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sexta-feira, 27 de junho de 2025

Polícia de Londres mentiu sobre morte de Jean, diz família

28/09/2005 15h56 – Atualizado em 28/09/2005 15h56

BBC Brasil

O irmão do eletricista Jean Charles de Menezes, Giovanni da Silva, disse que “a polícia britânica mentiu” sobre as circunstâncias da morte de Jean e acobertou o erro cometido ao balear o brasileiro, confundido com um dos autores de atentados a bomba na capital britânica, em entrevista coletiva em Londres nesta quarta-feira (28). Giovanni disse que em sua visita à estação de metrô de Stockwell, no sul de Londres, onde Jean foi morto no dia 22 de julho, a família viu que havia nove câmeras de circuito fechado e foi informada pela diretora da estação que as gravações feitas pela câmera foram entregues à polícia. Segundo ele, a polícia disse que o sistema de vigilância não funcionava. Patrícia Amorim, prima do eletricista, afirmou ter visto as imagens registradas pelas câmeras da estação de metrô. Segundo ela, as fitas mostram Jean Charles comprando um bilhete, utilizando o passe para passar a catraca e seguindo em direção ao trem – o que contraria versões da polícia de que ele havia saltado a catraca, correndo rumo ao metrô. A advogada britânica Gareth Peirce, que representa a família do brasileiros, diz que há “uma grande ponto de interrogação” pairando sobre o tema das imagens das câmeras de segurança. Peirce afirmou que é necessário encontrar resposta para as seguintes perguntas: “O que foi gravado? O que não foi gravado? E se não foi gravado, por que não foi?” Punição O irmão de Jean Charles de Menezes pediu a punição não apenas de quem puxou o gatilho das armas que mataram Jean, mas também do chefe da polícia britânica, Ian Blair, pela morte do eletricista brasileiro. “Ele não serve para ser policial”, disse a mãe de Jean Charles, Maria, ao se referir a quem baleou o seu filho. Giovanni disse que a família não vai se encontrar com Ian Blair, nessa visita a Londres. Falando sobre o chefe da Polícia Metropolitana, Alex Alves Pereira, primo de Jean Charles, disse que “seria muito difícil a família da vítima se encontrar com o assassino”. Stockwell Na entrada da estação, que foi fechada para o público, Maria, Giovani, o pai de Jean, Matozinhos, e primas pararam na frente das coroas de flores que foram depositadas no local, se abraçaram e choraram muito. Antes de chegar, os parentes de Jean foram ao apartamento em que o brasileiro morava em Londres. No caminho do apartamento para a estação, a mãe de Jean, Maria de Menezes, disse à BBC que a polícia “fez o trabalho todo errado e tem culpa neste caso”. Perguntada se gostaria que o chefe da Polícia Metropolitana de Londres, Ian Blair, renunciasse, ela disse “com certeza”. “Ele, como chefe da polícia, deveria ter passado para os homens que trabalham com ele (a mensagem de) que precisam trabalhar com honestidade. Que não podem tirar a vida de uma pessoa de qualquer maneira”, afirmou Maria. Dor “A polícia já estava há dias vigiando o prédio (onde Jean morava). Então eles tiveram tempo suficiente para parar, identificar e saber quem era a pessoa antes de executar”, disse o irmão do brasileiro, Giovani. “A intenção da polícia foi de matar, de exterminar, de assassinar a pessoa mesmo. Sendo que assassinou, matou uma pessoa inocente.” “Fizeram uma tragédia com a família, uma família boa, que sempre luta e trabalha para ganhar o pão. Nós não roubamos nada de ninguém, trabalhamos honestamente, e meu irmão estava aqui trabalhando, estudando para melhorar a nossa vida e a dele. E eles tiraram a vida dele”, continuou o irmão de Jean. A mãe do brasileiro disse que a vinda a Londres aumentou ainda mais a dor que sente por ter perdido o filho. “É muito dolorido. Não desejaria isso para ninguém”, disse ela, chorando. “Queria meu filho junto comigo. Perdi meu filho, isso acabou com a minha vida, isso acabou comigo. Nós sofremos muito e vamos sofrer enquanto tivermos vida por essa sujeira que eles fizeram com o meu filho.” Imprensa Além de jornalistas e ativistas de direitos humanos, também foram à estação de Stockwell nesta quarta-feira (28) curiosos e algumas pessoas que simplesmente queriam mostrar seu apoio à família. O professor John Harrow foi ao local com uma fotocópia da capa do tablóide britânico The Sun do dia seguinte à morte de Jean Charles. Na manchete, o jornal estampou One Down, Three to Go (“Um Já Foi, Faltam Três”, numa alusão à crença, naquele dia, de que a polícia tinha matado um dos quatro responsáveis pelos atentados frustrados em Londres do dia 21 de julho). Segundo Harrow, ele queria mostrar à família o tipo de cobertura que a imprensa britânica fez do ocorrido. Jean Charles foi morto por policiais de Londres que julgaram que o brasileiro tivesse a intenção de realizar um atentado suicida. Os advogados da família e a Polícia Metropolitana de Londres têm mantido contatos com o intuito de realizar um encontro entre os parentes e representantes policiais, aproveitando a presença da família na capital britânica. Investigação Na quinta-feira (29), a família de Jean deve se encontrar com representantes do órgão que está promovendo uma investigação independente sobre a morte do eletricista – a Comissão Independente de Queixas contra a Polícia (IPCC, na sigla em inglês). Na terça-feira (27), o presidente do IPCC, Nick Hardwick, divulgou um comunicado no qual pediu que órgãos de imprensa britânicos parem de fazer especulações sobre a morte do eletricista. “Estou muito preocupado com recentes relatos na imprensa sobre este caso e peço que isto pare. Liberar informações a conta-gotas não ajuda”, afirmou Hardwick. Na semana passada, uma mulher de 43 anos, cuja identidade não foi revelada, foi detida em conexão com o vazamento do relatório da investigação do IPCC sobre a morte do brasileiro para uma emissora de TV britânica. O suposto relatório vazado trazia informações que contradiziam dados divulgados pela polícia pouco após a morte do brasileiro, entre elas a de que ele teria pulado a roleta da estação de metrô de Stockwell e corrido dos policiais que o perseguiam. O irmão de Jean, Giovani da Silva, de 33 anos, disse que a família irá exigir esclarecimentos dos policiais britânicos. “Vamos procurar o chefe de polícia. Queremos saber tudo o que aconteceu, como aconteceu e por que aconteceu. Queremos que tudo fique bem claro. (Queremos saber) por que a polícia escondeu os fatos”, afirmou Giovani. A viagem e a hospedagem da família de Jean Charles de Menezes foi paga pela Polícia Metropolitana de Londres.

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