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sexta-feira, 18 de julho de 2025

Fique esperto para não ter o celular clonado

03/03/2006 10h24 – Atualizado em 03/03/2006 10h24

Link Estadão

No começo parecem apenas enganos. Seu celular toca, mas estão querendo falar com outra pessoa. A situação se repete e fica cada vez mais grave. Torna-se difícil fazer e receber ligações. Se isso acontecer, atenção: é muito provável que seu celular tenha sido clonado. Algumas vezes a própria operadora detecta o problema e entra em contato com o cliente. Em outras, o dono da linha só percebe o problema quando recebe uma conta com valores assustadoramente altos. E há vezes que a operadora simplesmente corta a linha, e o cliente só descobre que foi clonado quando precisa usar o telefone.E o tormento pode ficar ainda pior. Muita gente encara uma verdadeira via-crucis para solucionar o problema. São má atendidas pelas operadoras de telefonia celular, que têm dificuldade em regularizar a situação e obrigam seus clientes a encarar longas esperas no telefone e filas nas lojas.E não são poucas as pessoas que sofrem com isso. Ano passado as reclamações de clonagem à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aumentaram 120%. A agência recebeu 11.897 reclamações de fraudes relacionadas ao celular, o que inclui a clonagem. Mas é provável que o número de vítimas seja muito maior, já que apenas parte dos consumidores lesados entra em contato com a agência. Quem não conhece alguém que já tenha tido seu celular clonado?Do ponto de vista dos criminosos, a clonagem de celulares é um ótimo negócio: relativamente fácil de executar, permite que muita gente faça ligações à vontade, anonimamente, até para comandar quadrilhas a partir de presídios.Clonar um celular significa programar um aparelho com informações roubadas de outro telefone: seu número de série e sua linha. Para explicar o processo de clonagem, o Link consultou os professores Jean Paul Jeszensky e Antônio Fischer de Toledo, da Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade de São Paulo (USP), e Michel Daoud Yacoub, da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).Segundo os professores, na maioria das vezes, os criminosos vão a aeroportos e rodoviárias para conseguir os dados de celulares alheios. Isso porque muitas pessoas vêm de outros Estados e, quando não conseguem usar a rede digital, seus celulares se conectam automaticamente à rede analógica. Aparelhos de operadoras que usam a tecnologia TDMA ou CDMA estão sujeitos a cair na rede analógica em algumas situações. Por exemplo, quando estão em “roaming” (serviço que permite receber e fazer ligações fora da área de cobertura da operadora). Se uma pessoa usa a tecnologia TDMA na sua cidade e viaja para um lugar onde só há estrutura CDMA, vai entrar em modo analógico, e vice-versa. Operadoras que usam a mesma tecnologia digital, seja TDMA ou CDMA, podem fazer acordo para que seus clientes usem a estrutura digital da outra operadora quando em roaming. Mas nem sempre há este acordo. Mas mesmo quando você está em sua cidade, quando há aglomerações de pessoas sua operadora pode não dar conta de atender todos os clientes em modo digital. “A estimativa de tráfego é calculada por estatísticas e há casos em que o congestionamento é inevitável”, explica o professor Yacoub.No modo analógico, as informações trafegam entre o celular e a antena da operadora por ondas de rádio sem encriptação. Usando um aparelho rastreador, sintonizado na freqüência correta, é possível obter as informações. Um software, instalado no aparelho ou num notebook, decodifica os dados. Tanto aparelhos de planos pré-pagos como de pós-pagos podem ser clonados.A rede analógica de telefonia móvel (AMPS) foi a primeira a ser instalada no Brasil, no início da década passada. Depois vieram as tecnologias digitais, TDMA, CDMA e, por último, GSM.A substituição completa das redes analógicas por redes digitais contribuiria para a diminuição de clonagem de celulares, afirma Yacoub. “Mas ainda há usuários que usam o sistema analógico e não querem mudar de aparelho, o que obriga a operadora a manter a estrutura”, diz. Segundo a Anatel, há 146.068 terminais que usam a tecnologia analógica AMPS.O professor Jeszensky explica que o roaming nacional é uma exigência da Anatel, outro motivo para que as operadoras mantenham a estrutura analógica.Outra forma fácil de obter os dados necessários para a clonagem é ter o aparelho em mãos, pois o número de série está escrito na parte interna dos aparelhos de tecnologia TDMA e CDMA. No caso dos celulares GSM, as informações utilizadas para a clonagem estão armazenadas no chip. “Não basta roubar o número de identificação, é preciso ter o chip para que o aparelho funcione com a linha”, explica Yacoub.As redes das operadoras que usam a tecnologia GSM são totalmente digitais. Portanto, os celulares dos clientes nunca entram no modo analógico.Mas, se houver vazamento de informações dentro das operadoras, é possível clonar um celular GSM, explicam os professores consultados pelo Link. “É bem mais complicado clonar um celular GSM, mas não é impossível”, diz Jeszensky. Quebrar a encriptação de dados no modo digital é muito difícil e exigiria um computador potente, que fizesse uma série de cálculos complexos, afirma o professor. “Hoje em dia há um modo mais fácil de clonar, pelo modo analógico, por que eles tentariam o mais complicado?”, indaga o professor.Jeszenksy explica que na Europa a clonagem não é um problema porque as redes analógicas foram extintas após a introdução da tecnologia GSM. “As redes analógicas funcionavam com tecnologias diferentes e não valia a pena mantê-las”, diz.No Brasil e nos Estados Unidos, por causa das grandes dimensões geográficas, não seria possível extinguir tão rapidamente as redes analógicas, opina Jeszensky. “É uma fase de transição”, diz. OPERADORAS SE CALAMSegundo a Anatel, a responsabilidade de resolver casos de clonagem recai sobre as operadoras. Porém, a Vivo, Tim e Claro, que atuam em São Paulo, negaram-se a falar sobre o assunto.A única manifestação das operadoras foi por meio de breves notas, por e-mail. A Vivo afirma que já investiu R$ 100 milhões em sistemas antifraude. Segundo o informativo, em 99% dos casos a Vivo detecta a clonagem antes de o cliente perceber.A TIM garante que não há registro de nenhuma clonagem de um telefone TIM de tecnologia GSM. Nas regiões onde adota as tecnologias TDMA e AMPS, a TIM afirma que mantém um sistema de acompanhamento para detectar casos de clonagem.A Claro também afirma, por meio de nota à imprensa, que possui um sistema antifraude para descobrir quando há clonagem do telefone de seus clientes de TDMA. “Todas as contas que não procedem são canceladas por nós, sem qualquer tipo de ônus para os consumidores”, diz a nota.Segundo a Associação Nacional de Operadoras Celular (Acel), a Associação Brasileira de Roaming monitora as chamadas em roaming.Em nota enviada ao Link, a Acel informa que a operadora é capaz de detectar desvios em relação ao padrão de utilização da estação móvel. Um exemplo: se uma ligação é feita em São Paulo e, 20 minutos depois, em Brasília, é certo que há clonagem.

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