03/12/2005 08h27 – Atualizado em 03/12/2005 08h27
Revista Veja
Por que o desempenho econômico do Brasil é mais fraco que o de seus principais concorrentes no mundo? O que o país precisa fazer para melhorar substancialmente a qualidade de vida de sua população? Essas perguntas, que dominam o debate público desde os anos perdidos da década de 80, voltaram à cena com força na semana passada, depois que o IBGE registrou uma queda de 1,2% do produto interno bruto (PIB). Esse resultado marcou a interrupção de um período de oito trimestres de crescimento consecutivo. Foi apenas um soluço da máquina produtiva, que vinha funcionando bem. Mas os culpados pela queda do PIB não demoraram a ser apontados com a ênfase costumeira: juros altos, câmbio valorizado e arrocho do investimento público. Juros e câmbio são fatores que pesam em qualquer economia, mas eles não podem ser manipulados pelo governo com o objetivo de produzir surtos de crescimento. São instrumentos de ajuste fino. Seu poder, porém, é supervalorizado no debate brasileiro. Resquício de nossas crenças ancestrais em soluções mágicas como os planos mirabolantes, os congelamentos e os tabelamentos de preço. VEJA traz um estudo exclusivo feito pela consultoria McKinsey, uma das maiores e mais prestigiadas empresas do ramo no mundo, que ajuda a enxergar a realidade da economia brasileira além dos juros e do câmbio. Por meio de análises e entrevistas com executivos distribuídos em seis setores significativos da economia, a consultoria mapeou cinco barreiras ao crescimento que podem ser removidas com um certo grau de comprometimento da sociedade. O estudo é preciso a ponto de atribuir a cada um dos entraves um valor específico, uma espécie de “coeficiente de arrasto” que se opõe ao avanço da economia brasileira. A pesquisa mostra como o Brasil perdeu terreno na última década, mas traz uma constatação animadora: 65% dessa muralha anticrescimento pode ser demolida com ações pontuais, executadas pelo poder público. Sem esses entraves, o PIB brasileiro poderia triplicar. “O que se conclui é que novos avanços na qualidade de vida dos brasileiros dependem dos próprios brasileiros”, diz Heinz-Peter Elstrodt, responsável pela McKinsey na região do Mercosul. O estudo vem em boa hora. O padrão de vida dos brasileiros avança timidamente, enquanto boa parte do mundo corre em direção ao desenvolvimento. Entre 1995 e 2004, o PIB per capita (total produzido pela economia dividido pelo número de habitantes) cresceu apenas 1,5% em média. No mesmo período, a renda aumentou 2,3% ao ano nos EUA, 3,7% na Coréia do Sul, 4,1% na Índia e 7,6% na China. Como resultado, a renda brasileira, que era 23% da americana em 1995, hoje representa apenas 21%. A McKinsey explica esse desempenho medíocre pelo baixo crescimento da produtividade nesse período, que avançou apenas 0,3% ao ano em média. Há dez anos, a máquina econômica brasileira produzia 23% do que produzia a máquina americana. Hoje a produtividade do Brasil equivale a 18% da americana. Nas próxima páginas, VEJA mostra quais são as barreiras ao aumento da produtividade, indica quais os setores que elas afetam e dá exemplos de como outros países encontraram soluções para esses mesmos problemas e conseguiram elevar o padrão de vida de seus habitantes. Como se verá, a questão do aumento da produtividade é o motor do progresso não inflacionário, modernizador e distribuidor de renda. Só reclamar dos níveis dos juros e do câmbio não aumenta a produtividade.