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quarta-feira, 16 de julho de 2025

ARTIGO: Relacionamento Superficial e Consumismo

11/04/2006 14h21 – Atualizado em 11/04/2006 14h21

Carolina Marroni LorenceteParecem cada vez mais comuns as queixas sobre solidão, rejeição, dificuldade de estreitar relacionamentos, descaso, entre outras. Mas a que podemos atribuir tal demanda? Se é cada vez maior o número de pessoas que se sentem sós, porque, então, essa crescente dificuldade de estabelecer vínculos duradouros? A resposta, com certeza, envolve muitos fatores. Mas hoje, escolhi fazer uma correlação entre padrões comportamentais em uma sociedade consumista e relacionamentos afetivos.Quando falo em consumismo, estou me referindo ao consumo indiscriminado de tudo que nos é ofertado. Nossa sociedade tem como prática tornar necessário e absorver tudo o que o mercado disponibiliza. Sendo assim, como traçar um paralelo com os relacionamentos afetivos? Antes seria bom esclarecer que, ao falar de relacionamento afetivo, estou extrapolando a relação amorosa entre os casais e incluindo aqui as relações de trabalho e de amizade. Inseridos em uma sociedade de consumo, aprendemos desde cedo a ceder frente aos apelos para comprar itens tidos como necessários. Esta prática se repete nas nossas relações interpessoais. O apelo é o mesmo: consuma tudo o que puder, no menor tempo possível. O seu valor está vinculado a números. Alguns leitores devem estar se perguntando se isso é mesmo um problema. Não seria, se isso nos bastasse. Não há nada demais em sair com os amigos, ‘curtir as baladas’, conhecer pessoas diferentes, participar de vários grupos. Cada pessoa tem uma maneira pessoal de encontrar satisfação e não cabe a nós normatizar esta ou aquela maneira de viver como a ideal. No entanto, o que observamos é um número crescente de pessoas que se sentem sós. O fato de conhecer muitas pessoas, não garante intimidade ou cumplicidade. A quem contaremos nossos segredos? Com quem dividiremos nossas angústias? Conhecer pessoas, se relacionar superficialmente não é de todo ruim. Na verdade, este tipo de relação também se faz necessária no nosso dia-a-dia. Mas, para aqueles que se sentem sós, não seria válido experimentar vez ou outra relacionamentos mais estáveis e profundos?Não é a negação das relações superficiais, mas sim o restabelecimento das relações mais profundas. Uma condição não exclui a outra. Podemos ter diferentes tipos de relacionamento, com diferentes pessoas. Todos eles serão importantes. É gostoso não ter compromisso, por algum tempo. Mas esta opção de vida não tem apenas delícias. Como já dissemos, a solidão, o sentimento de ter sido usado ou mesmo sentimentos de rejeição, são muito comuns. Por outro lado, estar compromissado com alguém implica em responsabilidades pelo outro e com o outro, exige dedicação e tem inúmeros pontos negativos. Todavia, não podemos esquecer das delícias de uma relação mais próxima, que permite confiar em alguém, dividir segredos (às vezes, pesados demais para carregarmos sozinhos), ter alguém que ria ou chore conosco, poder assistir a um filme em um dia chuvoso, comendo pipoca e falando bobagem. Não estamos dizendo que um é melhor que outro. Não há como fazer isso. Na verdade, este texto não é uma apologia às tradições e convenções, mas sim uma oportunidade para refletirmos. Será que não estamos nos enganando? Até que ponto somos livres? Poderíamos estar sob o comando não de uma ditadura da não-vinculação ao outro, mas do uso do outro? Estas questões não serão respondidas por mim, mas podem ser um estopim para que todos nós possamos repensar o modo como nos relacionamos.Carolina é Psicóloga Clínica (CRP 08/10883) e mestranda em Análise do Comportamento pela Universidade Estadual de Londrina.

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