. Houve momentos de confusão já na parte da manhã. Um grupo de manifestantes que estava bem na porta do quartel-general, cantando e gritando slogans pró-Arafat, tentou forçar a entrada no local.

Para tentar evitar tumultos, um grupo de militares subiu no telhado da guarita que protege a entrada, munido de microfone e uma caixa de som. Eles pediam calma à população. “Eu vim de Jerusalém porque Arafat era o pai do povo palestino, e ele era muito importante para nós”, disse a estudante Lana Kanleh.

Em meio ao tumulto e ao grande calor que faz na cidade, algumas mulheres tiveram de ser retiradas da multidão porque haviam desmaiado. Cerca de 3 mil policiais das várias divisões que existem na estrutura de segurança palestina foram chamados para tentar organizar o evento.

“Muitas pessoas ainda virão para cá”, diz o estudante Fadi, que preferiu não dar o nome completo por medo de represálias dos israelenses. “O problema é que Israel está dificultando a viagem de palestinos de outras cidades para Ramallah.” Embora Israel tenha preparado um forte esquema de segurança em todos os territórios ocupados para o enterro de Arafat, autoridades israelenses disseram nesta sexta-feira que vão permitir a viagem de ônibus de outras cidades a Ramallah.

A movimentação por causa do enterro de Arafat nesta sexta-feira contrasta com a relativa apatia inicial das pessoas após o anúncio da morte do líder palestino. Na manhã em que a morte de Arafat foi anunciada, apenas pequenos grupos de palestinos se concentraram em frente à Mukata. Em alguns momentos, o número de jornalistas era bem maior do que o de manifestantes.

Na quinta-feira, ainda na parte da manhã, quando uma mulher que estava sentada em frente ao quartel-general começou a chorar, vários fotógrafos e cinegrafistas chegaram a fazer um empurra-empurra para conseguir o melhor ângulo.

Também durante a quinta-feira, a estreita rua de mão única que fica em frente ao QG e que se chama Chirac em homenagem ao presidente francês Jacques Chirac, foi visitada de maneira intermitente por pequenos grupos de manifestantes. O maior grupo não passou de mil pessoas.

Um dos momentos mais tensos do dia ocorreu quando seis membros da Brigada de Mártires de Al-Aqsa desfilaram em frente ao QG para as câmeras, com suas metralhadoras, capuzes pretos e pistolas em punho. De novo, a mídia disputou a tapas a melhor imagem. Para o contador Kamel Ali, uma série de motivos explica a apatia inicial da população. “As pessoas ficaram muito confusas com as informações desencontradas sobre a saúde de Arafat”, disse o palestino.

“O Ramadã (o mês sagrado dos palestinos) também contribuiu para distrair a população. Mas agora que ele morreu, e seu corpo está vindo para Ramallah, as demonstrações começaram”, acrescentou Ali. Há a expectativa de que milhares de pessoas de outras cidades, assim como uma boa parcela dos 130 mil habitantes de Ramallah, tentem visitar o túmulo de Arafat após o enterro.

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