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domingo, 14 de setembro de 2025

Alunos da UNIGRAN têm o privilégio de assistir a ‘500 Almas’

04/05/2006 14h49 – Atualizado em 04/05/2006 14h49

Decom

Depois de Dourados, cidade onde se criou o cineasta Joel Pizzini, o filme “500 Almas” ficará uma temporada no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. O filme premiado no Festival de Gramado, em 2005, e visto por poucos brasileiros em outros festivais de cinema, não deverá ser exibido nos grandes circuitos nacionais. Mas lá fora, o longa-metragem que fala da história dos índios Guatós – milenar povo pantaneiro, julgado extinto nos anos de 1960 – é valorizada como obra de arte. Além dos Estados Unidos, o filme participa de prestigiosos eventos na Alemanha e em outros países da Europa, nos próximos meses. E esse já é terceiro filme de Pizzini a alcançar prestígio internacional.O cineasta ficou notabilizado pelos curtas-metragens Caramujo-Flor (1998), obra inspirada no poeta sul-mato-grossense Manoel de Barros, e vencedora de festival na Espanha, e Enigma de Um Dia (1996), selecionado para a Bienal de Veneza. Pizzini também assina Glauces – Estudo de um Rosto (2002) e Abry (2004), e ensaios biográficos feitos para o Canal Brasil, entre os quais estão Um Homem Só, sobre o ator Leonardo Villar, Paulo José, Auto-Retrato Brasileiro e Retrato da Terra, sobre Glauber Rocha. Seu filme mais recente é Dormente – ensaio sobre a espera – e o mais popular é O Evangelho, Segundo Jece Valadão. “500 Almas”, produção de belíssima fotografia e grande riqueza humanística, que levou cinco anos para ser acabada, é o seu primeiro longa-metragem.O documentário “não-documentário”, como o autor o define – porque o roteiro de “500 Almas” escapa dos padrões lineares das narrativas do gênero documentário, apesar de ser um – foi construído sobre registros documentais, lingüísticos e, principalmente, sobre os depoimentos colhidos aleatoriamente de índios visitados em vários pontos do Pantanal. As tomadas dão idéia da imensidão deste mundo de águas onde vivem os Guatós, chamados de índios canoeiros, e as seqüências de imagens encaminham o espectador para uma história de injustiças. Curiosamente, o acervo mais bem preservado da cultura Guató é a do etnólogo Max Schimidt e está na Alemanha, onde também foram feitas várias filmagens. As seqüências – que vão e vêm na história, sem grande preocupação com a linha do tempo nem com referências espaciais exatas – são quebradas aqui e ali por diálogos rápidos, depoimentos, gravações feitas por lingüistas há algumas décadas e por textos históricos e filosóficos interpretados pelo ator principal Paulo José, e pelos coadjuvantes Matheus Nachtergaele e Stefanie Lars. “É um filme etno-poético, de um conteúdo social que não caberia numa forma acadêmica”, disse o autor, explicando que o filme foi todo produzido em película, ao invés do uso da tecnologia digital, por exemplo. A escolha foi feita para apreender o máximo possível as cores da natureza pantaneira que, segundo o diretor, são muito difíceis de se reproduzir no cinema. “O filme é narrado pela luz”, definiu Pizzini.Injustamente, “500 Almas” ainda não recebeu o mesmo reconhecimento dado pela crítica internacional, nem mesmo na terra dos Guatós. Só foi possível realizar duas sessões do filme em Dourados, e em uma delas os acadêmicos dos cursos de Artes Visuais, Pedagogia, Letras, Publicidade e de Jornalismo da UNIGRAN, lotaram a Sala 3 do Cine Ouro Branco, na quarta-feira da semana passada. “A produção é linda e, além de ser um filme super bem-produzido, é um enriquecimento para todas as pessoas que dizem que conhecem a cultura indígena, mas na verdade não a conhecem e têm muito que aprender ainda”, declarou a estudante do 2º ano de Jornalismo Tamires Aguilera Guilherme. Para a professora Maria Cristina Ruiz Benito, foi um privilégio assistir ao filme que é ao mesmo tempo uma aula de artes e estética, de antropologia cultural e história, e de técnicas narrativas e cinematográficas. “Todo o filme é trabalhado em função da luz, da textura, da questão extremamente artística; esse trabalho é muito importante para gente, principalmente, sabendo que o autor é daqui”, disse a professora, comentando o valor desse documentário também para os cursos de formação de professores: a idéia que o filme transmite é do respeito às diferenças culturais e ao modo de vida dos índios.O documentário “500 Almas” teve seu roteiro baseado em uma cultura redescoberta pela lingüista Adair Palácio, da Universidade Federal de Pernambuco, em 1972. Os Guatós realmente foram quase totalmente dizimados, com a instalação de fazendas de gado no Pantanal, mas resistiram e hoje, pelo menos, têm assegurada a Ilha Ínsua, na região de Corumbá. Poucos indivíduos ainda falam a língua Guató, que, segundo Pizzini, tem ritmo e musicalidade, característica também muito explorada no filme. Ao final da exibição para o público da UNIGRAN, Joel Pizzini conversou com os alunos, falando sobre os processos de produção, e se disse comovido. Na adolescência, ele foi funcionário do cinema onde seu filme foi bastante aplaudido. “Eu fiquei super-comovido pelo interesse, vibração. As pessoas realmente estava rindo, reagindo, não houve indiferença nenhuma, isso é muito legal em se tratando de um filme desses, que requer pré-disposição para assisti-lo e eu senti essa pré-disposição. Então, para mim foi estimulante, estou muito encorajado a seguir nessa direção”, declarou o cineasta.Joel Pizzini está trabalhando agora na produção de um filme sobre o cantor Nei Matogrosso. (JRA)FICHA TÉCNICA DE “500 ALMAS”.Diretor e roteirista: Joel Pizzini; fotografia: Mário Carneiro; montagem: Idê Lacreta; elenco: Paulo José, Matheus Nachtergaele e Stefanie Lars; produtor: Fernando Dias e Maurício Dias; produtora: Grifa Cinematográfica, 109 minutos, color, 35mm.

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