01/07/2005 09h02 – Atualizado em 01/07/2005 09h02
Globo Online/CBN
A Prefeitura de São João da Boa Vista, na região central do estado de São Paulo, estabeleceu um decreto que proíbe o uso de chapéus velhos, remendos, trança e pinturas típicas de “caipiras” nas quadrilhas infantis. Segundo a diretoria de Educação, a medida foi implantada porque, do contrário, a cidade não poderia participar do festival ‘Revelando São Paulo’, promovido pelo governo estadual. O regulamento do festival proíbe os tradicionais trajes caipiras nas roupas das quadrilhas infantis. De acordo com os organizadores do projeto, a intenção é mudar a imagem do tradicional “caipira” e resgatar a origem da dança, vinculada à nobreza européia do século XIX. Para o diretor do projeto Revelando São Paulo, Toninho Macedo, o prefeito foi bem intencionado e está no caminho certo ao se preocupar com o resgate das tradições nas festas juninas, mas tomou uma medida equivocada ao baixar decreto proibindo roupas remendadas e chapéus velhos nas danças de ‘quadrilha’. O projeto Revelando São Paulo reúne festivais da cultura paulista tradicional em diversas regiões do estado e existe há 10 anos. – Não é com leis que vamos conseguir promover a recuperação das origens da cultura de São Paulo, por isso acho que ele errou. Mas é louvável ver que tem gente preocupada com o resgate da imagem do caipira, dos piraquaras (habitantes do Vale do Paraíba e região) e dos caiçaras (habitantes do litoral) – comemora Macedo – Ele (o prefeito) fez o certo de forma errada, mas algumas prefeituras estão percebendo cada vez mais que é melhor preservar a cultura tradicional porque assim conseguem atrair mais turistas e manter uma diversidade cultural. O texto do regulamento dos festivais do projeto Revelando São Paulo é claro: todas as danças, músicas ou vestimentas apresentadas nos eventos têm que seguir a tradição e não podem estimular o preconceito. – Quem estabele o que é tradição somos nós que dirigimos o projeto. Temos 33 anos de experiência na área de pesquisa e estudos de cultura brasileira – lembra Macedo, doutor em ciências da comunicação e especialista em cultura brasileira, que vem observando uma mudança na forma como as prefeituras do interior têm organizado suas festas. – Em São Luís do Paraitinga, no Vale do Paraíba, por exemplo, não permitiram tocar música de fora durante o carnaval, porque lá a tradição é de marchinha. E em vez de esvaziar a cidade, a medida trouxe novos visitantes, atraídos pelo inusitado e diferencial. É esse resgate da cultura que queremos promover – afirma Macedo.