09/02/2006 20h41 – Atualizado em 09/02/2006 20h41
Diego Assis/Link Estadão
colunista do jornal O Globo Ancelmo Gois caiu; Julio Hungria, do sempre antenado Blue Bus, caiu; o jornalista-blogueiro Ricardo Noblat e até o colunista do Link Pedro Dória, velhaco quando o assunto é internet, também já caíram. Na imprensa brasileira, não são poucos os que já foram enganados por um boato espalhado por Wagner Martins, criador do site humorístico Cocadaboa.Na rede desde 2001, o www.cocadaboa.com acabou se tornando referência quando o assunto é boataria online. “Hoje, quando chega uma notícia absurda na redação, a primeira coisa que os jornalistas fazem é ir checar no Cocadaboa”, debocha Martins, mais conhecido na internet como MrManson.O caso mais recente e também o de maior alcance aconteceu às vésperas do plebiscito sobre a proibição da venda de armas de fogo no Brasil. Uma vez “identificado o ponto de fragilidade”, Martins bolou a história de que um suposto traficante do Rio, de nome Xaxim, teria montado um comitê a favor do “sim” dentro da favela em que atuava. Publicou a falsa notícia no Cocadaboa e, três dias depois, foi procurado por uma jornalista da frente pelo “não”:“Peguei o contato de um amigo, especialista em passar trote, e passei para ela como sendo o do Xaxim”, conta. Em poucas horas, os 6 minutos da conversa com o falso traficante se espalharam pela rede graças não só aos esforços da própria frente pelo “não” em divulgar a “notícia”, mas do próprio Cocadaboa, que disponibilizou o arquivo no site, chegando a ter 200 mil downloads em um dia .Outra lorota de grande repercussão veio à luz em setembro de 2004. Em sua coluna no site www.nominimo.com, Pedro Dória foi o primeiro a morder a isca: “Os prezados por ventura já conhecem o Sexcut?”, lançou o hoje colunista do Link horas depois que um site falso, com a proposta de se tornar o Orkut do sexo, foi colocado no ar pelos integrantes do Cocadaboa.Entrou para a lista de “patos”, como se refere Martins às suas vítimas, ilustres do site. “Eu sempre falo que jornalista é uma classe muito mal paga, muito insatisfeita com o trabalho que tem. E que tem também a fragilidade humana de querer ser o primeiro a dar tal informação. Jornalista é um ser humano suscetível a erro como qualquer outro, seja por vaidade, por preguiça ou por burrice mesmo”, zomba o cocada, economista por formação.Mas o objetivo de vida de Mr Manson nem sempre foi o de ludibriar jornalistas desatentos. Cinco anos atrás, quando resolveu montar o site com dois amigos e a então namorada, a Mulher-Maravilha, sua intenção era apenas “levar para a internet conversas que surgiam na mesa do boteco e que ninguém tinha culhão para escrever”. A primeira dessas “teorias”especulava sobre como e – com quem – seria a perda de virgindade da cantora Sandy. “Era com o filho do capataz da fazenda dela”, recorda, poupando o leitor dos detalhes sórdidos. Medo de processo? “No site tem um aviso de que tudo o que está publicado ali é humorístico, mentiroso ou os dois. Só cai quem é muito desinformado mesmo”, justifica ele que, desde os seus primeiros dias de internet, acumula um histórico de mau comportamento.“No primeiro mês, fui banido do canal de IRC (sala de bate-papo) do meu bairro”, lembra Martins, que já então se identificava com o pseudônimo inspirado em Charles Manson e no roqueiro-problema Marylin Manson. “Escolhi esse nick sem nenhuma razão especial, acabou ficando e não tenho mais como trocar, né?”, desculpa-se.Só que a fama de mau, ao contrário, só fez ajudar. Depois de conseguir emplacar uma, duas, várias vezes suas histórias descabidas na chamada “grande mídia”, Martins, ou melhor, Manson, acabou se tornando uma celebridade da internet, vendeu livros, camisetas e até palestras em universidade já foi chamado a dar.“Ah, a fama de internet… O Seu Jorge coloca 6 mil no Via Funchal. No Cocadaboa, vai o dobro disso por dia. É uma coisa meio louca: tenho o poder de me comunicar com 12 mil pessoas por dia, mas, ao mesmo tempo, essas 12 mil pessoas não têm a mínima noção de quem eu seja.”Quase ninguém. Desde meados do ano passado, Martins trocou o Rio por São Paulo a convite de uma empresa especializada em “marketing de guerrilha”.Isto é, a partir de agora o rapaz ganha dinheiro para espalhar boatos, com fins comerciais, para terceiros. “Foram quatro anos fazendo besteira para reconhecerem que aquela besteira tem um fundo de conhecimento por trás.” Bingo.