23/11/2004 14h20 – Atualizado em 23/11/2004 14h20
Jornal o Globo
Depois de passar a campanha eleitoral deste ano pondo apelidos nos adversários, o prefeito reeleito do Rio, Cesar Maia (PFL), foi chamado ontem de mentiroso e acusado de ter praticado estelionato eleitoral. Foi uma reação ao anúncio feito anteontem por Cesar de que pretende ser candidato a governador ou a presidente da República em 2006, apesar de ter passado toda a campanha deste ano garantindo que seu projeto era governar a cidade até o fim do novo mandato. Cesar foi acusado de ter traído 1,7 milhão de eleitores que acreditaram nele e o consagraram no primeiro turno, tendo sido surpreendidos agora, antes mesmo de ser reempossado, pelo anúncio de que pode deixar a prefeitura.
— Estou perplexa — reagiu a deputada federal Denise Frossard (sem partido, RJ). — É a tragédia do Rio. A cidade fica mais uma vez entregue à própria sorte. É um golpe pelas costas. Os eleitores dele não vão gostar disso, e ele também foi indelicado com o vice, o deputado Otávio Leite, ao dizer que o ensinará a ser prefeito.
Candidato do PT na eleição deste ano, o deputado federal Jorge Bittar protestou:
— Isto se chama estelionato eleitoral. Ele agora tem apelido também. Pinóquio cai como uma luva. Ele sequer se sentou na cadeira de prefeito reeleito. Isso é muito grave e creio que foi premeditado.
Também derrotada por Cesar, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) não se disse surpresa, pois o acusara de ter a intenção de não cumprir o terceiro mandato e ele negara.
— Isso é um acinte. O Rio de Janeiro elegeu um blefe. E elegeu não o Cesar Maia, mas o Otávio Leite — disse ela.
Já o senador Marcelo Crivella (PL-RJ), segundo colocado na disputa pela prefeitura, pediu a renúncia de Cesar Maia:
— Ele tem de renunciar para eu assumir. Ele usou o Rio como trampolim. Vai ser um prefeito desanimado. Isso é muito ruim para o Rio, e os eleitores vão cobrar dele lá na frente.
Para justificar a mudança de atitude, Cesar disse ontem que não pode se “negar a oferecer uma alternativa para o país”:
— Durante o processo eleitoral, vivi exclusivamente focado na cidade do Rio de Janeiro. Acabado esse período, a gente passa a olhar o que aconteceu no ano de 2004 no Brasil. É um dever oferecer essa alternativa para o Rio e para o país — disse ele ao “RJ-TV”.
Em São Paulo, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), disse que Cesar será o candidato do partido à Presidência em 2006.



