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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Navalha na carne: Motim no presídio de Ponta Porã expõe precariedade do sistema penal em MS

Agente penitenciário que foi feito de refém relata os momentos de angústia após passar 10 horas na ponta de uma faca ameaçados pelos presidiários e pôr fim a sua libertação e os agradecimentos aos policiais    

A situação carcerária no Mato Grosso do Sul é um caldeirão de pressão que pode explodir a qualquer momento. As autoridades responsáveis pelo setor fazem pouco ouvido à situação que vai se agravando conforme vai aumentando a população carcerária.

Navalha na carne: Motim no presídio de Ponta Porã expõe precariedade do sistema penal em MS

Um exemplo disso aconteceu no sexta-feira passada, no dia 1º do ano, onde três detentos da unidade penal Ricardo Brandão, em Ponta Porã, fizerem de refém um agente penitenciário. Os presos usaram de uma faca artesanal para ameaçar o servidor que ficou sobre ameaça dos três elementos por mais de 10 horas. A situação ficou muito tensa, exigindo muita habilidade para negociar a crise e a liberação do refém.

SITUAÇÃO EXTREMA

A exigência dos presos rebelados era serem transferidos para outras unidades prisionais que ofereçam melhores condições. Se não fosse pela situação extrema que procederam os detentos, até que eles estão certos na reivindicação. Vejamos: a capacidade do presídio de Ponta Porã é de 324 presos, porém atualmente a unidade tem uma lotação de 620 internos, ou seja, o dobro da capacidade.

O mais absurdo da situação que a unidade de Ponta Porã dispõe de cinco agentes penitenciários para fiscalizar toda população carcerária. ÀS vezes, a Polícia Militar colabora, fazendo a fiscalização armada nos muros, porém não é sempre que esse efetivo fica à disposição.

LETARGIA DA AGEPEN

O presidente do SINSAP – Sindicato dos Agentes Penitenciários, André Santiago vem percorrendo o Estado para conseguir equilibrar essa situação, através do processo de capacitação dos servidores para fazer a fiscalização externa e das guaritas das unidades prisionais, porém a letargia da AGEPEN não permite a agilização do processo, acusa o líder sindical.

Navalha na carne: Motim no presídio de Ponta Porã expõe precariedade do sistema penal em MS

Durante a crise que se instalou na unidade de Ponta Porã, tão logo tomou conhecimento, Santiago saiu de Campo Grande para o município fronteiriço, aonde chegou no início da noite e lá ficou acompanhando toda a negociação que só encerrou na madrugada de sábado, com a libertação do agente e a transferência dos três presos para Campo Grande.

APOIO PSICOLÓGICO

O SINSAP prestou toda a assistência para o agente penitenciário e sua família que veio de Dourados para acompanhar a negociação de perto. O sindicato custeou todas as despesas, além de oferecer ajuda médica psicológica. “Era o mínimo que podíamos fazer”, disse Santiago.

Passado o susto e já restabelecido em sua casa na cidade de Dourados, o servidor penitenciário, Marcelo Barbosa, redigiu uma nota de agradecimento no qual a reportagem divulga com exclusividade a íntegra do texto, a seguir.

DESABAFO E AGRADECIMENTO

Chega aquele momento na vida em que aprendemos a dar valor no que realmente importa, e nesse momento a palavra de toma conta de mim é GRATIDÃO, nós não temos tempo para perder com lamúrias.

Ao passo que os eventos iam ocorrendo e que o desespero tomava conta de mim, começavam a chegar os colegas que tentavam de alguma forma findar a situação, aquilo me acalmava, após a chegada do COPE, e percebendo toda a movimentação eu agradecia a Deus por estarem lá, o pessoal do CHOQUE que chegou logo depois foi me dando a certeza de que tudo daria certo. Também tenho imensa gratidão pelo BOPE e seus negociadores que a cada momento mostrava uma real preocupação em resolver a situação com perícia e um profissionalismo que jamais havia visto.

Estar em uma situação, como a que ocorreu no dia 01 de janeiro, me fez avaliar a importância de cada um desses profissionais, o empenho que fora colocado em cada momento e a sincronicidade em que cada um trabalhou.

Na verdade, nem nós mesmos que estamos dentro da segurança pública, em um dos trabalhos mais perigosos que existem, conseguimos vislumbrar a dimensão de um trabalho como o que foi realizado naquele dia, na verdade apesar de que estamos o tempo todo preparados para que algo assim ocorra, nunca chegará nem perto da realidade, mas para os companheiros que trabalharam naquele dia, o treinamento,  o estudo e o psicológico estavam sob controle, que equipe meu Deus, desde os Policiais de Segurança, os Policiais das operações especiais e os demais que ali estavam.

Nunca  serei capaz de recompensar o que essas pessoas fizeram por mim e pela minha família, eu gostaria de poder agradecer a cada um pessoalmente, mas creio que isso não será possível, então, ofereço a todos os profissionais que estavam presentes, aqueles que estavam fora, mas na expectativa, os meus amigos que lá estavam e outros que chegaram depois, aos Policiais Penais, Policiais Militares, Policiais Civis, Departamento de Operações de Fronteira, as forças especiais, COPE, CHOQUE e BOPE, Corpo de Bombeiros Militar, além da OAB e Jornalistas e especialmente ao presidente do Sindicado da Polícia Penal que estavam presentes, eu lhes ofereço a minha vida, que por vocês foi garantida e resguardada. Também ao secretário de Justiça e Segurança Pública, Carlos Videira pelo apoio.

A lição que fica é como é importante o trabalho em conjunto das forças de segurança, a necessidade de valorização imediata daqueles que saem de suas casas em um feriado para arriscar sua vida e o futuro de suas famílias em prol da sociedade, a valorização da vida e das pequenas coisas, e principalmente a GRATIDÃO por mais um dia de vida e o sentimento de que não ficaram pontas soltas. Foi feito exatamente o que precisava ser feito sem nenhum “E SE?”

A todos, MINHA ETERNA GRATIDÃO!

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