21/12/2004 08h34 – Atualizado em 21/12/2004 08h34
Da Redação
Segundo a coordenadora do Programa Sentinela de Três Lagoas, Sandra Mara de Oliveira, a maioria das adolescentes que entraram na prostituição já sofreram algum tipo de abuso sexual na infância. Só neste ano, o programa registrou quatro casos de adolescentes profissionais do sexo na cidade. “Isso que foi registrado, nós sabemos que esse número é bem maior”, acrescentou.
A faixa etária das garotas que procuram à prostituição é de 13 a 16 anos. Mas a coordenadora explicou que tem informações de crianças de até nove anos envolvidos na rede. “O problema é que nós recebemos informações pouco concretas e estamos tendo dificuldades em flagrar esse tipo de atividade”, comentou. O Programa Sentinela, desde 2001, já atendeu três meninos profissionais do sexo.
Um outro problema que está levando as crianças e adolescentes a se envolverem com a prostituição é o uso de drogas. De acordo com Sandra, na maioria dos casos os adolescentes são usuários de drogas ou tem problemas com o álcool. Cerca de 70% das adolescentes profissionais do sexo estão envolvidas com drogas, na maioria das vezes com o crack.
“O perfil da maioria das vítimas de exploração sexual é de adolescentes que possuem uma família totalmente desestruturada, de baixa renda, vivendo quase na miséria e que devido a esses fatos acabam se envolvendo com drogas e álcool”, acrescentou.
PROBLEMA SOCIAL
Para a coordenadora, o problema da exploração sexual de crianças e adolescentes, não só em Três Lagoas, mas como em todo o mundo é bem mais social do que policial. “A não ser aqueles casos onde existe o aliciador, uma terceira pessoa que fica com parte do dinheiro dos programas”, completou.
A falta de emprego e oportunidades acaba levando os adolescentes a procurarem a prostituição para manter não só a si, mas como toda uma família. “Nós atendemos uma adolescente de 15 anos que tira cerca de R$ 500 por mês e além de criar o filho, ajuda nas despesas da casa dos pais”, comentou. Sandra explicou que isso faz com que a família feche os olhos para o problema, pois torna-se cômodo aos familiares. “Até mesmo porque o trabalho de criança e adolescente é proibido por lei, então eles acabam não tendo de onde tirar o dinheiro e procuram a prostituição”, acrescentou.
SOLUÇÕES
Conforme Sandra, uma das melhores soluções encontradas pelo programa, por enquanto, é trabalhar com redução de danos, ou seja, informando os adolescentes sobre o risco de DSTs e distribuindo preservativos. “Uma adolescente que ganha quase mil reais nas ruas não conseguirá viver com um salário mínimo, não adianta tentar tira-las das ruas, que elas acabam voltando. A miséria é tanta que nós recebemos informações de que meninas estão se prostituindo por R$ 1”, acrescentou.
SONHOS
A coordenadora explicou o que contribui também para o aumento, cada vez maior, de adolescentes na prostituição é a banalização do sexo na mídia. Sandra explicou que a maioria das meninas sonham em encontrar um grande amor em um de seus clientes. “Assim como acontece no filme uma Linda Mulher ou até mesmo, em novelas. Isso acaba confundindo a cabeça das adolescentes”, disse ela. Mesmo com as dificuldades, todas as denúncias recebidas pelo programa são passadas á polícia para investigação.





