29/07/2016 17h43
PUBLIEDITORIAL:Três Lagoas sofre impactos com migração de desempregados e ação de aliciadores
Em tempos de crise e desemprego, ampliação da Fibria impulsionou a economia de Três Lagoas, aquecendo o comércio e gerando novas oportunidades de trabalho no município
Ricardo Ojeda e Ariane Pontes
No mês de maio o Brasil atingiu um recorde, um feito nunca alcançado antes, mas infelizmente uma marca triste e negativa. O País encerrou o último trimestre de 2016 com 11,4 milhões de desempregados. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego começou a subir com força no começo do ano passado, foi para 7,4%, chegou a 8,1, passou para 10,2% e agora atingiu 11,2%.
Uma legião de brasileiros, 11,4 milhões, como um parâmetro da dimensão desse número, o índice representa mais do que a população total de países como a Bélgica (11.250.659), Grécia (10.846.979) e Portugal (10.374.822). É quase uma cidade de São Paulo de pessoas sem ocupação, a capital paulista possui 11.967.825 milhões de moradores, os dados mencionados são do site Wikipédia.
DIAS DIFÍCEIS
Em busca de uma oportunidade de trabalho, essas pessoas estão enfrentando dias difíceis e filas imensas atrás de vagas pelo País. Um dos locais que recebem uma parte desse contingente de desempregados é Três Lagoas. O município possui no momento o segundo maior investimento da iniciativa privada no Brasil, de R$ 7,9 bilhões com o Projeto Horizonte 2, construção de uma segunda linha de produção de celulose na unidade da Fibria em Três Lagoas.
Devido a atual crise, as notícias veiculadas na imprensa regional e nacional divulgam que o município irá criar novos postos de trabalho. Entretanto, essas vagas são diretas e indiretas, considerando toda a cadeia de fornecedores e prestadores de serviços da empresa. E lembrando, ainda, que os empregos vêm sendo gerados desde o início do projeto, que já completou um ano, e continuarão ocorrendo de forma gradativa, ao longo do cronograma da obra. A situação é agravada pela atuação de agenciadores que estão agindo na região Nordeste do país, se passando como recrutadores e falsos agentes de emprego.
Para ter uma ideia da quantidade de colaboradores empregados no Projeto Horizonte 2, um registro do refeitório da empresa. Alguns ainda encontram tempo para exercitar a sua fé, como mostra as imagens abaixo
NA CONTRAMÃO DA CRISE
Um investimento desse porte vai à contramão da atual realidade do País, que vem extinguindo vagas, enquanto no município novos postos são criados. Mas, juntamente com a esperança de um novo emprego e cercados de notícias não tão esclarecidas, aliciadores maliciosos que vendem passagens de ônibus com promessas falsas empregos, notícias falsas circulando em redes sociais com a garantia de emprego certo no município, a cidade vem recebendo centenas de pessoas de vários estados, e até de outros países, procurando trabalho. Ou seja, não há como uma única cidade absorver o número de desempregados de toda uma nação.
Para a maioria dessas pessoas o município representa a chance do tão sonhado emprego, à cidade virou referência nacional e é taxada por muitos como salvadora da pátria para os desempregados. Contudo, a demanda de postos de trabalho não conseguirá jamais atender esse contingente de desempregados do País, mesmo com as criações de posto que vão além das vagas da Fibria, e movimentam toda uma cadeia de fornecedores na cidade e na economia local.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
O Perfil News conversou com empresários e comerciantes do município sobre o atual momento econômico vivenciado. Eles apontam um aquecimento na economia e projetam ainda mais melhorias para o futuro.
Um dos primeiros setores que sentiram o aquecimento são o hoteleiros e alimentação.
Ângelo Mario Prata Tibery, proprietário de um hotel TAJ, de alto padrão, ressalta que a capacidade de ocupação do seu estabelecimento passou de 30% para 70%, e deste total 30% são exclusivamente de trabalhadores ligados ao Projeto Horizonte 2.
“Nosso hotel foi afetado no ano passado com a crise que instalou no País, tivemos redução na ocupação o que ocasionou em baixas na equipe. Mas, com as ampliações anunciadas pelas indústrias, houve uma melhora significativa desde fevereiro. Com isso, todos os setores aquecem”, beneficiando o município, disse Tibery. A empresa teve que ampliar em 30% o seu efetivo para atender a demanda.
MAIS INVESTIMENTOS
O empresário, Luciano Martins Cândido, o “Cabelo”, como é conhecido, investiu pesado na implantação de uma churrascaria de alto nível no município, a obra que iniciou há cinco anos e deverá inaugurar no próximo mês, busca suprir a falta de espaço deste tipo na cidade.
Ele ressalta que só decidiu investir nesse empreendimento por conta dos investimentos que Três Lagoas recebe. “Muitas pessoas que estão ou vem para cidade a trabalho, costumam viajar para municípios vizinhos em busca de locais de alta qualidade, com a inauguração da Churrascaria vamos oferecer essa opção que a cidade ainda não possuía”. Serão criadas cerca de 30 vagas inicialmente para atender a demanda do restaurante, afirma o empresário.
Dentro de no máximo 30 dias deverá ser inaugurada uma churrascaria de alto padrão em Três Lagoas. Serão gerados mais de 30 empregos diretos
MOLA PROPULSORA
Já para Atílio D’ Agosto, presidente da Associação Comercial e Industrial de Três Lagoas, o Projeto Novo Horizonte 2 é muito mais amplo do que as questões momentâneas para o município, será uma mola propulsora da econômica do Estado do Mato Grosso do Sul.
“O Setor Florestal é um dos que mais crescem na economia em um momento de crise, e isso gera além da cadeia interna do município outras oportunidades porque aumentará a capacidade produtiva e o plantio, ou seja, tem que ter mais equipamento, mais manutenção, mais combustível, isso gera oportunidade em áreas técnicas. Com isso surgem vagas que são ocupadas por pessoas de outras localidades, elas precisam morar em algum, aquece o mercado imobiliário, hoteleiro começa a ter um crescimento, o chamado giro econômico”, explicou.
TRÊS-LAGOENSE E A CIDADE
Apesar do momento positivo que a cidade vivencia de desenvolvimento econômico, nem todos três-lagoenses enxergam com bons olhos esta fase.
Alguns citam que as vagas não são para os moradores da cidade e sim para as pessoas de fora, que os benefícios só são sentidos por migrantes.
Outro ponto citado são as transformações negativas que já são percebidas no município, por conta do grande número de desempregados que desembarcam em terra três-lagoense, como problemas sociais entre eles o aumento de moradores de rua.
O presidente da ACI-TL comentou sobre o assunto, as pessoas que vem de fora estão conseguindo extrair muito mais da cidade, do que o três-lagoense que às vezes prefere ficar em sua zona de conforto e reclamar.
Ele aponta que um dos principais problemas enfrentados no município é a falta de qualificação, “Temos cursos disponíveis em órgãos e instituições que não tem complemento de vagas. Às vezes são tirados da grade porque gera um custo manter um horário e um profissional qualificado para ministrar aulas”, enfatizou.
PERSPECTIVA DE FUTURO
Seguindo na contramão de diversas cidades brasileiras, as perspectivas para o futuro em Três Lagoas são as melhores, além do Projeto Futuro, outras indústrias já anunciaram ampliação na cidade.
A Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul (Fiems) implantará em Três Lagoas o Instituto Senai de Biomassa (ISI Biomassa), ele será referência internacional em pesquisa nessa área. No Brasil existem apenas sete institutos na área química, em TL terá um voltado para pesquisa, ciência e tecnologia. Orçado em R$ 20 milhões, a construção será na área onde funcionava o Departamento de Obras e Serviços (DOS), no município.
Atílio comenta que Três Lagoas ainda não deslumbrou o futuro promissor pelo qual o município passará, “Muitas pessoas nem sabem que teremos um instituto deste, dessa grandiosidade. Já temos empresas interessadas em vir para cidade, por conta do Instituto”.
“A bolha econômica da cidade começou a ter uma aceleração, apesar de ser um segmento cíclico, existe uma curva geométrica muito grande, que irá diminuir, porém esse crescente vai sempre gerar tecnologia e desenvolvimento para o município”, finalizou o presidente.
TRÊS PILARES
De acordo com o gerente de DHO – Desenvolvimento Humano e Organizacional do Projeto Horizonte 2, Arnaldo Milan, esclareceu que realmente, desde a divulgação do Projeto, em maio de 2015, foi anunciado a geração de empregos diretos e indiretos ao longo de todo o projeto. “Vamos considerar três grandes pilares: primeiro já estamos movimentando o comércio local, movimentando a economia, como padarias, hotéis, supermercados, restaurante, farmácias, etc., que abriram e contrataram novas pessoas para atender à crescente demanda. A cidade já está movimentada e isso é geração de emprego provocada pelo projeto. Segundo são as vagas geradas para o trabalho criado na obra e, o terceiro, e tão importante quanto os outros é o último pilar, que são as oportunidades de trabalho que serão geradas na operação contínua, ou seja, após a conclusão das obras”, explicou.
O gerente da Fibria ressalta “É importante que as instituições de forma geral e os munícipes tenham essa visão de todo esse impacto, na borracharia, no hotel, e em outros diversos serviços. A nossa parte está sendo feita, que é gerar oportunidades para profissionais e empresários”, afirma.
LEGADO
A obra tem início, meio e fim, e já está na metade. E para o gerente, o principal legado da obra de expansão da Fibria inicia após o término das obras. “Três mil vagas de emprego, diretos e indiretos, serão geradas quando a nova linha de produção de celulose da empresa entrar em operação. São vagas permanentes, com data de início, mas sem data de término. “
Questionados quanto a situação do município que sofre com o número excessivo de pessoas que vem de diversas regiões do país e dormem em frente ao Centro Integrado de Atendimento ao Trabalhado (Ciat) em busca de uma vaga, Arnaldo comentou que qualquer número que Três Lagoas gere de trabalho é mínimo comparado ao número de desempregado no país
“Sabemos da situação no Brasil, e do processo migratório para cá. Vivemos em um País livre, com direito de ir e vir. Em busca de uma vida melhor muitas pessoas estão vindo para Três Lagoas. Mas não podemos ser responsabilizados por gerar vagas e gerar desenvolvimento”, finalizou.












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