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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Ibá homenageia Erling Lorentzen

Espírito inovador e com sustentabilidade em seu DNA. Norueguês foi um dos responsáveis pelos avanços do setor de árvores cultivadas nacional

A Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) prestou homenagem a Erling Lorentzen, pioneiro e visionário do setor de árvores cultivadas, que morreu hoje, aos 98 anos.

Empresário norueguês radicado no Brasil, Erling Lorentzen é reconhecido por sua marcante atividade empresarial e socioambiental. Foi fundador e presidente da Aracruz Celulose, na década de 1970, tida como a primeira fábrica de celulose em linha do Brasil.

Erling Lorentzen nasceu em Oslo, Noruega, em 28 de janeiro de 1923, e aos 17 anos, durante a Segunda Guerra Mundial, comandou um pelotão da resistência norueguesa contra os alemães. Em 1945, quando a guerra terminou, Lorentzen foi aceito em Harvard, nos Estados Unidos. Casou-se com a princesa Ragnhild da Noruega, a filha mais velha do rei Olavo V e da princesa Marta da Suécia, em 1953, com quem teve três filhos, Haakon, Ingeborg e Ragnhild. Veio ao Brasil em decorrência dos negócios da família no segmento de transporte marítimo. Chegando aqui, viu oportunidades para investir em gás (GLP). Adquiriu, da norte-americana Esso, a distribuidora de gás de cozinha e, em seguida, abriu sua própria companhia de navegação, a Norsul.

Mas foi na década de 1960 que Lorentzen iniciou sua enorme contribuição para o setor de árvores cultivadas. Fundador da Aracruz Celulose, o norueguês começou a dar corpo ao projeto com o plantio florestal, que previa a exportação de cavaco. Buscando agregar valor e gerar riqueza com a industrialização, o executivo sugeriu o desenvolvimento de uma indústria local de processamento de celulose.

Obstinado, não se intimidou com as desconfianças da época ao idealizar a então maior fábrica, com 400 mil toneladas. Até mesmo Ernesto Geisel, então presidente da República, chegou a questionar o projeto. Segundo anedota que o próprio executivo contou várias vezes, inclusive para a revista O Papel de 2015, Geisel teria comentado “se devia apoiar esse louco norueguês que está insistindo em fazer uma fábrica de celulose no Espírito Santo”. Não só deu certo como a Aracruz foi a primeira empresa brasileira listada na Bolsa de Valores de Nova York e a única empresa florestal do mundo a participar inicialmente do Índice Dow Jones de Sustentabilidade.

Engajado no desenvolvimento do setor, buscou sempre mecanismos para diminuir os impactos ambientais, como redução do consumo de água, de uso de químicos e de emissão.

Erling Lorentzen foi um dos grandes líderes empresariais do mundo na questão de sustentabilidade, afirma Carlos Roxo, ex-Diretor de Sustentabilidade da Aracruz, por ele contratado em 1990. Seu esforço foi além dos muros da empresa e alcançou escala global, tendo sido, junto com Eliezer Batista, um dos pioneiros da criação do Business Council for Sustainable Development (atual WBCSD), que lançou o livro Change Course na Conferência do Rio em 1992, com propostas avançadas que tiveram grande impacto no evento, como a precificação dos recursos naturais. Como membro do Comitê Executivo do WBCSD, foi o inspirador do estudo “Sustainable Paper Cycle”, feito de forma independente pelo IIED – International Institute for Enviroment and Development, com diversas recomendações que tiveram grande importância para o setor florestal, como a criação do Forest Solutions Group no próprio WBCSD, reunindo as mais importantes empresas florestais do mundo, e o The Forest Dialogue (TFD), grupo de diálogo entre empresas florestais e ONGs.

No Brasil, Lorentzen e o Eliezer criaram o Conselho Empresarial de Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), e embora sem sua participação direta, o TFD serviu de modelo à criação do Diálogo Florestal e da Coalizão Brasil Clima Agricultura e Florestas.
Carlos Aguiar, que foi presidente da Aracruz e da Fibria, articulou a criação da Ibá e trabalhou de perto com Erling Lorentzen, conta que sempre chamou atenção a visão estratégica que ele tinha. Perseguiu a inovação e imprimiu uma cultura de busca de novos usos e de desenvolvimento de novas tecnologias a partir da árvore cultivada. Esse DNA inovador ainda é visto até hoje.

“Lorentzen sempre foi um visionário, pioneiro, empreendedor, incansável e, sobretudo, um homem do futuro. Sustentável, íntegro, transparente e humano, levou o nome da Aracruz/Fibria e do Brasil para o mundo. Fez muito pelo setor de celulose do Brasil, introduzindo o eucalipto em larga escala no mercado mundial, cuidando do social, do meio ambiente, da tecnologia e, acima de tudo, do crescimento das pessoas e dos negócios. Ele é dessas pessoas que jamais envelhecem em suas ideias e jamais desistem do progresso para todos”, disse.

Segundo o comunicado que o filho Haakon Lorentzen acabou de divulgar para os colaboradores do Grupo Lorentzen, fazer diferença em um Brasil tão carente era um dos objetivos do seu pai. Segundo o depoimento, seu pai dizia que “media seu desempenho não por parâmetros meramente financeiros, mas sim pela quantidade de empregos de qualidade criados e pelo impacto no desenvolvimento econômico para a sociedade em geral”.

Do time Aracruz que conviveu com Lorentzen, Walter Lídio, que posteriormente foi presidente da CMPC, se emociona ao relembrar o importante investimento social que o executivo impulsionava para a gestão. “Exemplo de liderança, Lorentzen sempre teve um olhar para o futuro e isso passava por entender a importância das pessoas, do cuidado com o social, dos colaboradores e da comunidade. Com essa abordagem trouxe muito para o Brasil, com simplicidade, confiança no próximo e motivação de fazer mais”, disse citando um projeto que o executivo começou a desenvolver em Gana, buscando gerar emprego na região.

Após mais de 30 anos de atuação na gestão da Aracruz Celulose, o Grupo Lorentzen vendeu em 2008 a sua participação para o Grupo Votorantim, criando a Fibria. Hoje, após a fusão concluída em 2019, faz parte da Suzano.

Para Paulo Hartung, presidente da Ibá e ex-governador do Espírito Santo, o exemplo de Lorentzen de empreendedorismo, busca por sustentabilidade, visão empresarial, representa um marco importante não só do setor, mas também para o Brasil e para a indústria mundial de celulose. “Hoje o setor de base florestal emprega mais de 3,75 milhões de pessoas no Brasil, é líder mundial em exportação e é protagonista no investimento em novas aplicações e novos produtos de base florestal. Só chegamos até aqui, pois tivemos na nossa fundação líderes como Erling Lorentzen, que mudou o paradigma de um país exportador de commodities sem valor agregado e sem industrialização, inovou no entendimento de que o valor precisa ser compartilhado com a comunidade e com o meio ambiente, e que se não nos anteciparmos ao futuro, ficaremos no passado”, disse Paulo Hartung.

(*) Assessoria de Imprensa da Ibá

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