11/01/2006 06h52 – Atualizado em 11/01/2006 06h52
Jornal da Globo
Moradores de cidades brasileiras próximas à Argentina e à Bolívia estão cruzando a fronteira para encher o tanque de gasolina. O litro chega a custar a metade do que vale aqui.E numa pequena cidade do Rio Grande do Sul, há até contrabando de combustível do país vizinho. A gasolina é vendida, literalmente, no quintal das casas. Millton Marreiro diz que cruza a fronteira de três a quatro vezes por semana só para abastecer a camionete à diesel. Dono de uma empresa de perfuração de poços, ele aproveita o combustível mais barato também para as máquinas. “Quando eles aceitam, levo para as máquinas. Ponho num tamborzinho de 60 litros”, ele conta. Sempre que pode, Reginaldo também abastece o carro no país vizinho. Economia de R$ 60 reais no tanque cheio. “Para a gente, está sendo excelente esse preço da gasolina boliviana”, ele afirma. Num posto a 6 quilômetros da fronteira com Brasil, 90 % dos clientes são brasileiros. São motoristas que vão em busca de combustível até 50% mais barato. Enquanto em Corumbá a gasolina vendida R$ 2,69, em média, na Bolívia a gasolina custa R$ 1,29 o litro. A dona de um posto lembra que trabalha no ramo há 15 anos e explica que o preço é mais para baixo porque o governo da Bolívia subsidia o combustível. Cruzar a fronteira fácil. Apenas cinco quilômetros separam Corumbá em Mato Grosso do Sul de Porto Quirraro na Bolívia. Ao motorista não resta muita escolha, a não se procurar o posto que vende combustível pelo menor preço. Em Foz do Iguaçu o litro da gasolina está quase R$ 2,50. Mas lá existe uma alternativa para rodar mais pagando menos. Só que é preciso ter paciência. A fila para cruzar a fronteira com a Argentina pode demorar mais de uma hora. O litro da gasolina comum nos postos de Porto Iguaçu custa o equivalente a R$ 1,80. A diferença atrai muitos moradores da fronteira. “Por mês costumo ir a Porto Iguaçu em torno de duas ou três vezes”, diz um brasileiro na fila de carros para cruzar a fronteira. Turistas também aproveitam para economizar. Sandro veio da região de Sorocaba, interior de São Paulo. E antes de voltar, encheu o tanque. “Da última vez que enchi o tanque, paguei R$ 105, em Sorocaba. Em Porto Iguaçu, paguei R$ 66”, conta ele. Anselmo acabava de chegar de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. O primeiro compromisso foi abastecer o carro. “Uma maravilha”, comemorava ele. Na hora de pagar, a economia pode ser ainda maior. É que na bomba o posto recebe o Real pela mesma cotação do Peso argentino. Mas se o consumidor passar antes numa casa de câmbio e trocar reais por pesos, o litro da gasolina comum vai custar menos: R$ 1,52. É o que Júlio Machado, um vendedor, costuma fazer. Ele tem negócios na Argentina e diz que antes de voltar ao Brasil compra pesos e encha o tanque. Numa rua de Porto Veracruz, no Rio Grande do Sul, não há postos de combustíveis. Mas lá é possível comprar gasolina e em grandes quantidades. Com uma câmera escondida foram flagrados dez pontos de venda do combustível. Os negócios acontecem durante o dia no meio da rua na cidade gaúcha, fronteira com argentina. Na Argentina os contrabandistas compram um litro da gasolina por R$ 1,75 e revendem no lado brasileiro por R$ 2,15. É 80 centavos mais barato do que no único posto de combustível da cidade. Apenas um rio separa o Brasil da Argentina. Um obstáculo pequeno para os contrabandistas. Mas um percurso extenso para a vigilância da polícia. Nos 98 quilômetros de fronteira entre os dois países, cinco policiais federais se revezam na fiscalização. Um homem que não quer se identificar revelou a estratégia dos contrabandistas para driblar a ação da polícia. Ele conta que o sinal de que a fronteira está sem fiscalização são fogos de artifício. O que parece barato pode sair caro para os motoristas. O químico Valdir Manfrói diz que a gasolina argentina vendida no mercado negro pode chegar adulterada, o que traz riscos para o motor do carro. “Normalmente eles colocam solvente e álcool hidratado. O álcool hidratado contém até 7 % de água, que danifica o motor”, explica Manfrói.