11/01/2006 17h14 – Atualizado em 11/01/2006 17h14
Folha
Donos de carros a gasolina descobriram um jeito barato, mas irregular e perigoso, para transformar seus veículos em bicombustíveis: a instalação de um chip. Por um mínimo de R$ 60, é possível comprar um kit “Super Flex”, que promete fazer o veículo rodar movido a álcool, gasolina ou com a mistura dos dois combustíveis.Propagandas dos carros “bicombustíveis genéricos” podem ser vistas em inúmeros sites, sendo que a única exigência para a transformação é que o carro tenha injeção eletrônica. Somente nesses veículos é possível implantar o chip, que “engana” o sistema original de injeção eletrônica do carro e faz com o que possa rodar também a álcool, o que, no entanto, traz prejuízos ao veículo. Nos kits mais caros, substitui-se toda a injeção eletrônica como método de conversão.A maior parte dos interessados pelos falsos flex é formada por donos de carros de modelos mais antigos que não estão dispostos a comprar um carro bicombustível.Entre as vantagens que são anunciadas pelos vendedores do chip estão “a economia de combustível”, “o fato de não perder a originalidade do veículo” e a “fácil remoção e instalação”.No entanto, engenheiros alertam que o flex genérico pode trazer mais danos que vantagens em um curto espaço de tempo. Segundo Fernando Damasceno, consultor do SAE-SP (Society of Automotive Engineers), entre três e seis meses os carros transformados já podem ter de trocar a bomba de combustível. “A maior parte das perdas é irreversível.”Foi o que aconteceu com a auxiliar administrativa Erika Bassi, de Guarulhos (Grande São Paulo). Três meses depois de instalar o chip, a bomba de combustível do Fiesta modelo 98 queimou. Ao optar pelo chip, ela disse que estava interessada no quanto poderia economizar com o álcool. Ela disse que soube da novidade por meio de um anúncio na rua e que, na época, desconhecia que se tratava de uma manobra ilegal. Hoje, se diz arrependida: “Só tive dores de cabeça.”Além do problema na bomba, ela disse ter sido obrigada por duas vezes a mandar reprogramar o módulo de injeção. Em um ano, o carro foi para manutenção três vezes e Erika não pôde utilizar o carro por um mês inteiro. “Eles não davam retorno. Nem falando de processo eles se assustaram.”Rafael Schechtman, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura), alerta que o uso do chip pode reduzir a vida útil do veículo pela metade. Isso porque os carros a gasolina não têm revestimentos adequados para o contato com o álcool, o que não acontece com os carros bicombustíveis que já estão preparados para prevenir a corrosão de metais.