15/09/2005 14h21 – Atualizado em 15/09/2005 14h21
NoMínimo
John Troy VII tem 36 anos, é bonito, sexy, romântico, adora poesia e está à procura de uma namorada. Num site de encontros da Internet, há uma foto de Troy, de óculos escuros e peito nu, à beira de uma piscina. “Qual de vocês, moças sortudas, vai ganhar o coração de John e fazê-lo feliz?” – pergunta o pai de Troy, que publicou o anúncio. Troy é um dos 363 homens que estão no corredor da morte da Prisão Estadual da Flórida. Sob o efeito de um coquetel de drogas, ele matou uma vizinha com 44 facadas em setembro de 2001 e foi condenado a morrer com uma injeção letal. Hoje, graças ao anúncio no site WriteAPrisoner, o presidiário se distrai respondendo cartas de candidatas a namorá-lo. Outros 5 mil presos publicam anúncios no mesmo site em busca de alguém para trocar cartas e, assim, diminuir a solidão, receber presentes e fazer sexo nos dias de visita. Os homens pagam de US$ 19,95 a US$ 80 para manter o anúncio por um ano na rede, com texto, foto e endereço da prisão. Para as mulheres, o serviço é de graça. Todo mês, surge um novo site especializado em correspondência para presidiários nos Estados Unidos. Os mais concorridos são Meet An Inmate, Friends Beyond The Wall, Prison Pen Pals, Cyberspace Inmates e Prison Pen Pal. Seguindo outro caminho, o Ladies of the Pen publica exclusivamente anúncios de mulheres e exige US$ 3 do internauta em troca de cada endereço e nome completo para correspondência. “Eu gosto de tudo, de acampar e pescar a dançar nua nos seus braços”, escreveu a presidiária Robbie, uma loura, de 30 anos, que na foto do site lembra a atriz Cameron Diaz. Além de presentes e selos, o site sugere que os interessados enviem dinheiro para as mulheres: “Isso sempre impressiona muito bem!”No WriteAPrisoner.com, os presidiários têm a opção de pedir doações. A maioria diz que não quer, para não afastar interessados. A traficante Jillene Klepser, de 24 anos, dispensa ajuda financeira e legal, segundo seu anúncio. Ela quer apenas um homem “honesto, independente e confiante”. Condenada a três anos por porte de cocaína, Jillene escreve: “Qualquer idade é legal, mas prefiro homens mais velhos.” Adam Lovell, um dos criadores do WriteAPrisoner.com, informa que “os anúncios de mulheres recebem 20 vezes mais visitas do que os de homens” e garante não ter medo da crescente concorrência: “Nosso site está completando cinco anos e não pára de crescer. Com mais de dois milhões de pessoas presas nos Estados Unidos, nós certamente nunca ficaremos sem membros.” Logo abaixo de cada texto de apresentação de presidiário, o site completa o perfil com o endereço da prisão, o crime pelo qual foi condenado, seu signo do zodíaco e sua orientação sexual, entre outros dados. “Temos cerca de 10 mil visitas por dia, sendo 80% dos Estados Unidos. O restante é da Europa, principalmente”, diz Lovell, que aponta os campeões de cartas: “Os homens e mulheres do corredor da morte recebem pelo menos o dobro de correspondência que os outros criminosos”. Apenas na Flórida, em média, cinco condenados à pena de morte se casam por ano.Autora do livro “Women who love men who kill” (Mulheres que amam homens que matam), de 1991, a jornalista Sheila Isenberg entrevistou 30 mulheres que se casaram com homens condenados à pena de morte e, agora, se prepara para voltar ao tema num segundo livro. “Muitas mulheres gostam de presidiários porque eles têm tempo de sobra para romance e não podem passar a noite no bar com os amigos. Elas sabem de seus horários e hábitos e têm mais chances de controlar a relação. Mas o grande atrativo é mesmo o perigo. Elas adoram bad boys. E, por serem considerados os mais perigosos, os homens do corredor da morte são também os mais atraentes para elas”, explica Sheila.Nos fóruns Prison Talk Online e WriteAPrisoner, centenas de homens e mulheres contam suas experiências com prisioneiros e trocam palavras de apoio. O primeiro tem mais de cem tópicos, como pena de morte, visitas, prisões do Caribe e das Américas do Sul e Central – cuja mediadora é uma brasileira, noiva de presidiário – e fotos de casamento. “Um amigo pegou as fotos originais do meu casamento e trocou o fundo da prisão. Ficaram bonitas e eu queria dividir com vocês. Isso significa que existe mais uma coisa que podemos ter além do que todos os outros casais têm”, escreveu uma recém-casada, mostrando fotos com fundos de montanhas nevadas e girassóis. No segundo fórum, uma mulher reclama que seu presidiário faz desenhos eróticos nos envelopes (“Fico sem graça, porque conheço algumas pessoas dos correios. O que eles vão pensar?”) e outra anuncia a gravidez.Também foi lá que a reportagem de NoMínimo encontrou a avalista Cami Baker, de 38 anos, horas antes de oficializar seu noivado com um presidiário. “Estou indo para o aeroporto agora com minha irmã. Vamos passar cinco dias em St Louis, visitando o JB!” – avisou ela. Na volta, Cami contou que entrou na lista de espera para se casar na prisão com o homem que ela conheceu por carta quatro meses atrás. Desde 2000, os anúncios do WriteAPrisoner.com renderam mais de 30 casamentos. “Estamos apaixonados, tive os melhores cinco dias da minha vida na sala de visitas da prisão de St Louis! Minha irmã aprovou o noivado e JB vem morar no Texas com a gente quando for solto, no ano que vem”, diz ela, que paga US$ 225 por mês para falar com o noivo por telefone: “Cada 30 minutos de ligação a cobrar da prisão custa US$ 31,65 (o preço varia de prisão para prisão). Quando chega a US$ 225, eu não posso mais aceitar as chamadas e ele precisa esperar o mês seguinte.”A visita de Cami foi a primeira nos dois anos de prisão de seu noivo, acusado de invasão domiciliar. “Dei um abraço e um beijo breve quando JB apareceu. Depois, ficamos de mãos dadas, mas nossas mãos tinham que ficar em cima da mesa o tempo todo e ele estava algemado. Cada vez que eu ia ao banheiro, era revistada antes e depois”, lembra ela, ainda empolgada com a experiência. Muitos relacionamentos iniciados com a troca de cartas não resistem à liberdade. A australiana Kelly O’Bryan, de 30 anos, ficou desapontada com o primeiro presidiário que conheceu por correspondência. Depois de solto, ele telefonou apenas uma vez e desapareceu. “Nós preenchemos um vazio na vida dos presidiários, mas é algo temporário, a não ser que eles cumpram prisão perpétua ou estejam no corredor da morte. Uma vez em liberdade, querem esquecer a vida na prisão, até mesmo as mulheres com quem se correspondiam… Infelizmente” – lamenta. Kelly agora escreve para o preso que dividia a cela com seu primeiro amigo: “Ele é uma pessoa fantástica e me dá muito apoio emocional. As cartas são uma troca, ele precisa tanto de mim quanto eu preciso dele.”Como a maioria das pessoas que escrevem para presos, Kelly entrou no site por curiosidade e, quando se deu conta, estava virando as noites lendo e relendo anúncios. “Decidi escrever para ver se receberia resposta. Escolhi presos americanos porque me pareceu mais seguro do que escrever para um australiano. Agora, lamento essa distância, porque não tenho como visitá-lo”, confessa. Entre os homens que procuram anúncios de presidiárias, há alguns poucos que querem apenas amizade. É o caso do construtor aposentado Dave (pediu para não revelar o sobrenome), de 56 anos. Casado há 35 anos e pai de duas filhas, ele escreve para presidiárias há dois anos. “Minha primeira escolha foi uma lésbica, numa tentativa de evitar o ciúme da minha mulher. Mas a gente não tinha muita coisa em comum e ela parou de me escrever. A segunda foi uma assassina da Califórnia. Mandei dez cartas e ela me respondeu apenas duas. Na primeira, pediu US$ 20 para comprar fotos e poder me enviar uma. Na segunda carta, pediu US$ 100 para sapatos ortopédicos. Vi que ela só queria dinheiro e escrevi dizendo que não estava dando certo. Na terceira tentativa, achei, no site PrisonPenPals.com, um anúncio de uma mulher mais madura, uma lady de 66 anos. Sem promessa de amizade ou sexo s
elvagem. Simplesmente uma foto, um nome e a frase ‘Por favor, escreva para esta prisioneira’. Ela prendeu minha atenção por duas semanas até que decidi escrever.” Dave teve um ataque de pânico depois de enviar a primeira carta. “Fiquei desesperado, mas passou e logo me senti à vontade para mandar um mapa da cidade onde moro e fotografias de lugares importantes, como os correios, a biblioteca, a igreja onde casei, etc. Marquei cada lugar no mapa, inclusive minha casa. Mandei tudo para ela ter uma idéia visual de como é meu dia-a-dia”, lembra Dave. Agora, vive tentando acalmar sua mulher: “Ela tem muito medo. Às vezes, é ridícula, diz que a gente poder ser atacado no meio da noite ou um dos nossos netos pode ser esfaqueado. Mas, aos poucos, ela está melhorando e já nem liga quando tiro fotos da família para mandar para a presidiária. Espero que um dia ela e minhas filhas comecem a escrever também.”Dave ainda não foi visitar a presidiária. “Já estou na lista de visitas, mas ainda não tive tempo. Moro no Michigan e minha amiga está presa no Texas, vou precisar de alguns dias de viagem. Por causa da pena que ela recebeu (40 anos de prisão, por ter assassinado o marido), a visita será um encontro sem qualquer contato. Nada de abraços, apertos de mão… Será apenas um olhando para o outro através de uma janela de vidro.” Algo além de contas a pagar Enquanto planeja encontrar sua amiga no Texas, Dave faz novas amizades virtuais nos fóruns sobre presidiários: “Viramos uma família. Quando surge um problema, todo mundo ajuda. E, se alguém aparece com uma boa notícia, vira festa”, diz ele. Entre suas amigas de forum, estão a corretora imobiliária Summer Duncan, de 29 anos, e a detetive particular Robin (sobrenome não revelado), de 35 anos, que planejam se casar no ano que vem com homens que conheceram por carta.Summer conta a NoMínimo: “Comecei a escrever para presidiários porque achei que seria ótimo receber algo além de contas a pagar na minha caixa postal. Mandei cartas para três homens e um deles me pediu em casamento depois de um ano. Ele está preso por tentativa de homicídio e deve ganhar a liberdade em, no máximo, quatro anos. Eu o visito três ou quatro vezes por mês e ele me liga a cobrar toda semana. Se tudo der certo, vamos nos casar em agosto do ano que vem.”Robin foi mais cautelosa. Antes de escrever para um presidiário, decidiu criar uma caixa postal e não revelar o nome completo. Nem imaginava que, depois de 19 cartas, estaria fazendo a primeira visita ao futuro marido. “Viajei três horas e meia e, apesar do nervosismo, o encontro foi ótimo. Quero me casar com ele antes do fim da pena, em 2007”, planeja. Robin só falou sobre o relacionamento com seu pai e alguns poucos amigos. “Meu pai aprovou, porque viu que eu estou feliz. Os outros acham que enlouqueci. A verdade é que nós, mulheres, gostamos mesmo de caras fora-da-lei. O problema é que a maioria deles tenta se aproveitar. Meu namorado diz que cerca de 75% dos homens da prisão dele botam anúncios na Internet apenas para conseguir dinheiro, jornais, revistas, selos…” Certas vezes, eles querem mais do que presentes. No mês passado, a enfermeira Jennifer Forsyth, de 31 anos, foi presa depois de matar um guarda ao ajudar seu marido, o presidiário George Hyatte, de 34 anos, a fugir. Apelidados de Bonnie e Clyde, eles se casaram em maio deste ano dentro de uma prisão no Tennessee. Com uma pena de 35 anos por assalto nas costas, ele já tinha tentado escapar outras vezes com a ajuda de namoradas. Jennifer, por sua vez, nunca tinha cometido um crime e foi descrita pelo ex-marido, pai de seus três filhos, como uma mulher exemplar. Obedecendo a uma ordem de Hyatte, no entanto, ela atirou nos dois guardas que levavam o assaltante para a corte e agora também aguarda julgamento.





