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sábado, 20 de dezembro de 2025

Novo remédio promete combate eficaz à enxaqueca

01/04/2006 17h08 – Atualizado em 01/04/2006 17h08

Terra

Vinte milhões de brasileiros sofrem de enxaqueca, uma doença neurológica de origem genética. Todos conhecem bem as náuseas, os vômitos e sobretudo a dor de cabeça potente, latejante, insuportável, que parece anteceder a explosão do crânio. Para eles, uma nova esperança está a caminho. Trata-se do Trexina, remédio desenvolvido pelo laboratório GlaxoSmithKline com previsão para chegar em breve ao mercado. O medicamento aguarda aprovação do Food and Drug Administration, órgão americano responsável pela liberação de remédios. Será o primeiro a combinar num único comprimido duas substâncias contra a dor usadas até agora separadamente: o sumatriptano, específico para o mal, e o naproxenosodico, um antiinflamatório. Combinar medicamentos numa única pílula ou dose é uma tendência da medicina moderna. Facilita e aumenta a adesão ao tratamento, evitando que o paciente deixe de tomar alguns dos remédios prescritos por esquecimento ou medo de um efeito colateral específico. A chegada do Trexina faz parte de um esforço mundial para encontrar saídas mais eficazes contra a doença. Nessa mesma linha, uma outra estratégia poderá apresentar frutos também promissores. O neurologista carioca Abouch Krymchantowski, especialista em dor de cabeça, acaba de concluir uma pesquisa sobre o potencial da quetiapina, um antipsicótico indicado no tratamento de doenças como esquizofrenia e transtorno bipolar. O resultado, ainda parcial, é positivo. “Durante dois meses, tratamos de 34 pacientes usando uma dose diária de 75 mg. Do grupo, 74% passaram a ter menos da metade das crises de enxaqueca que sofriam”, ilustra o médico. O trabalho será encaminhado ao Congresso Brasileiro de Neurologia, em agosto. Outros avanços têm sido feitos. Um deles foi anunciado há poucas semanas por médicos ingleses no Congresso da Academia Americana de Cardiologia. Pesquisas anteriores sugeriram uma relação entre portadores de um defeito genético no coração e a ocorrência de enxaqueca. Segundo os estudos, pacientes com o chamado forame oval patente, uma abertura entre as duas cavidades do coração, apresentam seis vezes mais chance de sofrer da doença do que indivíduos sem o problema. Agora, os cientistas anunciaram que a correção desse defeito diminui as crises. Para chegar à conclusão, eles analisaram a reação de 147 pacientes submetidos a uma cirurgia para consertar o problema. Os doentes relataram uma redução de 37% na intensidade dos ataques. “É o primeiro estudo a mostrar que a correção do defeito pode amenizar a enxaqueca”, disse Andrew Dowson, coordenador do estudo e pesquisador do King’s College Hospital, de Londres. Uma outra pesquisa, realizada no Christ Hospital, em New Jersey, nos Estados Unidos, indica que o conserto de uma deformidade no nariz também pode ajudar a reduzir as dores. A explicação dos médicos é a de que uma pressão exercida pelos canais nasais pode levar o cérebro a entender que a dor sentida é uma enxaqueca. No trabalho americano, 21 pacientes que sofriam com dores severas, tinham o problema no nariz e não respondiam mais aos tratamentos convencionais para enxaqueca foram submetidos à correção do problema. Meses depois, a média mensal de crises caiu de 18 para oito. Esse procedimento, assim como a intervenção cardíaca, precisa ser mais estudado antes de chegar aos pacientes. Foi o que aconteceu com a terapia baseada na reposição de melatonina, hormônio que sincroniza os ritmos biológicos informando o organismo sobre situações como dia e noite ou mudança de fuso horário. Há alguns anos, estudava-se a relação entre esse composto e a enxaqueca. “Descobriu-se que uma deficiência na produção dessa substância estimula o surgimento de sintomas ligados à doença, entre eles o cansaço”, explica o neurologista Mário Peres, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, um importante pesquisador do tema. Hoje, ele adota a suplementação de melatonina como um dos recursos contra a dor. A secretária Marcela Knize, de São Paulo, inclui a melatonina em seu tratamento há cerca de oito meses. Desde então, não teve mais as crises fortes que experimentava. “Apenas dores esporádicas”, conta ela. Outra opção eficiente é apostar na prevenção das crises. Várias combinações de substâncias são usadas com esse objetivo. Uma delas associa antidepressivos ao topiramato, um dos remédios mais modernos contra a enxaqueca. Os primeiros reforçam o sistema antidor do organismo e o segundo impede a ação de detonadores das crises, como cheiro forte e stress. Os cientistas querem, a propósito, descobrir mais detalhes dos sinais que denunciam o início de um ataque, para auxiliar o paciente a identificá-los e ter condições de evitar a crise. Um trabalho da College University, de Londres, apontou que três desses alertas aparecem cerca de 72 horas antes: fadiga, dificuldade de concentração e rigidez no pescoço. O problema é que muita gente não tem sequer o diagnóstico correto. E, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Cefaléia, Jano Alves, a maioria dos pacientes não procura um médico e recorre aos analgésicos para aliviar as dores. Não é a melhor alternativa. “Quem tem crises mais do que duas vezes por semana deve procurar ajuda médica. Usados de forma abusiva, os analgésicos deixam de fazer efeito e perpetuam a dor”, diz. A explicação deve servir de alerta. Pelo menos para a parte dos 20 milhões de brasileiros que não deseja a companhia daquela dor potente e latejante para o resto da vida.

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