22/01/2006 15h22 – Atualizado em 22/01/2006 15h22
Terra
O skank, entorpecente que custa em média R$ 50 o grama e vale mais que o ouro, se tornou a droga dos ricos. Como em muitos casos, os consumidores são também pessoas influentes, o combate ao consumo do entorpecente é difícil no País. Empresário bem-sucedido do ramo hoteleiro, casado, pai de família, X. gasta quase R$ 2 mil para estocar em seu apartamento de luxo, em Niterói, os 40 gramas de skank que vão lhe servir para o mês inteiro. Aos 32 anos, ele faz parte de um grupo da sociedade do Rio de Janeiro que, apesar de ainda seleto, não pára de crescer. O usuário de skank tem o perfil social dos sonhos. Mora nos melhores endereços, freqüenta festas badaladas e conhece gente famosa. Parece força de expressão para tentar descrever o quanto o skank é valioso no mundo das drogas. Mas é pura realidade. Na cotação da última quinta-feira, o grama do ouro foi avaliado em R$ 41,50. A mesma quantidade do skank dificilmente sai por menos de R$ 50 das mãos de traficantes, que, por sua vez, têm o mesmo perfil do usuário. “É a nata da sociedade, que vive na zona sul, na Barra. Eles mesmos se vangloriam do fato de o skank valer mais do que ouro”, diz o delegado da 16ª DP (Barra), Rodrigo Oliveira. No comando da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) até o ano passado, o delegado enfrentou e prendeu parte de quadrilha que faz a conexão do skank e das drogas sintéticas, como o ecstasy, da Europa para o Brasil. No caso específico do skank, da Holanda. No idioma daquele país, skank significa gambá. A droga é derivada da cannabis sativa, como a maconha. “A diferença está no grau de THC (substância entorpecente), que na maconha é de 2,5%, enquanto no skank é de 12% ou mais”, explica uma bióloga do setor de perícia de química do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). Nos mesmos nobres endereços onde estão os consumidores, estão também os poderosos. Para o coordenador-geral de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal (PF), Ronaldo Urbano, é por causa desse poder de influência que o combate ao tráfico de skank no Brasil não obtém resultados mais expressivos. “O trabalho fica complicado, até porque essas pessoas têm influências políticas e sociais grandes”, diz Urbano. As estatísticas de apreensão de skank são difíceis de se obter. No ICCE, a droga é computada como cannabis. Pela PF, nos cinco primeiros meses de 2005, a quantidade registrada foi de apenas 975 gramas.