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domingo, 4 de maio de 2025

Não sobrou nada no governo, diz José Dirceu

08/12/2005 17h29 – Atualizado em 08/12/2005 17h29

FOLHA PRESS

O deputado cassado José Dirceu afirmou que “não sobrou nada no governo” e que as denúncias de corrupção são uma tentativa dos adversários políticos do PT para desestabilizar o governo Luiz Inácio Lula da Silva. As declarações fazem parte de uma entrevista publicada na revista “Fórum” e cuja íntegra foi divulgada pela assessoria de imprensa do ex-parlamentar. A tese de que as denúncias de corrupção são “pretexto” para a direita derrubar o governo é mencionada em pelo menos duas ocasiões da entrevista. Na primeira vez, quando rememora seu histórico de lutas políticas desde os anos 60: “Agora estamos travando um outro tipo de luta. Vou falar com sinceridade: não dou nenhuma importância pro [sic] Roberto Jefferson [deputado cassado e autor das denúncias sobre o “mensalão”] e pras denúncias de corrupção nos Correios. Isso foi um pretexto, uma espoleta”. Em um segundo momento, afirma: “quero repetir: denúncias de corrupção na administração pública federal, e descoberta de caixa 2 no PT são dois pretextos de um grande movimento que a direita do país, o PSDB e o PFL, a esquerda como o PSOL, o PPS, o [Fernando] Gabeira [deputado pelo PV], empalmaram para acabar com a experiência de um governo de esquerda no Brasil”. O deputado cassado também indica que, em sua opinião, o governo Lula foi esvaziado de seus quadros políticos. Quando questionado sobre sua possível cassação [a entrevista foi feita pouco dias antes da votação na Câmara], ele responde: “Eu sou só um símbolo. Na verdade, não sobrou nada no governo. Luiz Gushiken, José Dirceu, no PT, o presidente da Câmara, o líder do governo, José Genoino…Eles querem criminalizar o PT, a esquerda não pode governar, como disse o Thales Alvarenga, que falou que isso era mais uma prova de que a esquerda não sabe governar, são ignorantes, corruptos”. Dirceu centra suas críticas ao PSDB, o PFL e a governo FHC, mas não poupa seu próprio partido nem o governo Lula. “Quando a oposição introduz a violência na vida política brasileira falando que vai surrar o presidente e ninguém criticou, todos apoiaram, quando o [Jorge] Bornhausen [presidente do PFL] fala da ‘raça’, quando falam que o presidente é bandidão e o Fernando Henrique cala, o Tasso Jereissati [presidente do PSDB] cala, os governadores calam, significa que eles querem derrubar o governo”, acusa. Sobre o governo anterior, Dirceu avalia que “o governo Fernando Henrique nunca deixou instalar uma CPI. Se tivesse uma CPI no governo FHC, talvez ela tivesse se transformado em um processo de impeachment e ele disse isso em vários jornais e revistas da época”. Mais adiante, considera que “foi certo não fazer uma devassa no governo FHC”. Em relação ao governo Lula, Dirceu sugere que o presidente não avançou em questões da agenda política do partido e optou por fazer uma transição mais lenta para uma administração de esquerda. “Por mais que esse governo tenha problemas, que não tenha avançado em questões importantes, é o melhor governo que o Brasil teve desde 1985. Comparado com FHC, ganhamos de longe a disputa política”, disse ele. Em relação às denúncias de corrupção, diz: “quero saber se provam que o presidente, o PT, os ministros, o núcleo do governo têm relação. O PT tem que responder, e estamos respondendo, pelos empréstimos, pelo caixa 2, pelo movimento que fizemos de levantar recursos no BMG, nas empresas do [empresário Marcos] Valério. Eles não provaram nada até agora de dinheiro de estatal, de superfaturamento, de contrato fictício”. Ao ser questionado sobre o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e a responsabilidade dele na crise do PT, ele critica o partido pela expulsão do executivo da legenda, que admitiu o uso de “recursos não contabilizados” nas campanhas eleitorais. “Pelo que já foi apurado pela Comissão de Ética do PT, o Delúbio já foi expulso por isso e o Genoino renunciou à presidência. Os mecanismos de controle e de fiscalização não foram respeitados no partido. Quando eu era presidente isso não acontecia. É uma questão que o PT já julgou, senão o Delúbio não teria sido expulso. Votei contra a expulsão, votei pela suspensão de três anos pra esperar acabar toda essa crise”.

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