13/01/2006 12h18 – Atualizado em 13/01/2006 12h18
Olair Nogueira
O mexilhão dourado, um molusco chinês, tem causado prejuízos a empresas de geração de energia de distribuição de água e esgoto no Brasil. Por causa do “bichinho”, que costuma entupir canos e turbinas, as empresas já estão investindo em planos de combate que custarão até mesmo R$ 2 milhões. O molusco foi encontrado na América do Sul em 1991, no Rio da Prata, em Buenos Aires. A primeira infestação em uma hidrelétrica aconteceu em 2000, na usina de Yaciretá, na Argentina. Um ano depois, os mexilhões já estavam em Itaipu, a 400 quilômetros de Yaciretá. Em 2002, a hidrelétrica de Porto Primavera, da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), viu as máquinas pararem por causa de uma colônia dos moluscos. Para dar um basta nos entupimentos, a Cesp investiu R$ 2 milhões em um sistema de injeção de cloro dentro das máquinas de quatro usinas, as de Ilha Solteira, Três Irmãos, Jupiá e Porto Primavera. O cloro pode ajudar a conter a reprodução do mexilhão, mas não os erradicará completamente. O problema se tornou tão alarmante que o Ministério do Meio Ambiente criou uma força-tarefa para conter o avanço dos mexilhões. Trabalharão contra os “bichinhos” representantes de sete ministérios e 13 entidades ligadas a setores de energia, abastecimento e meio ambiente.Quem é o mexilhão dourado? O mexilhão dourado (Limnoperna fortunei) é um bivalve da família Mytilidae de no máximo 4cm de comprimento. Possui uma forma larval, que é livre e, na fase adulta vive fixo a qualquer substrato duro, formando agregados e cobrindo extensas superfícies. De onde veio? E como chegou ao Pantanal? É originário dos rios da China. Foi introduzido nos estuários da foz do rio da Prata na Argentina, em 1991, através da “água de lastro” dos navios que fazem o comércio entre países asiáticos e a Argentina. O mexilhão dourado chegou ao Pantanal, onde foi observado em 1998, incrustado nos cascos das embarcações que trafegam no sistema Paraguai-Paraná, entre Argentina e Brasil. Foi observado no rio Paraguai até Bela Vista do Norte (MT), acima da confluência com o rio Cuiabá, em baías conectadas ao rio (Tuiuiú, Castelo, Mandioré, Zé Dias e Gaíva) e no Canal do Tamengo, canal de ligação entre a Bolívia e o rio Paraguai. Como chegou ao rio Miranda? O mexilhão dourado foi registrado no rio Miranda recentemente, em 2003, e foi observado até a altura do Passo do Lontra. Provavelmente veio do rio Paraguai e chegou ao Miranda, incrustado nos cascos das embarcações, em plantas e equipamentos de pesca (adultos) ou dentro de reservatórios de água (larvas) abastecidos no rio Paraguai. Outra forma de dispersão é através de barcos transportados em rebocadores via terrestre pela BR 262. Larvas e adultos do mexilhão dourado podem ficar em plantas e água, no motor e dentro do barco, e na vegetação presa ao reboque. Estima-se que o mexilhão dourado pode sobreviver até 7 dias fora do seu ambiente natural. Segundo dados do Sistema de Controle de Pesca do Mato Grosso do Sul (SCPESCA/MS) a região do Passo do Lontra é um dos lugares mais frequentados pelos pescadores da bacia do alto rio Paraguai. Em torno de 7% dos pescadores visitam mais de um lugar durante as pescarias. E, devido a proximidade entre os rios Paraguai e Miranda e facilidade de acesso pela BR 262, é possível que os pescadores visitem os rio Paraguai e Miranda na mesma viagem. 70% dos pescadores utilizam veículo próprio para suas viagens, e muitos deles podem transportar seus barcos. Tudo isso pode ter contribuído na introdução do mexilhão dourado no rio Miranda e ajudar a dispersar a espécie para outros rios. O que ele causa? O efeito das incrustações do mexilhão dourado tem sido observado em estações de captação e tratamento de água (tubulações e bombas), sistema de resfriamento das hidrelétricas e entupimentos em tubulações em geral, aumentando o custo de manutenção na indústria e geradoras de energia elétrica. O mexilhão dourado entra no sistema de refrigeração dos motores das embarcações impedindo que a água circule, causa aquecimento do motor e, pode levá-lo a fundir, caso já registrado no rio Paraguai. Também foram observadas incrustações no sistema de captação e tratamento de água das cidades de Corumbá e Ladário – MS. Foto –