17/01/2006 07h53 – Atualizado em 17/01/2006 07h53
Aquidauana News
Reconhecido por atingir pessoas mais velhas, especialmente depois dos 60 anos, o AVC (acidente vascular cerebral), popularmente conhecido como derrame, está afetando cada vez mais pessoas jovens, abaixo de 30 anos.Levantamento feito no Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná com pessoas jovens vítimas de derrame associa os casos de AVC às mudanças de hábitos da última década.Segundo a neurologista Viviane Flumignan Zétola, coordenadora do estudo no Paraná, hipertensão arterial, aumento do colesterol, diabetes, excesso de peso, sedentarismo, tabagismo e até mesmo o uso de drogas são os principais fatores de risco identificados nos pacientes estudados.”A hipertensão arterial e o tabagismo foram os fatores mais prevalentes. Mas não podemos deixar de citar que houve uma piora significativa na qualidade de vida. O estresse acumulado e o colesterol elevado também foram fatores importantes que percebemos nesses jovens”, disse Viviane.A neurologista também estudou o impacto de um derrame na vida de um jovem que ainda está em plena atividade social e trabalha. “Além de muitos terem de parar de trabalhar, porque ficam incapacitados, alguém da família também deixa de trabalhar para cuidar dessa pessoa. O conflito familiar é muito grande.”Da mesma opinião compartilha o neurorradiologista José Maria Modenesi Freitas, do Hospital Santa Rita. “O número de casos de derrame em jovens está cada vez mais freqüente nos hospitais. E essa é uma situação irrecuperável para toda a família.”O derrame é a primeira causa de incapacidade do mundo e está entre as três primeiras causas de morte. “Sempre há seqüela, por menor que ela seja, porque há morte do tecido cerebral. Geralmente há um comprometimento da visão e da fala e a paralisação de partes do corpo”, explicou Mirto Nelso Prandini, neurocirurgião da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).DiferençasHá dois tipos de derrame cerebral: o isquêmico -que acontece quando há o entupimento de uma artéria, impedindo que o sangue chegue até o cérebro- e o hemorrágico -provocado pelo rompimento de uma artéria cerebral, causando um processo de sangramento excessivo.Proporcionalmente, o derrame isquêmico é mais comum (corresponde a 70% dos casos, em média) e menos grave do que o derrame hemorrágico. “As conseqüências de um AVC podem ser evitadas. A questão é identificar o problema e chegar ao hospital no momento certo, para recuperar o paciente”, afirmou Freitas.Segundo os especialistas, o ideal é que o paciente seja socorrido em um hospital especializado em, no máximo, três horas após o início do derrame. Isso porque o cérebro não suporta ficar muito tempo sem receber oxigenação.”Quando a pessoa está tendo um AVC, começa a perder força de um dos lados do corpo, a fala fica comprometida e ela perde a capacidade de raciocinar. Os familiares precisam estar atentos a esses sinais”, orientou Prandini.1-)QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS FATORES DE RISCO DE UM DERRAME? São os mesmos que provocam ataques cardíacos: hipertensão arterial sem controle, colesterol elevado, cigarro, álcool, diabetes, obesidade, vida sedentária, estresse e histórico familiar. 2-) EXISTEM SINTOMAS? Sim, mas são inespecíficos. Os principais são: perda repentina da força muscular ou da visão, dificuldade de comunicação oral, tonturas, sensação de formigamento em um dos lados do corpo, dor de cabeça, náuseas e vômitos. 3-) QUAIS SÃO AS FORMAS DE PREVENÇÃO?É necessário evitar os fatores de risco controlando a pressão arterial e o nível de açúcar no sangue. Também é preciso manter abaixo de 200 o índice do colesterol total, adotar uma dieta equilibrada (com menos sal, gordura e bebidas alcoólicas), não fumar e praticar exercícios físicos. Hipertensos e diabéticos precisam de acompanhamento médico permanente, pois fazem parte dos grupos de risco.Aprendi a lidar com minhas limitações Sofri um AVC isquêmico aos 28 anos, quando estava no sexto mês de gravidez. Nunca imaginei que pudesse passar por isso, especialmente por ser uma pessoa tão nova. Era uma das melhores fases da minha vida: tinha acabado de me casar, estava muito feliz e grávida da Gabriela. Graças a Deus minha filha nasceu saudável, mas o susto foi grande.Eu sentia muita dor de cabeça, mas os médicos diziam que era normal. Em uma segunda-feira, acordei indisposta e não consegui fazer as tarefas domésticas. Tomei banho e tive o AVC enquanto eu secava o cabelo. Abaixei a cabeça e, quando me levantei, a visão tinha sumido e a minha mão direita paralisou, derrubando o secador.A perna também não respondia. Fiquei desesperada, só pensava no bebê. Meu marido me levou ao hospital. A minha ginecologista foi chamada e eu escutei o coração do bebê. Só assim é que fiquei tranqüila.Fiquei sete dias internada. O médico levantava o meu braço, mas ele caía. Perdi a sensibilidade em todo o lado direito do corpo e também a visão periférica nos dois olhos. No começo, precisava de ajuda até para comer.Quando a Gabriela nasceu, foi pior. Não tinha coragem de dar banho nela porque não tinha coordenação na mão direita. Para amamentá-la, meu marido precisava segurá-la. Hoje eu me acostumei e aprendi a lidar com as minhas limitações. Não posso mais engravidar e preciso controlar os fatores de risco. É difícil, mas agradeço por não ter acontecido nada mais grave.