19/06/2007 08h44 – Atualizado em 19/06/2007 08h44
Marcelino Nunes de Oliveira Quando se começa a escrever a gente acaba entrando num mundo fantástico da literatura vista pelo ângulo interior da história. Há alguns meses recebi uma carta bem escrita e assinada por “Flávia”, com uma narrativa empolgante. Na carta havia o relato de que uma família seria descendente direta do ditador paraguaio Francisco Solano Lopez, morto a poucos quilômetros de Ponta Porã, precisamente às margens do Rio Aquidaban, na localidade de Cerro Corá, que deu fim à guerra da tríplice aliança. Diz a carta: “Li na internet que o senhor é um estudioso da cultura fronteiriça. Minha mãe tem 76 anos e sempre nos conta uma história fantástica a respeito de Solano López. Quem conheceu o meu avô, pai de minha mãe, conta a mesma história, qual seja: Que meu avô era fugitivo da guerra e dizia ser o único sobrevivente da família de Solano López”. Prossegue ainda o relato: “Minha mãe conta que meu avô fugiu do Paraguai com dois empregados e uma grande fortuna. Viveu com os índios e antes de chegar ao Brasil, com medo de uma perseguição, naturalizou-se argentino, excluindo o sobrenome López. Meu avô viveu uma vida de fartura sem nunca precisar trabalhar. Isso nos leva à certeza de que sua família, no Paraguai, realmente era muito rica. Minha mãe conta que ele deixava ela brincar com as peças da viacrucis, em ouro. Que ele contava em detalhes a vida que havia levado com os índios. Falava da morte de um dos empregados ao atravessar um rio. Que no forro das roupas trouxe dinheiro e moedas de ouro”. Narra também: “Contou a minha tia, irmã de minha mãe, que ele antes de morrer entregou-lhe um pergaminho e disse-lhe que aquela era a prova de que elas eram descendentes de Solano López. Minha tia contou-me que guardou tal documento por algum tempo e que um dia resolveu queimar, por achar inútil. Meu avô morreu de tristeza, logo depois da morte de sua linda e jovem mulher. Ele a conheceu quando passou por São Paulo. Ela fugiu com ele, deixando para trás a sua família. Minha tia tinha 13 anos e minha mãe sete anos quando meu avô faleceu. Como não tinham parentes elas foram criadas pelos amigos de meu avô. Esses amigos contaram que a fortuna foi perdida, após a morte da mulher, tudo em jogo. Meu pai sempre nos proibiu de falar sobre isso. Tenho curiosidade em saber mais a respeito de Solano López. Pode ser que meu avô tenha fantasiado toda esta história. Minha mãe e minha tia estão dizendo a verdade”. E finaliza: “O que me intriga era a fortuna que ele trouxe. A riqueza de detalhes. Será possível encontrar a verdade? Quem pode me ajudar? Minha mãe se sente muito triste por não encontrar o elo familiar por parte de seus pais. Já pensei em ir para o Paraguai, mas, na realidade não sei por onde começar. Qualquer orientação será bem vinda. Quero achar o elo perdido da família paterna e materna de minha mãe”. Terminei de ler a carta e, como sempre faço, comecei a traçar um plano para descobrir a veracidade dessa história e desvendar o elo perdido da família Lopez e seus descendentes atuais. Relembrar e entender os momentos finais da sua morte, os enterros, os tesouros, se realmente são verdadeiros ou não. Mas o que mais me intriga é que misteriosamente ‘Flávia’ nunca mais deu noticias, nem um e-mail, nenhuma carta e nem mesmo a carta eu achei mais nas minhas coisas. Ou teria sido apenas um sonho enquanto cochilava depois de ler a história da Guerra do Paraguai? * Marcelino Nunes de Oliveira – Bacharel em Direito, pós-graduado em Metodologia do Ensino Superior, presidente da Câmara Municipal de Ponta Porã e estudioso da cultura fronteiriça. E-mail: [email protected]