20/01/2006 17h25 – Atualizado em 20/01/2006 17h25
Terra
Vítima de lavagem cerebral ou uma aventureira que brincou de ser guerrilheira, empunhou armas e assaltou um banco na década de 70? Até hoje os Estados Unidos não sabem exatamente quem foi Patrícia Campbell Hearst na juventude. Aos 51 anos, Patty ainda é vista em seu país como alguém que, de alguma forma, sentiu prazer ao colaborar com uma organização terrorista e seus atos criminosos. Hoje ela é uma atriz e dubladora eventual de filmes e séries de pequena expressão, além de herdeira do império jornalístico construído por seu avô, William Randolph Hearst. Patty é casada com Bernard Shaw, ex-guarda da prisão na qual passou 23 meses encarcerado antes de receber o perdão do presidente Jimmy Carter, em 1979. Tem dois filhos e vive em Connecticut.O auge de sua fama foi registrado pelas câmeras do circuito interno do Hibernia Bank, de San Francisco, em 15 de abril de 1975. Nas imagens, a herdeira aparecia portando um fuzil e dando ordens, aos gritos, ao lado de outros cinco parceiros (o grupo roubou US$ 10 mil dos cofres).A ação ocorreu pouco mais de dois meses após ela ter sido seqüestrada pelo Exército Simbionês de Libertação (ESL), organização que nunca chegou a ter mais de 18 ativistas. Mas as imagens do assalto não mostravam uma vítima de seqüestro: davam a entender que ela tinha aderido ao grupo.Patty participaria de outro incidente protagonizado pelo exército simbionês, este com uma vítima (uma vendedora de loja de artigos esportivos foi alvejada e morta durante um assalto, 30 dias depois do roubo ao Hibernia). Desta vez, Patty fazia a segurança do grupo do lado de fora, dentro de um carro.Capturada pela polícia e condenada um ano depois, passou 23 meses na prisão. Ganhou dois perdões presidenciais – um de Jimmy Carter, que a libertou em 1979, e outro de Bill Clinton, cujo decreto em 2001 deu a Patty uma ficha criminal limpa. O motivo do perdão é polêmico: os advogados da milionária conseguiram provar, com base em laudos médicos, que sua cliente foi coagida psicologicamente a se juntar ao ESL.Nem Patty está tão convencida assim. Em sua biografia, lançada em 1981, diz que foi movida por uma mescla de “medo e convicção da causa”. Porém, relata ter sofrido torturas físicas, psíquicas e sexuais nas semanas que sucederam o seqüestro, em 4 de fevereiro de 1974. Teve aulas de marxismo e socialismo e foi ameaçada constantemente de morte caso não mudasse de lado.Síndrome de EstocolmoO caso de Patty Hearst foi ligado imediatamente ao distúrbio conhecido como “Síndrome de Estocolmo”, descrito em 1973 após um longo assalto com reféns em um banco da cidade sueca.Ao se renderem, os assaltantes foram flagrados beijando e abraçando várias das vítimas. Nenhuma delas aceitou, nos tribunais, acusar seus raptores. A psiquiatria enxergou, aí, umq brecha na mente que admitia ao ser humano, ao ser subjugado, se afeiçoar por seu algoz.Anos depois, esta discussão também resiste nos anais da psicologia. Afinal, se foi vítima de lavagem cerebral, Patty jamais vivenciou a síndrome. O distúrbio, tal qual descrito pela medicina, é um sentimento natural de admiração e afeto.