O Perfil News falou com exclusividade com pecuarista que vendeu fazenda para a construção da fábrica e com empreendedores do município, que aguardam ‘boom’ na cidade
Uma grande movimentação está acontecendo em Bataguassu, principalmente após o anúncio feito pelo Governo do Estado de Mato Grosso do Sul e a Prefeitura de Bataguassu que o município será sede da nova fábrica de celulose da Bracell, um dos maiores investimentos privados da história do Brasil, estimado em cerca de R$ 16 bilhões. A instalação da unidade promete não apenas transformar o cenário industrial da cidade, mas também impactar profundamente a vida de seus moradores.

OTIMISMO E ENTUSIASMO
A equipe do Perfil News foi até Bataguassu para conversar com quem já sente os efeitos dessa transformação. De produtores rurais a pequenos empresários, todos demonstram otimismo e entusiasmo com as novas possibilidades. Um desses personagens é o médico e pecuarista Marcos Tavares, proprietário da fazenda onde a fábrica será instalada. Também ouvimos comerciantes como Olga Gerhardt, proprietária do tradicional Restaurante da Olga, e Vanessa Prette, que trocou a advocacia para empreender com a mãe na produção de salgadinhos.
A seguir, confira os relatos que ajudam a contar essa nova fase de Bataguassu com entrevistas exclusivas de quem aguarda pelo grande ‘boom’ econômico do município.
NA HORA CERTA
“Estava no lugar certo, na hora certa”: Marcos Tavares fala sobre a venda da Fazenda Luso-Brasileira para a instalação da Bracell
A reportagem visitou a Fazenda Luso-Brasileira, a cerca de 9 km da área urbana de Bataguassu, onde, segundo o Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), será construída a nova unidade da Bracell. O proprietário, Dr. Marcos Tavares, médico e pecuarista, recebeu nossa equipe com a cordialidade de quem conhece bem a história da cidade.
“São 65 anos de história nessa propriedade. Foi aqui que construí uma vida simples, modesta, cercada daquilo que sempre valorizei: trabalho e tranquilidade. A verdade é que eu estava no lugar certo, na hora certa”, disse, ao comentar a venda do terreno para a empresa que representa a Bracell.
Marcos, que já foi até candidato à prefeitura de Bataguassu, explicou que apesar do apego à fazenda, reconhece o valor da transformação que esse investimento trará ao município. “Esse projeto não vai mudar só o perfil econômico de Bataguassu, mas de toda a região. O impacto será gigante. Vamos ter mais empregos, mais oportunidades, mais movimento. Vai beneficiar todo mundo.”
A localização estratégica da fazenda, próxima ao Lago da Usina de Porto Primavera — fonte de captação de água para a indústria — e sua topografia favorável, foram determinantes para a escolha do local. Mesmo com o contrato de confidencialidade assinado, Marcos afirma ter plena consciência do valor histórico da decisão.
“A empresa que adquiriu aqui tem outro nome, não posso divulgar detalhes. Mas pelas informações que circulam, essa vai ser a maior indústria de celulose do mundo. Imagina isso aqui, esse chão, esse pasto, virar um marco na história de Bataguassu?”
Apesar da venda, ele garante que não pretende parar. “Eu não sou homem de praia. Não vou sossegar. Continuo com planos na pecuária, nas parcerias com transferência de embriões. Parar é envelhecer mais rápido.”
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Olga Gerhardt: do barro ao restaurante referência, empresária celebra aumento de 40% no movimento
No coração da cidade, um prédio moderno abriga o Restaurante da Olga, um dos mais conhecidos pontos de alimentação de Bataguassu. A empresária Olga Gerhardt, proprietária do local, nos recebeu com a casa cheia. Ela conta que, mesmo antes do anúncio oficial, já percebia um aumento no fluxo de clientes — muitos com crachás da Bracell.
“Há um ano e meio inauguramos esse prédio novo. Quando começamos, muitos diziam que era grande demais. Mas hoje eu vejo que Bataguassu merecia esse espaço. E já está ficando pequeno de novo”, brinca, sorridente.
Segundo Olga, desde a confirmação da instalação da fábrica, o movimento em seu restaurante aumentou cerca de 40%, e ela já se prepara para ampliar a equipe. “A nossa maior preocupação agora é com mão de obra. Já está difícil encontrar pessoal qualificado. Mas estamos nos organizando. A cidade vai crescer e a gente quer crescer junto.”
Com 13 anos de atuação no ramo, Olga começou atendendo trabalhadores da BR-267, e hoje vê seu negócio se tornar referência para os executivos e colaboradores da nova indústria.
“É emocionante ver tudo isso acontecendo. Quando comecei aqui era tudo terra. Hoje vejo pessoas vindo de fora, gente nova todo dia, e tenho o prazer de receber todos com o mesmo carinho. É um orgulho fazer parte dessa nova fase de Bataguassu.”
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Vanessa Prette: da advocacia à fábrica de salgadinhos — o empreendedorismo que cresceu junto com a cidade
Quem também viu sua vida se transformar com a chegada da Bracell foi Vanessa Prette, que trocou a advocacia para trabalhar com a mãe, Elza, na fábrica de salgados da família. “Tudo começou na cozinha da casa da minha mãe, por necessidade. Era ela e um fogãozinho, fazendo salgadinhos para vender. Tudo na boca a boca, sem redes sociais, sem propaganda. Cresceu devagar, mas com amor.”
Durante a pandemia, Vanessa se uniu ao negócio. Com audiências suspensas, ela propôs abrir uma loja no centro da cidade. A ideia parecia ousada, mas foi abraçada pela mãe — com uma condição: que Vanessa ficasse ao lado dela.
“De início eu disse que ajudaria só até as coisas engrenarem. Mas me apaixonei. Hoje não advogo mais, trabalho na empresa e tenho orgulho do que construímos juntas.”
Hoje, a empresa emprega 11 pessoas e já se prepara para contratar mais. Vanessa conta que a ideia dos salgados no copo — sucesso de vendas — foi recebida com ceticismo, mas ela insistiu. “Diziam que aqui em Bataguassu não ia colar. Mas eu quis tentar. E hoje é nosso carro-chefe. Então, o que eu digo para quem quer empreender aqui é: acredite. Bataguassu tem potencial. E agora, com essa nova indústria, vai ter ainda mais.”
TRANSFORMAÇÃO À VISTA
Com a audiência pública marcada para o próximo dia 29, quando será apresentado o Estudo de Impacto Ambiental à população, Bataguassu se prepara oficialmente para virar um novo capítulo de sua história. A expectativa é que entre 10 e 12 mil trabalhadores passem pela cidade durante as obras da fábrica, que promete colocar o município em destaque no cenário industrial nacional e internacional.
Enquanto isso, pessoas como Marcos, Olga e Vanessa seguem sendo os protagonistas dessa nova fase: aqueles que acreditaram, investiram e cresceram junto com a cidade. O futuro chegou — e começou com histórias como essas.