23/11/2004 15h42 – Atualizado em 23/11/2004 15h42
MS Noticias
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Pantanal) propôs hoje, em reunião com o Sindicato Rural de Corumbá e órgãos governamentais, a formação de um comitê liderado pela comunidade pantaneira para desencadear o processo de tomada de decisões efetivas para recuperar o rio Taquari, onde ocorre um dos maiores acidentes ambientais do país devido ao assoreamento e conseqüente inundação da planície. O órgão de pesquisa apresentou novos estudos da região afetada, que podem servir de subsídios para as decisões políticas.
No encontro com os fazendeiros e representantes do Ibama, Administração da Hidrovia do Paraguai (Ahipar), Incra e técnicos da área, a Embrapa Pantanal expôs o resultado do trabalho que vem sendo realizado por seus pesquisadores, do Instituto Alterra e instituições holandesas, apontando alternativas viáveis para o manejo adequado do rio. Os pesquisadores concluíram, por exemplo, que a simples dragagem não reduzirá os impactos ambientais e econômicos na região, sendo necessária mais de uma intervenção.
O processo de assoreamento do Taquari teve início nos anos 80, com a abertura da fronteira agrícola no norte do Estado. A derrubada da mata ciliar implicou no desastre ecológico, mas as pesquisas indicam, também, que o entupimento do rio foi natural e a segunda causa seria a perda da vegetação. O volume de água aumentou 40% com o uso inadequado do solo no planalto. A inundação reduziu a produção pecuária e pesqueira, em 60%, e provocou o êxodo nas pequenas colônias, expulsando mais de 250 famílias.
Com a experiência de atuar em áreas úmidas na Holanda e após os estudos in loco no Taquari, os pesquisadores daquele país concluíram que o reflorestamento de 10% da área afetada reduziria em 15% a vazão da água, que hoje inunda permanentemente 5 mil km2 e atinge a um total de 11 mil km2 dos pantanais da Nhecolândia e do Paiaguás, em Corumbá. Uma segunda medida seria construir uma barragem, acima da cidade de Coxim, para conter até 40% da sedimentação que carreia para a planície.
Longo prazo – A dragagem, segundo os pesquisadores, viria como terceira fase de intervenção para retornar o rio a seu leito natural. Estudos realizados pela Ahipar, em 2000, já previam a construção de uma barragem no planalto (Coxim) e a dragagem não linear da “boca” do Caronal a foz do Taquari, que deságua no rio Paraguai. O simples fechamento do Caronal, segundo os pesquisadores, implicaria em desviar a água para o sul do Pantanal (Nhecolândia), com conseqüências imprevisíveis.
O reflorestamento é necessário para reduzir o processo erosivo, que hoje é responsável pelo depósito cerca de 36 mil toneladas/dia de sedimento (80% de areia fina) na planície pantaneira. A dragagem de cerca de 200 km é uma medida de longo prazo, estimando-se de dez a 30 anos para recuperação do rio, dependendo dos equipamentos utilizados. Os holandeses estimaram a dragagem de 60 milhões de m3, em 350km, ao custo de R$ 180 milhões, mas os fazendeiros consideraram os números exagerados.
Uma grande barragem, avaliam os pesquisadores, tem um custo elevado (R$ 1,4 bilhão) e implicaria em afetar o pulso inundado e impedir a migração dos peixes, cujo estoque reduziu drasticamente nos anos 80 e 90. O pesquisador holandês Rob Jongman, que apresentou as conclusões finais dos estudos, disse que três pequenas barragens seria o projeto ideal pelo custo (R$ 30 milhões) e menores riscos ambientais. O reflorestamento de 2,7 mil km2 no planalto foi estimado em R$ 8 milhões.




