26/09/2005 14h59 – Atualizado em 26/09/2005 14h59
Reuters
Mais um jornalista iraquiano que trabalhava para a Reuters foi detido por tempo indeterminado por ordem de um tribunal secreto, e a agência de notícias exigiu na segunda-feira que ele seja libertado, ou que tenha a chance de se defender num tribunal público. O cinegrafista free-lance Samir Mohammed Noor, que há quatro meses foi detido por soldados iraquianos em sua casa na cidade de Tal Afar, foi considerado “uma ameaça às forças de coalizão e à segurança do Iraque” numa audiência secreta realizada na semana passada, disse um porta-voz das Forças Armadas norte-americanas. Ele está no campo de prisioneiros Bucca, no sul do Iraque, e seu caso será revisto daqui a seis meses, disse o tenente-coronel Guy Rudisill. As autoridades norte-americanas já se recusaram várias vezes a divulgar quais são as acusações que pesam sobre o cinegrafista. “As autoridades precisam especificar as acusações contra ele e permitir que ele fale sobre elas abertamente, com o advogado que escolher”, disse o editor global da Reuters, David Schlesinger. “Se isso não ocorrer continuaremos exigindo sua libertação, já que ninguém mostrou nada que abale nossa opinião sobre ele, como um jornalista honesto engajado em exercer sua profissão de forma legítima”. Samir é um dos quatro jornalistas da mídia internacional que estão sendo mantidos presos sem acusação formal pelas Forças Armadas dos Estados Unidos no Iraque. O também cinegrafista da Reuters Ali Omar Abrahem, que foi preso na cidade de Ramadi há quase dois meses, está detido na prisão de Abu Ghraib, perto de Bagdá. O ministro da Justiça do Iraque, que supervisiona junto com oficiais dos EUA o Conselho Combinado de Revisão e Libertação (CRRB) — órgão que controla a prisão de cerca de 10 mil iraquianos —, já manifestou preocupação com o sistema e reclamou que, ao contrário do que dizem os EUA, o governo iraquiano não tem grande influência na questão. Abdul Hussein Shandal também pediu que os jornalistas tenham um fórum especial para permitir que eles tenham acesso a todos os lados do conflito iraquiano, o que os comandantes dos EUA recusam. “Estou extremamente preocupado com a falta de transparência e com os procedimentos legais que levaram à prisão de dois jornalistas legítimos, nossos funcionários, sem nenhuma declaração pública sobre as acusações específicas contra eles”, disse o editor global da Reuters. A rede norte-americana de TV CBS também manifestou preocupação com seu cinegrafista Abdul Amir Younes Hussein, preso na cidade de Mosul. Hussein foi preso num hospital em abril, depois de ter sido atingido por soldados dos EUA. Um tribunal iraquiano afirmou que o caso não justificava o indiciamento, diz a CBS, mas o CRRB ordenou na semana passada que ele continuasse preso. “Estamos preocupados porque ele não teve representação legal na audiência e não teve chance de ver as provas contra ele”, disse a CBS numa nota. Jornalistas de outros órgãos de imprensa internacionais, incluindo a Associated Press e a France-Presse, já ficaram presos por vários meses, para depois foram libertados sem sofrer processo. Parentes dos dois cinegrafistas da Reuters disseram que eles foram presos durante revistas aleatórias a suas casas, quando os soldados assistiram às imagens de suas câmeras. A família de Samir, 30, diz que ele foi tão espancado pelos soldados iraquianos que foi entregue inconsciente aos norte-americanos. Majid Hameed, correspondente em Ramadi da TV Arabiya e repórter free-lance da Reuters, foi preso este mês, e as forças dos EUA ainda não esclareceram o motivo da detenção nem onde ele está.