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domingo, 20 de julho de 2025

Aumento da obesidade não significa fim da fome, diz CONSEA

12/01/2005 08h53 – Atualizado em 12/01/2005 08h53

CONSEA

A família da gaúcha Elisete Garcia Marques, 42, recebe aproximadamente R$14 por dia catando papelão nas ruas de Porto Alegre. Com esse dinheiro ela e seu marido sustentam os 12 filhos. Para manter uma refeição periódica, recolhe restos de alimentos no Ceasa e em mercados locais. “Muitas vezes falta até o leite para meu filho menor (de oito meses). Daí eu misturo café para completar”, conta Elisete. Ainda assim, a chefe de família possui Índice de Massa Corporal igual a 28, valor superior à faixa considerada normal, de 20 a 25. Esta situação coloca Elisete entre os 38 milhões de brasileiros com excesso de peso, segundo os dados da última Pesquisa sobre Orçamento Familiar (POF) do IBGE.

Sobre a discussão iniciada após a divulgação da pesquisa, que revelou o número de obesos e desnutridos no Brasil, o presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), Chico Menezes, explica que uma pessoa pode estar acima do peso e mal nutrida ao mesmo tempo. Menezes enfatiza que a fome vai além da privação de alimento. “Muitas pessoas são obrigadas a exercer uma atividade degradante em troca de um prato de comida. Vivem a ameaça constante de não ter o que comer ou precisam dispor de outras necessidades básicas para comprar esses alimentos. Ou seja, estão se alimentando, mas não tem esse direito assegurado”, avalia.

O relator nacional dos Direitos Humanos à Alimentação, Água e Terra Rural e observador do CONSEA, Flávio Valente, informa que há também muitas pessoas ficando obesas se alimentando de lixo no Brasil. “A forma como a pesquisa está sendo divulgada é incorreta e pode levar a decisões políticas também incorretas se não forem bem analisadas”, diz Valente. Ainda de acordo com o relator, o estado de desnutrição não pode ser medido somente pela relação peso-altura. “Há micronutrientes que não podem ser detectados nesse tipo de medição, mas colocam essas pessoas em estado de desnutrição” completa.

A coordenadora da Câmara Temática Nutrição e Saúde, do CONSEA, Sônia Lucena, ressalta que crianças desnutridas na infância têm uma grande predisposição para se tornarem adultos obesos. “A pesquisa do IBGE pesou apenas adultos com mais de 20 anos de idade. Não se pode concluir com o levantamento que o problema no Brasil não seja a fome. Está comprovado que há muitas crianças desnutridas que ao chegar a essa idade sofrem de obesidade precoce”, informa Lucena.

Para Chico Menezes, os programas do Governo Federal, como Fome Zero e o Bolsa Família, são uma importante ferramenta na criação de condições sustentáveis para o acesso universal aos alimentos. “Com essas ações e o trabalho de divulgar informações para o consumo de produtos saudáveis, o país terá condições de transformar em realidade a meta do Presidente Lula: assegurar três refeições de qualidade para todos brasileiros”, atesta o presidente do CONSEA.

Outro aspecto que relaciona a fome e a obesidade é a mudança no hábito alimentar do brasileiro. Pela pesquisa do IBGE, houve um aumento no consumo de produtos ricos em calorias, mas a ingestão de frutas e verduras sofreram um decréscimo. “Isso explica em parte o fato de a população pobre estar acima do peso médio. No grupo dos que ganham até R$ 400 verifica-se o alto consumo de açúcar e gorduras, com deficiência de vitamina A, cálcio e ferro”, diz Menezes.

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